domingo, 31 de janeiro de 2016

Bom ou mau? Velhas indagações modernas inquietações


Por Jânsen Leiros Jr.


" 3 Porque proclamarei o nome do Senhor; engrandecei o nosso Deus. 4 Ele é a nossa Rocha, suas obras são todas perfeitas, e seus caminhos todos, justos. Deus é fiel, e jamais comete erros. Deus é bom, sábio e justo! "
Deuteronômio 32:3-4 - KJA

" 18 Certo líder judeu indagou-lhe: “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” 19 Questionou-lhe Jesus: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um, que é Deus!."
Lucas 18: 18-19 - KJA

Mais uma vez recebi um questionamento bastante interessante, em que nosso interlocutor questionava, entre muitas coisas, por que Deus estava deixando sua mãe partir... Morrer. Era perceptível a dor que lhe dilacerava o peito. Não era pra menos. E se já não bastasse a dor daquela perda, outra questão lhe perturbava: Estaria ele se tornando um herege, porque volta e meia passava por sua cabeça o pensamento que questionava: Se Deus é bom, como pode permitir que nos aconteçam coisas más e profundamente doloridas. Será que ele tem prazer em nosso sofrimento? Chegar a pensar nisso lhe causava dor sobre dor.

Ora, era então preciso lhe demonstrar que a elucubração é um exercício mais do que natural e recorrente no ser humano. Pensamos praticamente todo o tempo, e em muitos casos, pensamos no que pensamos, avaliando a pertinência de pensamentos, argumentos e conclusões. Não temos volta e meia a ideia de que nossas conclusões só podem ser maluquices? É porque, pensando sozinhos, quase sempre nos damos o direito de vagar por espaços e dúvidas que não expomos diante de terceiros. Também é por isso que ao pensarmos, ou nos calamos, ou nos afastamos, entendendo que podemos nos trair balbuciando as ideias. Não diz Caetano que de perto ninguém é normal? Creio que ele tenha certa razão.

Passava então a ser minha responsabilidade dizer que Deus é bom, apesar da morte de sua mãe. E que ainda se mantinha bom, apesar de seus pensamentos que entendia serem hereges. Não há punições para questionamentos, só para intenções. Então Deus precisaria ser apresentado bom, e suas inquietações adequadas, ou minimamente aceitáveis. Isso sem usar teologuês insensível, ou gerar polêmica confrontando o pensamento e a exposição de quem pedia socorro. Socorro, por mais distante que esteja da verdade, se é que esteja, deve ser acolhido e não confrontado. Então vamos à resposta oferecida ao leitor.

*   *   *

Questionar sobre a vida é um direito legítimo do ser humano. O pensamento é um exercício que nos faz ser diferentes de zebras, macacos e samambaias. De modo que, pensar e questionar são atos legítimos em qualquer pessoa, qualquer que seja o mote de tal questionamento, qualquer que seja o caminho que fez, faz, ou fará determinado pensamento.

Por isso quando a bondade de Deus é questionada, não há qualquer sacrilégio nisso, pois que exercício genuíno do potencial humano de pensar. É preciso ter em mente, contudo, que sendo a bondade um atributo, aquilo que se refere à natureza inerente e inclinação máxima, ou ela é ou ela não é, não podendo haver em parte. Sim, porque se Deus é bom, ou Ele é TODO bem, ou não é bem algum, ainda que pudesse ser às vezes ou na maioria das vezes bom. Porque se há espaço para algum mal, então ele poderá ser todo mau. Atributos não se estabelecem por proporções. Mas afinal, Deus é bom ou mau?

Gosto da comparação que assisti outro dia, de dois momentos extremos da vida humana; nascimento e morte. É muito normal ao longo da vida sermos comunicados com toda a alegria, do nascimento de filhos de amigos, filhos de parentes, ou mesmo dos nossos filhos. Apreensivos pelas circunstâncias e pelos riscos envolvidos, ao sermos informados de que tudo correu bem, dizemos graças a Deus. E por vezes vi pais e parentes dizerem, com seus rebentos no colo, como Deus é bom!

