sexta-feira, 29 de maio de 2020

A busca, o encontro, e a fartura

Por Jânsen Leiros Jr.
 

"1 Ó Deus, tu és o meu Deus; ansiosamente te busco. A minha alma tem sede de ti; a minha carne te deseja muito em uma terra seca e cansada, onde não há água. 2 Assim no santuário te contemplo, para ver o teu poder e a tua glória. 3 Porquanto a tua benignidade é melhor do que a vida, os meus lábios te louvarão.  

4 Assim eu te bendirei enquanto viver; em teu nome levantarei as minhas mãos. 5 A minha alma se farta, como de tutano e de gordura; e a minha boca te louva com alegres lábios. 6 quando me lembro de ti no meu leito, e medito em ti nas vigílias da noite, 7 pois tu tens sido o meu auxílio; de júbilo canto à sombra das tuas asas.8 A minha alma se apega a ti; a tua destra me sustenta.

Salmos 63:1-8 - ARA

 O desejo, diria Platão em uma de suas obras mais conhecidas, O Banquete[1], é a busca por aquilo que nos falta. Segundo o filósofo, o desejo parte da carência pelo que não encontramos em nós mesmos ou pelo que não possuímos. E se não temos, ou não possuímos, logo buscamos, para suprir a carência. Quanto maior a carência, maior o desejo. E quanto maior o desejo, maior e mais intensa é a busca pelo objeto do desejo.

 Considerando tal afirmação, se eu desejo aquilo que não tenho, e se busco pelo que desejo, também podemos afirmar que ninguém deseja o que já tem, e, portanto, não busca, já que por ter, não o deseja, não o anseia. O anseio é fruto da carência. Pode parecer repetitivo ou mesmo óbvio, mas vale a pontuação dessa lógica, porque voltaremos a ela mais adiante.

 

No texto que lemos acima, o salmista declara buscar ansiosamente. Em algumas traduções ele diz buscar intensamente, em uma demonstração clara de que sua carência por Deus é imensa e profunda. Ele sofre a ausência de Deus. Ele sente falta. Ele está carente de Deus e por essa razão seu desejo o conduz a uma busca ansiosa e intensa. De tal modo, que ele se diz sedento, como que em uma terra seca e cansada. Uma terra onde “não tem água”, ele afirma, demonstrando que não só tem sede de Deus, como também não há qualquer outra fonte da qual pudesse lançar mão para mitigar a falta que lhe consome. “Minha alma tem sede de ti”.

 Trazendo um pouco de histórica para nossa leitura, quando compôs este salmo, Davi se encontrava no deserto de Judá, fugido da guarda do rei Saul que buscava matá-lo. Ele se encontrava em ambiente de profunda perplexidade e penúria. Certamente faltava-lhe de tudo: comida, segurança, conforto, e principalmente água. No deserto a carência se fazia sentir em quase todas as demandas naturais da vida. Davi, porém, não declara ou não lamenta a ausência por nenhuma dessas coisas naturais e obviamente necessárias à qualquer pessoa. Ele poderia dizer eu tenho sede de água, ou eu sinto falta de um bom bife com batata frita. Ou poderia ainda reclamar que precisaria dormir em uma cama aconchegante e na segurança de sua casa. Não que Davi não considerasse essas coisas bem-vindas. Certamente tais privações o incomodavam, e passava por sua mente o dia em que poderia voltar a satisfazer-se de todas elas. Mas uma carência era ainda mais incômoda; a falta da presença de Deus. “Ansiosamente te busco”.

