domingo, 29 de outubro de 2023

O Livro de Jó - Desafio Transformador

 Por Jânsen Leiros Jr.



 "É uma atitude presunçosa comentar sobre o livro de Jó. Ele está repleto da realidade temível do Deus Vivo. Como Jó, somente se pode por a mão na boca (40:4). Deus, porém, Se revelou conservando, ao mesmo tempo, o mistério inacessível da Sua própria existência. Devemos, portanto, tentar esta coisa impossível que Ele toma possível (Mc 10:27). Por mais medo que Ele cause, Ele nos fascina irresistivelmente até que, mediante “a bondade e a severidade” (Rm 11:32), nos leva à própria maneira, à satis[1]fação e alegria finais de Jó. A história de Jó é um convite e um guia para descobertas como a dele. É especialmente o livro para quaisquer pessoas que se acham “no dia da doença de Jó” como resultado dalguma experiência abaladora.” 

JÓ - Introdução e Comentário

De Francis I. Andersen

Pág. 8; prefácio do autor

 Sempre que somos colocados diante de questões complexas, temos a tendência de, ou minimizar tal complexidade desconcertante, ou eleva-la a um grau de exigibilidade e pertinência, que eventualmente está muito além de nossas parcas capacidades para desvendar. Relativamente ao livro de Jó não é diferente. Muito pelo contrário! 

Se a tarefa teológica de comentar livros bíblicos já é por si só desafiadora, já que falamos de textos antigos, contextos remotos, e de culturas passadas com pouco ou nenhum registro histórico-científico confiável, imagine quando tal tarefa se concentra em um livro em que as poucas fontes se tornam ainda mais escassas, ou não existem na prática. Esta é a realidade de quem se pretende a desafiar Jó.

 Diante de tal circunstância, penso que o professor Francis, de quem emprestamos o texto acima, tem toda a razão ao afirmar ser uma atitude presunçosa partir para um estudo deste livro. Mas considerando que tal presunção não o impediu de enveredar-se por este caminho – e ele mesmo tornou-se uma das boas referências sobre o assunto, devo acreditar que o desafio se lhe tornou prazeroso em bem pouco tempo ao partir em sua jornada, pois o que vemos em seu comentário é um estudioso encantado com suas descobertas, muito mais do que academicamente ocupado em extrair obviedades do texto. Seria esta a parte do temor e fascínio que ele mesmo afirma sentir? Talvez, mas penso que daqui, da porta, não será possível respondermos esta questão. Então é melhor entrarmos. Você é meu convidado.

  Quando propus aos meus alunos o tema Jó entre outros livros do Antigo Testamento, houve plena unanimidade em sua escolha como tema para o novo período de estudos. Penso que eles não imaginavam no que estavam se metendo. Mas confesso que eu também não. Porque, sem querer dar spoiler sobre as questões que já já debateremos, posso adiantar que poucas vezes em minha razoavelmente adiantada experiência cristã, estive tão confrontado em meus instintos religiosos mais básicos, primitivos e equivocados. Andei sobre a linha tênue que divide uma legitima vida piedosa, do ufanismo religioso hipócrita, muito comum e de grande oferta em nossos dias.

 
Assim, lembrando que todos os nossos registros aqui constituem uma obra aberta, posto que sustentada em convicções transitórias sempre em busca de melhores percepções, convido você a inaugurar uma jornada inquietante por este livro tão desafiador, revelador, e sobretudo transformador. Aliás, esta foi a sensação principal do próprio Jó ao sair do outro lado do túnel que atravessou; “antes... mas agora”. Porque, no final das contas, texto que apenas informa e não transforma, embrulha o peixe.

domingo, 12 de março de 2023

Antegosto da Glória

Por Jânsen Leiros Jr.

 

3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, 4 para uma herança incorruptível, incontaminável e imarcescível, reservada nos céus para vós, 5 que pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé, para a salvação que está preparada para se revelar no último tempo; 6 na qual exultais, ainda que agora por um pouco de tempo, sendo necessário, estejais contristados por várias provações, 7 para que a prova da vossa fé, mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde para louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo; 8 a quem, sem o terdes visto, amais; no qual, sem agora o verdes, mas crendo, exultais com gozo inefável e cheio de glória, 9 alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas.