Mas também ao longo da vida vivemos circunstâncias de dor e de grande tristeza, onde nos questionamos por que Deus deixou isso ou aquilo acontecer? Por que permitiu a morte desse ou daquele ente querido? Por que Deus quis que morresse o meu filho? Falo como quem sofreu tal perda e que ainda sente a dor da ausência. Dor que deverá doer para sempre.

Deus é luz, diria o apóstolo João em uma de suas cartas, e nele não á treva alguma. Isso dizia demonstrando que bem e mal são autoexcludentes, e não podem, por esse princípio, habitarem simultaneamente o mesmo espaço. Portanto Deus é bom ou é mau? Ou será que lhe atribuo o ser bom ou ser mau conforme as circunstâncias que vivencio? Ou será que Ele é bom ou é mau, dependendo do que me agrada ou me aborrece? Afinal, Deus é bom ou é mau? Ou nós é que vivemos como crianças birrentas, colando n'Ele adesivos infantis que variam conforme nosso humor, consoante as próprias conveniências?

Nunca houve qualquer promessa de "blindagem" da vida, por Deus ser bom ou ser mau. Nada a isso jamais se condicionou. Sequer sua fidelidade, que se mantém firme apesar de toda e qualquer circunstâncias. Muito pelo contrário, a Bíblia afirma que a chuva cai sobre justos e injustos, declarando em alto e bom som que Deus não faz acepção de pessoas. À isso há inexorável fidelidade. De modo que todos passamos tudo pelo que um ser humano normal pode passar ao longo de uma vida comum; vitórias e derrotas, ganhos e perdas, nascimentos e mortes. No mundo tereis aflições, disse o próprio Jesus. Viver é inquietante e aflitivo. Mas tenham bom ânimo, pois eu venci o mundo. Esse é outro conforto. E a este se segue que estará conosco até o fim dos tempos.

Essa é uma promessa, e uma promessa redentora. Haverá dor, surgirão dificuldades, os desertos aparecerão ao longo da caminhada; Ele estará sempre ao nosso lado. Sabendo isso, diria o apóstolo Paulo, que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus. É a providência cuidando de seus propósitos e de nosso bem. Deus é mesmo bom, ainda que em meio ao caos, que é mal.

Dói? Eu sei que dói. E dói em mim, como dói em tantos outros. Dói até em outras situações que vão além da dor, e que nos deixam confusos e perplexos. Mas tenha bom ânimo, pois eu venci o mundo, diz Jesus aos nossos corações.

Essa sim é a vida real. Vida que se alterna em fatos agradáveis e desagradáveis. Em circunstâncias fáceis e difíceis de serem superadas. Momentos agradáveis ou ruins de serem vividos. Mas Jesus não deixou de saber de nada disso. Viveu tudo, sendo homem experimentado em dores, para em tudo e por tudo poder nos conduzir à salvação; por meio de sua própria dor. Ora, se o próprio Deus fez questão de pela dor nos conceder a graça da redenção, como não estaria conosco e em nós, nos momentos em que a caminhada fica difícil, e o fôlego para prosseguir parece quase nos faltar?

Tende bom ânimo ele diz e eu repito. Em Cristo nossa momentânea tribulação, se tornará peso de alegria, pois todas as lágrimas serão enxugadas, e todas as explicações nos serão dadas; ou não. Porque também não farão qualquer diferença. O que nos importa ouvir no final? A sua fé te salvou. 

Que o Senhor conforte e abençoe em tudo. Tanto seu coração quanto sua mente. Para que fluindo o pensamento que se renova para transformação das sensações e sentimentos, fortaleça sua fé, aumentando a confiança e convicção em Sua bondade e graça. E que isso lhe conceda um coração grato e devotado, ao que Deus jamais resiste.

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