Provérbios - Lição XIV




Provérbios 6:12-19 - ARC


"12  O homem vil, o homem iníquo, anda com a perversidade na boca, 13 pisca os olhos, faz sinais com os pés, e acena com os dedos; 14 perversidade há no seu coração; todo o tempo maquina o mal; anda semeando contendas. 15 Pelo que a sua destruição virá repentinamente; subitamente será quebrantado, sem que haja cura. 16 Há seis coisas que o Senhor detesta; sim, há sete que ele abomina: 17 olhos altivos, língua mentirosa, e mãos que derramam sangue inocente; 18 coração que maquina projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal; 19 testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos."


O sábio mantém suas advertências numa seqüência que acredito interligar um apontamento a outro, como se o todo não deixasse de falar de um mesmo personagem imaginário, sobre quem se faz alusão como sendo uma terceira pessoa. Um estilo diferente de orientar, que descansa, de certa forma, o modelo de advertência direta, utilizado até o final do capítulo cinco.

O homem vil e iníquo, que em algumas traduções utiliza homem de Belial e vil, é um perverso contumaz que age ostensivamente para realizar o mal, determinado que está a aniquilar tudo e qualquer coisa que não lhe seja proveitoso ou conveniente. Um homem que tem prazer no mal que realiza. Alguém que prefere o mal ao bem. Uma predileção diabólica.

As características desse homem iníquo, são descritas por alguém que se deteve a observar suas atitudes. Alguém que acompanhou esse homem realizando suas perversões, registrando suas atitudes, seus maneirismos e sinais. Sim sinais, porque tal homem perverso, não só age com vilania, como bem se utiliza de outros tantos que a ele se juntam na realização de suas perversidades; o engodo, o engano, a trapaça, os acordos mentirosos. Como possivelmente um contrato de fiança em que terceiros servem de testemunhas dos valores e prazos de pagamento acordados, por que não?

O homem vil é aquele que se dá à maldade e à perversidade por preguiça de trabalhar e ganhar seu sustento honestamente. Sim, porque agir de forma correta, proba, requer trabalho, desgaste, suor. Fazer o que é certo requer atitude diligente e perseverante. É muito mais fácil fazer a coisa errada. O mal é sempre um atalho utilizado por alguém, no intuito de atingir aquilo que pretende, porém sem esforço ou trabalho. Claro, fosse o mal mais trabalhoso que o bem, se faria o bem, quanto mais não fosse, por preguiça.

É importante perceber que o perverso todo o tempo maquina o mal. Ele gasta tempo articulando sua trama. Tem prazer em ser enganoso, influente, manipulador. Tem em mente as expressões certas, o tom adequado de como falar, domina e controla todo o teatro de sua maldade, mexendo os dedos, torcendo a boca, riscando o chão com os pés. Utilizando-se de toda sorte de estratégias combinadas previamente com seus comparsas, para enganar o inocente e conquistar seu objetivo.

Não é sem motivo que ele é chamado de perverso e iníquo, ou mesmo de homem de Belial, nome que mais tarde será utilizado para designar o próprio diabo. Esse vilão social repugnante traz em seu traço de personalidade e comportamento, as atitudes que Deus mais abomina como recorrentes em alguém. E aqui é importante ressaltar que seis... e sete, como também três... e quatro, que veremos mais à frente, não são números exatos. A idéia do estilo, não podemos esquecer que estamos lendo uma literatura poética, é apresentar uma lista que apenas relacionará aquilo que afirmará em seu conteúdo. Ou seja, aqui a lista tem sete coisas. Em outro lugar quatro. Poderia mais tarde ter uma ou vinte. O conteúdo do ensino define a quantidade de itens da relação.

De qualquer forma, as sete atitudes abomináveis caracterizam sem qualquer falha um homem iníquo, de cuja perversidade se utilizará de uma ou outra características relacionadas, senão de todas, dependendo da circunstância e do objetivo. Confesso que deveria resistir ao desejo de comentá-las separadamente, dado o objetivo principal desse pequeno comentário livre. Mas peço perdão. Irresistivelmente, iremos a eles:

Olhos altivos - a expressão flagrante e perceptível da soberba; primeira atitude de descolamento social e de afastamento espiritual de Deus. O Senhor resiste ao soberbo. A soberba faz de qualquer pessoa uma ilha, isolando-a da realidade. Nada é mais importante para ela, do que ela mesma. Portanto se satisfará sempre, custe o que custar.