 

Note que, ao declarar a falta que Deus lhe faz, Davi demonstra uma dependência vital de sua relação com Ele, a ponto de dizer sentir sede de Deus, e que onde se encontra, não há qualquer opção de ser saciado daquilo que somente Deus poderia oferecer. “É uma terra seca” e, portanto, sem vida. Mais que isso. Davi está pedindo socorro. Pois se sente sede de Deus e não há como saciá-la, ele irá morrer. Davi sabe que sem Deus, não terá a menor chance de seguir vivendo, ainda que todas as demais necessidades e carências lhe fossem supridas, já que é da transcendência de Deus, que nos alimentamos da perspectiva da superação. “Minha alma tem sede de Ti”, é como se o salmista dissesse É de Ti, ó Deus, que preciso. E de mais nada, e de mais ninguém.

 Há uma curiosa e aparente incoerência na fala de Davi, logo no início do salmo. “Ó Deus, tu és o meu Deus”. Ora, se Deus é o Deus de Davi, se ele assim O considera, como pode então dizer-se sedento e carente de alguém com quem afirma ter relação? Os dois versículos seguintes, nos dão pistas importantes. “Recordo-me dos dias em que te contemplei no santuário, para me embeber do teu poder e da tua glória” (v. 2 - KJA). A tradução da King James Atualizada aponta para uma lembrança citada por Davi, relativamente àquilo que sentia e vivia na presença de Deus antes do deserto, quando participava da adoração a Deus no santuário. Davi está falando de instantes de devoção e relacionamento com Deus que, no deserto, ele não consegue ter. Isso é tremendamente revelador.

 A comparação de Davi não está querendo dizer que Deus não pudesse estar ali com ele, no deserto, já que ele O encontrava sempre no santuário. Davi estava se referindo exatamente ao exercício contínuo e pleno do seu relacionamento com Deus, que até então ele entendia somente ser possível no santuário, de modo que Lhe sentia ausente no deserto, porque ali, até então, não o havia buscado com empenho. Logo a Ele, o seu Deus. Crescido no meio de um povo para quem o tabernáculo, uma espécie de santuário nômade era a morada de Deus, e portanto o lugar onde poderia ser encontrado, Davi leva um bom tempo sofrendo a carência da presença de Deus.

 

Nos versículos 2 e 3, portanto, Davi demonstra perceber-se de que a sede que ele declara sentir, está muito mais perto e possível de ser saciada do que imaginava. E em lugar de lamentar-se pela carência, a lembrança da presença de Deus e de sua relação com Ele o enche de confiança, trazendo paz ao seu coração, e fazendo-o descansar em relação ao seu medo de morte. “Minha alma tem sede de ti”; “a Ti eu busco dia e noite”. Mas na verdade eu já te encontrei. “Porque tens sido o meu socorro”. Mesmo fora e distante do santuário, onde eu achava que estaria longe, teu cuidado tem me protegido. Por essa razão é que ele podia, “à sombra das tuas asas”, cantar louvores de alegria. Tu estás comigo. Eu te encontrei, Senhor meu e “meu Deus”.

 Davi precisou entender que não era Deus quem não estava com ele, mas que ele, Davi, é que não enxergava que Deus seguia caminhando ao seu lado, mesmo em meio aquele deserto árido, de terra seca e sem água. Davi sentia sede de um Deus presente, porque ele próprio não percebia as evidências de seu cuidado e de sua presença, que se traduzia nas mais efêmeras e imperceptíveis realidades da vida cotidiana, por mais difíceis e desfavoráveis as circunstâncias que estivesse atravessando.

 Davi então buscou Deus e o encontrou. Como quem anseia por água, dia e noite, ansiosa e intensamente o buscou e o encontrou. E como foi que o encontrou? Pedindo, buscando, clamando. “Ó Deus, tu és o meu Deus”. “Todo o meu ser anseia por ti”; quer estar contigo, tem vontade de estar em tua presença. Eu te busco porque te desejo, te quero, tenho vontade de estar contigo. E se eu quero tanto, logo busco.

