Exercício 045 - Perdidos e achados


Por Jânsen Leiros Jr


"1 Ora, chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir. 2 E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles.  
3 Então ele lhes propôs esta parábola: 4 Qual de vós é o homem que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto, e não vai após a perdida até que a encontre? 5 E achando-a, põe-na sobre os ombros, cheio de júbilo; 6 e chegando a casa, reúne os amigos e vizinhos e lhes diz: Alegrai-vos comigo, porque achei a minha ovelha que se havia perdido. 7 Digo-vos que assim haverá maior alegria no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.  
8 Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas e perdendo uma dracma, não acende a candeia, e não varre a casa, buscando com diligência até encontrá-la? 9 E achando-a, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque achei a dracma que eu havia perdido. 10 Assim, digo-vos, há alegria na presença dos anjos de Deus por um só pecador que se arrepende"
Lucas 15:1-10 - JFA

Esse nosso exercício bem poderia incluir todo o capítulo 15 de uma vez, já que as três parábolas propostas por Jesus possuem um mesmo pensamento diretor; a recuperação de algo que se perdera. Porém a parábola do Filho Pródigo, que não tem paralelo em nenhum outro evangelho, merecerá especial atenção em nosso próximo exercício, já que variados prismas podem ser utilizados como mote de nossa reflexão.

As duas parábolas sobre as quais trabalharemos aqui, contudo, não são menos importantes. Juntas podem muito bem lançar luz sobre as razões pelas quais Jesus se desdobra em atenção a publicanos e pecadores. Sim, porque ele e seus discípulos haviam sido acusados exatamente disso; andar com gente menor, gente desprezível pela sociedade[1]. Já escribas e fariseus, não podiam se contaminar. Suas purezas rituais eram caras demais para se sujarem com esse tipo de escória, tanto social quanto religiosa[2].

Na lógica daqueles líderes, se Jesus fosse mesmo um mestre aos moldes judaicos, e portanto referendado por Deus e por sua lei, ele jamais teria qualquer contato com tais pessoas. Segundo pensavam, sua pureza o impediria de lidar com eles e com qualquer outro grupo de pessoas, cujo perfil fosse suspeito ou minimamente marginal. Jesus contudo propôs duas parábolas em sequência, que evidenciaram a crueldade e a hipocrisia dos corações daqueles religiosos. Ele utilizou-se do que lhes era caro, importante e familiar; seus recursos e suas posses.

A primeira parábola fala de uma figura do Antigo Testamento muito conhecida dos escribas e fariseus; o pastor de ovelhas. Deus é incessantemente comparado ao pastor, que cuida de suas ovelhas com extremo amor e dedicação[3]. Ora, que pastor poderia ser considerado bom, caso deixasse a centésima ovelha para trás? Aliás, disse Jesus, quem de vocês tendo perdido a centésima ovelha a deixaria para trás? Não fosse pelo cuidado com ela, seria pelo valor que tem como recurso de subsistência. Ora, toda ovelha tem valor e importância para Deus, mesmo as que se perdem.

Na segunda parábola a ilustração é concentrada ainda mais no valor e no custo. Se na parábola anterior, de cem ovelhas uma se perdera, agora de dez dracmas uma havia sido perdida. Um décimo dos recursos daquela mulher se perdera. Aquela décima dracma lhe era muito valorosa. Desfalcaria suas possibilidades, qualquer que fosse o destino traçado para elas. Toda dracma é importante, e aquela mulher revirou a casa por completo, até que a achasse. Não mediu esforços. A exemplo do pastor, agiu diligentemente até que lograsse sucesso em sua busca.

Tanto uma parábola quanto a outra, apontam para a ideia de que todos os esforço são feitos para se buscar e achar o que se havia perdido. E notem, o que se perdera tomou maior importância dos que, ainda que em maior número, estavam guardadas e em segurança. A ovelha perdida está sem cuidado, sem água, sem comida. Corre riscos imensos longe da proteção do pastor. Já a dracma perdida desfalcava a totalidade, de modo que comprometia o sucesso do que se planejava fazer com elas. As outras nove não lograriam o objetivo; a perdida, sozinha e sem uso nada poderia adquirir.

É interessante notar que tanto pela ovelha quanto pela dracma encontrada, houve grande júbilo de ambos os personagens. Um júbilo que não se contentava com a alegria íntima, mas precisava expressar-se e compartilhar felicidade. Não apenas porque ambas apareceram, mas também e principalmente porque houve sucesso do empenho desprendido em buscar e achar, tanto a ovelha quanto a dracma. O encontro com ambas foi a coroação de uma entrega e de um esforço grandioso. Determinação de quem não se poupou no resgate empreendido.

Ora, não importa quem é aquela pessoa de aparência suspeita, incômoda e desconfortável de se ver, ou mesmo de comportamento repugnante. Menos ainda importa a vida daqueles de quem nos aproximamos e com quem convivemos. Pouco importa com quem partimos o pão. Importa é que fomos enviados a viver o evangelho em meio àqueles que se perderam. Fomos enviados como cartas vivas para iluminar e salgar suas vidas; luz e sal enviados para ser farol e sabor. Jesus não só era ouvido por eles. Ele foi acusado de conviver com eles. Mas seu júbilo e sua alegria estava exatamente em poder estar ali, entre eles, buscando e salvando o que se havia perdido.


Refletindo o Exercício

Vivemos envolvidos em atividades que nos mantém sempre juntos e hermeticamente protegidos. Mas o mundo e as pessoas neles, aquelas que julgamos necessitadas da luz e do sal, nos esperam manifestar Jesus em nossas vidas, na realidade de nossos cotidianos. Sentando e comendo com eles. Influindo direta e indiretamente em suas vidas. Pois não se acende um candeeiro e se coloca embaixo da mesa...



[1]  Lucas 5:30
[2]  Lucas 18:11
[3]  Salmo 23

Um comentário:

  1. A maior alegria que o ser humano pode ter e a certeza que Deus está sempre de coração aberto para lhe perdoar, só basta está de coração aberto para se entregar a Deus e se arrepender...

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