Provérbios - Lição XII



Provérbios 6:1-5 - ARC


1 Filho meu, se ficaste por fiador do teu próximo, se te empenhaste por um estranho, 2 estás enredado pelos teus lábios; estás preso pelas palavras da tua boca. 3 Faze pois isto agora, filho meu, e livra-te, pois já caíste nas mãos do teu próximo; vai, humilha-te, e importuna o teu próximo; 4 não dês sono aos teus olhos, nem adormecimento às tuas pálpebras; 5 livra-te como a gazela da mão do caçador, e como a ave da mão do passarinheiro..


O capítulo 6 de Provérbios quebra a seqüência de ensinamentos do sábio, incluindo advertências isoladas, sobre as quais tentaremos jogar alguma luz separadamente, dada a complexidade apesar de tamanha obviedade.

Ao reprovar o ato de assumir fiança a terceiros, diferentemente do que faz em outros ensinamentos, o sábio aqui não declara a motivação intrínseca de sua advertência. A "prisão" ao compromisso é conseqüência do acordo de garantia, mas não chega a explicar o sentido moral de tal orientação.

Comparando com outras ocorrências de fiança no texto bíblico, talvez nos seja possível encontrar algumas pistas mais adequadas, como, por exemplo, em Gênesis 43:9, quando Judá se coloca pessoalmente como garantidor do retorno do irmão caçula, quando da segunda viagem ao Egito para comprar alimentos. Como conhecemos o fim da história, sua atitude talvez nos passe despercebida em meio a narrativa. Porém Judá, por sua atitude, viu-se em apuros quando José, encenando aborrecimento pelo suposto roubo de um de seus pertences, ameaçou manter Benjamim preso como escravo, libertando todos os demais. Judá ofereceu sua liberdade em troca do retorno do irmão, pois talvez não conseguisse viver com a culpa da garantia não cumprida ao próprio pai. De modo que ter-se dado por fiador do retorno de seu irmão, custaria a Judá a própria liberdade, sua vida em família, e provavelmente todos os seus planos e perspectivas.

Partindo do ocorrido com Judá, talvez o sábio queira dizer que não é possível a nenhum ser humano dar garantias sobre a vida, o comportamento e as atitudes de qualquer outro, já que nem mesmo das suas pode ser garantidor pleno; o bem que quero fazer não faço, mas o mal que eu não quero, esse é o que faço, dirá Paulo mais tarde, reconhecendo a dificuldade de alinhar a própria conduta com seus princípios morais.

Ora, se ao homem é difícil garantir a própria conduta por vício de atitude, inclinado que é ao pecado, como garantir que terceiros agirão corretamente, pagando suas dívidas e honrando compromissos firmados. Garantir atitudes de outros é, portanto, uma imprudência decorrente da arrogância de um pretenso domínio que efetivamente não existe; o das contingências e do imponderável. Pois ainda que o terceiro afiançado seja probo em suas atitudes, está ele ainda vulnerável às circunstâncias e fatos, que alheios à sua vontade, poderão impedir-lhe honrar com a dívida, transferindo assim o compromisso e o pagamento ao seu fiador garantidor.

Comparativamente ainda, outras passagens do texto bíblico apontam para fianças, essas sim aceitas e inquestionáveis; Jó clama a Deus para que seja seu fiador diante de Si mesmo, pois ninguém haveria de lhe estender a mão (Jó 17:2-4), e Jesus, que é o fiador de Deus junto aos homens (e não o contrário), garantindo-lhe sacerdote eterno (Hebreus 7:22). Ainda o salmista clama a Deus que lhe seja fiador diante dos homens para o seu bem (Salmos 119:122).

Entendemos assim, que apenas Deus pode afiançar, garantir, ou assumir responsabilidades em lugar de alguém, pois o domínio de todas as coisas lhe pertence. Ser fiador do que não podemos garantir, é partir de uma condição de iminente descumprimento com o compromisso assumido. Não temos poder nem domínio necessário para garantir nada; para afiançar que determinada coisa se dará dessa ou daquela maneira.

Diante de tal imprudência, portanto, o sábio sugere que haja grande empenho em livrar-se do compromisso assumido indevidamente. Sem orgulho ou adiamento, livre-se dele como quem luta pela própria vida, pois é ela que corre perigo, caso reste ao fiador, a responsabilidade de arcar com a dívida do seu próximo.

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