 

É muito importante atentarmos para o que significa buscar. Nossa sociedade ocidental não tem tradição no desenvolvimento da vontade. Trabalhamos a vontade como um desejo estático, que sonha com alguma coisa que pode fazer bem, mudar mesmo a vida, mas que, quase sempre, está fora do alcance. Temos por hábito entender a vontade como um sonho irrealizável, ou uma utopia; um desejo além do possível ou provável.  Ah! Se eu ganhasse na loteria, viajaria pelo mundo inteiro; ou ainda se eu trabalhasse na empresa tal, minha vida seria bem mais fácil. Uma ilusão apenas. Um sonho fugaz, uma vez que nem eu jogo na loteria, e nem estudo para tornar-me o profissional adequado para o quadro da empresa tal. Da mesma forma, em relação à comunhão com Deus, vivemos a olhar as estrelas. Ah! se Deus me desse atenção, ou se eu fosse um escolhido por Ele, adoraria estar em sua presença. Davi não faz assim. Muito pelo contrário.

 Querer é agir na direção do desejo. E Davi quer Deus. Ele o busca “dia e noite”, “intensamente”. Algumas traduções trazem “de madrugada”, evidenciando o empenho e o esforço empreendido pelo salmista em sua busca. Afinal, entende Davi, Deus sempre esteve com ele; sempre próximo. É ele quem precisa sair de si mesmo e ir ao Seu encontro. Ele deseja. Ele quer. Ele buscará. Não esperará cair do céu.

 Confiança é uma atitude de esperança ativa, estimulada pela narrativa bíblica em diversas passagens; realização demanda esforço. “Esforça-te”[2], “levanta... e anda”[3], “sem fé é impossível agradar a Deus”[4]. A fé nos impulsiona na direção de nossa esperança. Foi assim com os amigos do paralítico, que destelharam o local onde Jesus estava[5]. A mesma atitude teve a mulher siro-fenícia para ser curada[6]. Por isso o salmista busca dia e noite, e de madrugada. Ele se dispõe a Deus e o reconhece em seus caminhos[7].

 

Por que não buscamos? Por que atravessamos nossos desertos com o discurso retórico de que estamos indo como Deus quer, em flagrante demonstração de desistência de nós mesmos, ou de nossos sonhos? Somos fracos de vontade. Somos fracos de querer. O mundo moderno nos incute a ideia da felicidade a toda prova, e isso nos faz fracos diante de qualquer circunstância que nos infelicite. Não está gostoso joga fora, não agradou troca, se te incomoda afaste-se. Tudo precisa ser prazeroso sempre, sem qualquer dor ou custo. Talvez por isso o jovem rico tenha se entristecido ao ser desafiado por Jesus. Ele até cogitou seguir o Mestre. Achava querer isso. Mas diante do custo que tal decisão teria para ele, sua vontade fraca o fez abandonar seu fraco querer.

 Mas quem pode garantir que a busca por Deus pode me fazer encontrá-lo? Quem garante que meu esforço e empenho nessa direção poderá me colocar em sua presença? Porque eu oro e nada acontece, poderá dizer alguém. Rezo, e tenho a sensação de estar falando sozinho, afirmarão outros tantos. Ora, quem garante que nossa busca por Deus será recompensada é o próprio Deus.

 

 "17 O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.

Salmos 51:17 - ARA

 

 "5 Porque tu, Senhor, és bom, e pronto a perdoar, e abundante em benignidade para com todos os que te invocam.

Salmos 86:5 - ARA

 

 "18 Perto está o Senhor de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade.

Salmos 145:18 - ARA

 

 "12 Porquanto não há distinção entre judeu e grego; porque o mesmo Senhor o é de todos, rico para com todos os que o invocam.

