Sempre digo


O que ninguém entende
será que alguém percebe?
O que se fala não se escreve
e o que escrevo nem
sempre digo
E quando digo o contrário
do que escrevo
embora escrito conforme dito?
Não são enigmas
não são mentiras
nem são falácias
São verdades ditas
às avessas
que de verdade tudo têm
e nada escondem
Mas há de se querer ler
de se querer entender
de se querer aceitar
O que revelo me liberta
o que anuncio me arrebata
e o que confesso me redime
Ninguém pode dizer
que eu nunca disse
ninguém a lamentar
que não avisei
Se o óbvio não fica às claras
não tenho culpa se não desenho
Se eu falo e ninguém ouve
se eu digo e não há quem escute
Um cego e outro surdo
feitos de um pretenso obtuso
Há quem prefira não ver
há quem prefira não ler
há quem me fira e acuse
Não há de existir
quem condene
Junho 2015

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