1 Pedro 1:3-9 – ARA

 A capacidade de enxergar além do que nossos olhos alcançam, parece, desde sempre, uma das grandes dificuldades de nossa existência. O que não vemos ou não podemos tocar, provocam curiosidade, e até alguma perplexidade, diante da tentativa de vislumbre do além; quer seja do nosso, em particular, quer seja do mundo como o conhecemos. Sem sombra de dúvida, a pergunta universal que há milênios mais perturba a humanidade é: existe vida para além da vida?

É impossível não considerar que, ao longo de nossa história, nossa existência teve sua dinâmica alterada diversas vezes e por múltiplas influências. E é claro, as percepções e perspectivas a respeito da vida e de sua continuidade para além "do sono", foram revisitadas a cada novo contexto, à medida que os anseios e conclusões da humanidade concernentes à vida, foram se ajustando à sua realidade e premências.

Não muito diferente do que acontece hoje, a preocupação primeira e comum nas diversas sociedades desde a antiguidade, era conquistar uma feliz vida boa. A vida que valia à pena ser vivida. Longa, tranquila e próspera. Nesta direção e com esse propósito, tudo o mais se realizava dia após dia. Longevidade, com dias tranquilos e razoável prosperidade, foi e ainda é sinônimo de felicidade e sucesso na vida. Muitos foram os trilhos utilizados ao longo dos séculos. Mas o destino a se alcançar foi quase sempre o mesmo.

Com o passar do tempo, vez por outra alguém atravessava essa ideia de vida boa, com conceitos divergentes e até mesmo assustadores, pois fugiam dos padrões tão consagrados, e aos conceitos tão convenientemente construídos. Alguns foram até mesmo taxados como loucos, ou no mínimo como sonhadores. Ora, alguns personagens na narrativa bíblica se colocaram como expoentes desse rompante contrário ao "duradouro, sereno e compensador", e caminharam na contramão do que se considerava razoável

Tais personagens, apesar de experimentarem circunstâncias confortáveis, que naturalmente tendenciavam ao sucesso, entenderam que a existência humana, ou pelo menos as suas existências, precisariam buscar um sentido além ou muito além e adverso daquele a que haviam se proposto antes do click inquietante; a centelha do além. Além de tudo isso aqui, além de mim aqui, além da vida que vivo aqui.

Abraão deixou tudo. Moisés deixou tudo. E tantos outros abandonaram o que tinham ou o que eram, para se abandonarem em um caminho novo, desconhecido e sem quaisquer garantias tangíveis. Tudo movido pelo desejo de ir além. Afinal, a vida, por melhor que estivesse, não podia ser apenas aquilo. Salomão que o diga! Temos então, que alguns poucos, em toda nossa história, olharam para a vida que há além da vida, e buscaram ver, ouvir, sentir, e até tocar, no que existe para além do instante da morte.

Muito já se especulou, portanto, quanto ao que acontece após a temida morte; mais temida hoje que outrora. E entre os cristãos também há muitas especulações, já que diferentes e até divergentes interpretações, provocam variadas teorias sobre o que é e onde se dá a vida que teremos além da vida que temos.

Lamentavelmente, posso afirmar categoricamente, que ninguém, quer seja leigo, quer seja o mais preparado dos teólogos, conseguirá fechar conceito minimamente perto do que efetivamente viveremos. Afinal, nem olhos viram nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano, o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Algumas pistas, no entanto, bem podemos seguir, acompanhando o que o texto bíblico em todo o seu conjunto, nos apresenta sobre novos céus e nova terra.

É disso que nos ocuparemos nas próximas duas ou três quintas-feiras. Vamos buscar possibilidades e trabalhar na construção de algumas convicções. A ideia não é nem de perto fecharmos questão sobre o tema que é tão amplo e controverso. Mas é, sem qualquer sombra de dívida, nos proporcionar o mais apetitoso, saboroso e inspirador, antegosto da gloria.


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