Romanos 10:12 - ARA

 

Se então na busca por Deus é possível encontrá-lo, logo o meu desejo é saciado e a carência por Deus termina, certo? Sim. Então não há mais desejo por Ele? Não. Calma. Não fiquei louco. Acontece que desejo saciado não gera desprezo, mas apreço. Se ocorresse desprezo, logo voltaria a carência e então reacenderia o desejo. Porém o encontro com Deus finda a busca motivada na carência, mas desperta o apreço, que mantém viva uma relação de presença permanente. “A tua graça é melhor que a vida”. “Como em um banquete, na tua presença a minha alma se farta”. “A minha alma se apega a Ti”. Assim, se antes a carência me impulsionava para a busca, agora o prazer do encontro e da presença de Deus me preenche de um jeito tal, que não quero jamais deixar de vivê-la. Se antes eu tinha sede, agora a satisfação transborda. É isso! O encontro com Deus provoca satisfação transbordante. “Meus lábios te louvam”; “a ti bendirei”; “em teu nome levantarei as minhas mãos”.

 

 "35 Declarou-lhes Jesus. Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim, de modo algum terá fome, e quem crê em mim jamais terá sede.

João 6:35 - ARA

 

 "35 Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva.

João 7:38 - ARA

É isso, “pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á”[8].

A verdade é que quem busca encontra. E se encontra se satisfaz, porque dessedenta a alma. E se para cada busca, um encontro, para todo encontro, fartura.



[1] O Banquete, é um diálogo platônico escrito por volta de 380 a.C.. Constitui-se basicamente de uma série de discursos sobre a natureza e as qualidades do amor (eros). O Banquete é, juntamente com o Fedro, um dos dois diálogos de Platão em que o tema principal é o amor. - https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Banquete

[2]  Josué 1:7 - ARC

[3]  João 5:8 - ARA

[4]  Hebreus 11:6 - ARA

[5]  Lucas 5:18-20 - ARA

[6]  Lucas 8:43-48 - ARA

[7]  Provérbios 3:6 - KJA

[8]  Mateus 7:7

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Cristão. Modo de existir


Por Jânsen Leiros Jr.


"11 Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós.12 Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós. Os discípulos, o sal da terra.13 Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. 14 Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte;15 nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa.16 Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.
Mateus 5:11-16 - ARA


"23 senão que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e tribulações.24 Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus.
Atos 20:23-24 - ARA

O mundo sempre se apresentou desafiador e extremamente hostil ao cristão. Isso é até muito comum e não tem qualquer novidade nisso. Mas a pós-modernidade vem se demonstrando ainda mais desafiadora, à medida que as sutilezas de suas investidas e as camuflagens de suas armadilhas, se tornam muito parecidas com promoções piedosas de espiritualidade e fé. E em tempos de mundo líquido[1], certezas insofismáveis se diluíram em oportunas relatividades, que colocam em xeque a solidez de nossas convicções.

Acrescenta-se a isso, que com o avanço tecnológico e a acessibilidade oferecida pela internet, temos à disposição um vasto cardápio de alimentos para a alma. Sem muito esforço, podemos ler quase tudo sobre qualquer coisa que se apresente como espiritual. Podemos ouvir diversos pregadores de variadas linhas teológicas, e até mesmo os que não têm linha alguma. É possível ainda, mesmo quando não buscamos absolutamente nada, sermos alcançados por múltiplas possibilidades de conteúdo gospel, que lutam por nosso interesse e adesão.

Ora, em um mundo de ofertas e oportunidades, vence a concorrência por nossa atenção, as promessas de vida de abundâncias, de prosperidade financeira, de alegria perene, de mimos de Deus, e de bençãos sem medida. Tudo adornado com uma aparente piedade, que tenta camuflar a centralidade humana aplicada, que nenhuma outra coisa busca, senão a satisfação dos próprios interesses, das conveniências mais prementes, e até de desejos mais inconfessáveis. Sim, porque afinal, Deus nos honra.

Mas pensem. Quem, faminto, não estenderá a mão ao primeiro pedaço de pão que se lhe oferece? Ou mesmo quem, com fome, diante de um banquete apetitoso, não irá tratar de se saciar, sem nem mesmo perguntar sobre o preparo da comida? Acontece que, ao nos refestelarmos com os alimentos fermentados oferecidos por lobos, acabamos por rejeitar a refeição servida pelo Cordeiro. Afinal, estamos satisfeitos e talvez até de barriga cheia.