Língua mentirosa - antes de tudo uma língua descompromissada com a verdade. A expressão língua mentirosa não se refere a uma mentira isolada, mas a um hábito corriqueiro e preferivelmente utilizado como estilo de vida e interação com o outro. A soberba requer a mentira e necessita dela, pois mascara a realidade que a soberba não quer ver ou precisa esconder. A língua mentirosa está pronta para dizer até alguma verdade, caso essa lhe seja conveniente, quando aplicando algum golpe mentiroso, ou dissimulando alguma observação mais prudente de sua vítima.

Mãos que derramam sangue inocente - pois não há nem pode haver qualquer impedimento ou barreira para o objetivo do perverso. Nem a vida. Muito menos de outro. Ainda que inocente e normalmente do inocente, pois preferivelmente é a vitima de sua vilania. No pensamento do soberbo o inocente ganha outro apelido; o otário, o mané ou trouxa.

Coração que maquina projetos iníquos - e aqui há uma alusão interessante. O ato iníquo não parte da mente. Não é um plano racional. É emocional. É pretendido preferivelmente a qualquer outra possibilidade justa, e atende a um desejo, e não a uma necessidade fisiológica ou carência de sobrevivência. Ele maquina o mal para saciar um desejo irresistível pela maldade. A perversidade é seu deleite.

Pés que se apressam a correr para o mal - porque não pode perder tempo. O prazer que a perversão lhe causa é um deleite a que se apressa em proporcionar a si mesmo. Todo seu ardil e vilania atende a esse prazer, e por isso não há tempo a perder. Há sempre alguém louco para ser enganado, roubado ou morto, pensa o perverso em sua perversidade.

Testemunha falsa que profere mentiras - se a mentira já um estado natural da língua do iníquo, testemunhar falsamente não lhe é nenhuma dificuldade. Muito pelo contrário. Testemunhar falsamente para obter algum lucro, é mais do que natural para esse homem. Aliás, o falso testemunho é parte do seu teatro de ações malévolas. Eles mentem sobre acordos, valores, prazos, pagamentos. As testemunhas destes atos mentem sobre os fatos, beneficiando o iníquo e prejudicando os inocentes. Será que não conhecemos situações semelhantes?

O que semeia contendas entre irmãos - e por fim o diabo. Sim, porque há algo mais diabólico do que semear a discórdia? O perverso prefere o caos. É o seu ambiente ideal, onde não há entendimento nem boa vontade entre ninguém. Normalmente, enquanto o iníquo semeia discórdia entre os outros, ele mesmo se mostra como o amigo próximo e oportuno, tirando proveito do momento e afastando as pessoas entre si. E quanto mais afastadas e armadas uma contra as outras, mais longe estarão de uma possível resistência conjunta contra o perverso. A estratégia do mal é dissolver o bem. Impedir a unidade. Por isso é tão bom e agradável os irmãos vivendo em união. É sempre mais difícil romper o cordão de três dobras.

Não é sem motivo que a destruição de tal indivíduo será repentina e sem recuperação. Repentina porque a soberba não lhe permitirá sequer notar qualquer aproximação de risco ou do fim de sua vilania. Ele está sempre confortável em seu castelo de horrores, sentindo-se seguro protegido pela montanha de maldades, muro de vergonha que construiu. Não haverá cura, porque o arrependimento não lhe é possível, não lhe é próprio. Na verdade entende seu revés apenas como momentâneo, e resultante de algum equívoco em seu planejamento do mal. Articulará melhor da próxima vez, pensa, enquanto avalia suas perdas. O mal será sempre seu objetivo.

Por fim, é importantíssimo ressaltar um detalhe. Ainda que o alerta seja quanto a um personagem imaginário, no qual o sábio moldou todas as características do perverso, no fundo seu discurso não deixa de ser uma advertência ao seu discípulo, a quem logo adiante voltará a falar diretamente. Portanto o alerta cabe a nós, a todos nós. O conjunto das características do homem vil esteve reunido em um só personagem, mas bem pode se manifestar isoladamente em nossos comportamentos cotidianos; atitudes essas que precisarão sempre ser evitadas e banidas do nosso dia a dia.

Que estejamos sempre alertas para que a iniqüidade jamais se manifeste em nossas atitudes, e em nosso relacionamento com o próximo.

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