Sim. Porque se vivemos em um mundo caótico, onde a dor e a angústia invariavelmente nos assola, como não nos sentirmos muito mais atraídos por aqueles que dizem pare de sofrer, em vez de seguirmos quem nos diz que a nós nos esperam cadeias e tribulações? É certo que escolhemos a vida apelativamente mais feliz, e optamos por dias menos sofridos.

Acontece que esse não é o caminho oferecido por Jesus. Nunca foi! Esse não é o modo de existir dos cristãos. Ao contrário de uma vida de mimos, barganhas e recompensas materiais, a mensagem para nós sempre foi bem outra: No mundo tereis aflições[2], e bem-aventurados sois quando vos perseguirem. A recomendação é que escolhamos a porta estreita e o caminho apertado[3], e ainda que peguemos cada qual a sua cruz[4] e o sigamos... para a morte.

No sermão da montanha, não é sem razão que a declaração de que devemos ser sal e luz está na sequência das perseguições e das injúrias. Não podemos fugir do que somos, para escaparmos das consequências. Não podemos perder nossas características que nos distinguem, ou mesmo nos escondermos para evitar sermos vistos. É nosso dever salgar e iluminar, conservar e apontar o caminho. Denunciar e anunciar - papel primordial de profetas. Somos chamados a testemunhar, ainda que por tal testemunho nos seja dificultada a vida, como foi a muitos no passado e ainda o é, a cristãos espalhados pela África, Oriente Médio e Ásia, sem contar as perseguições nossa de cada dia.

Qual é o sentido de nossa existência como Igreja? E qual o propósito da nossa comissão, se não testemunhar com confiança, ousadia e coragem? Do contrário, poderia tudo ficar como estava antes da cruz. O mundo longe de Deus, e todos nós ocupados com nossas vidas fugazes, atrelados a instituições religiosas, e entregues à satisfação de nossas consciências e à vaidade humana.

Se como afirmou o apóstolo João, Deus é amor[5], tal amor se traduziu em entrega doadora e incondicional. Logo concluímos que Deus é doador, e importa que seus adoradores o adorem em espírito de doação. Assim, minha existência não pode ter outro sentido, senão o da plena e desmedida doação, de entrega efetiva, e de empenho na tarefa de ser sal e luz. Custe o que custar. Aliás, como diria Davi, não ofereçamos a Deus aquilo que não nos custe[6], ainda que nos custe a vida.

Se esperamos em Deus apenas para essa vida, nos diria o apóstolo Paulo, somos os mais miseráveis dos homens[7]. Mas para além disso ele mesmo também diria que em nada devemos ter a vida por preciosa, porque, na verdade, o viver é Cristo e morrer é lucro[8].

               Portanto, não podemos ser ociosos no trabalho do Reino. O sentido de existir do cristão é trabalhar em testemunho. É denunciar o pecado de se dar as costas a Deus, e anunciar o seu perdão em Cristo. Enquanto é dia. A noite vem, quando ninguém poderá trabalhar[9]. Enquanto há em nós fôlego de vida e disposição para o serviço. Pois logo a noite de nossas existências chegará, e nada mais haverá para fazer. E o que duramente acumulamos em nossos celeiros, para o quê servirá?


[1] Expressão cunhada pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que tratava das diluições das sólidas e comunitárias visões de mundo, em favor de um pensamento individual e conveniente desse mesmo mundo.
[2]  João 16:33
[3]  Mateus 7:14
[4]  Lucas 9:23-24
[5]  1 João 4:8
[6]  2 Samuel 24:24
[7]  1 Coríntios 15:19
[8]  Filipenses 1:21
[9]  João 9:4

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