I
– História das origens do universo e da humanidade (1:1 – 11:32)
A. A criação do universo e da vida (1:1 – 2:3)
Capítulo 1
Ainda na eternidade...
2 A terra, porém, estava[1]
sem forma e vazia[2]; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito
de Deus pairava por sobre as águas.[3].
[1] (1:2)
estava, hebr. hayetâ
Alguns
teólogos e exegetas sugerem que a tradução aqui pode ser “tornou-se” como em
Js. 14:14; Sl. 114:2 e Jr. 12:8 (Alfalit). Esta palavra, contudo, não se
encontra assim traduzida, neste versículo, em nenhuma versão em português, nem
mesmo na própria Bíblia Alfalit. É ainda pouco provável e aceitável tal
tradução, uma vez que a expressão hayetâ é utilizada como predicativo,
sugerindo condição anterior já não existente: “A terra estava...”, ou “A terra
era...”.
[2] (1:2) sem
forma e vazia, hebr. tohû e habohû
As
outras duas vezes em que estas palavras aparecem em conjunto no texto bíblico,
são em Is. 34:11 e Jr. 4:23. Segundo algumas traduções transmitem,
respectivamente, a idéia de destruição e
ruína sempre em conseqüência do juízo divino. Há uma corrente do pensamento
teológico que vê aqui um registro sub-reptício de que a terra tenha sido
destruída pelo Senhor, quando da rebelião de Satanás e seus anjos (Is. 14:12 e
Ez. 28:12). O verso 2, então, seria a narrativa da recriação do planeta, como
defende o Conceito da Recriação, já citado anteriormente. Tal teoria tenta lançar alguma luz sobre como
se teria dado o juízo de Deus contra Satanás e suas conseqüências no planeta.
Há
porém algumas considerações a se fazer, levando-se em conta alguns princípios sistemáticos no âmbito das
revelações contidas na própria narrativa da criação, com ajuda de alguns outros
trechos do Antigo Testamento.
a) Considerar que a primeira criação possa ter
sido destruída por ocasião da rebeldia de Lúcifer, implica em entendermos uma
certa frustração nos planos divinos, uma vez que após todo o trabalho
criacional, por conta do diabo, Deus seria obrigado a exercer juízo e destruir
toda a sua criação a ponto de deixá-la um caos, para o qual, segundo Isaías,
ela não foi criada (Is. 45:18).
b) Caso isso fizesse parte dos planos de Deus,
que relação teria com a humanidade, que foi e é o objetivo final da criação?
Teria sido um fato totalmente sem aplicação para a vida do homem, não servindo
sequer de exemplo, uma vez que tem como protagonista um ser essencialmente
diferente do homem. É importante frisar que não encontramos em toda a
escritura, fato algum sem propósito claro e bem definido. Nenhum grande
princípio relevante para o relacionamento da criatura com seu criador deixou de
ser revelado e constar neste livro sagrado. Não há revelação de relevância
salvífica que já não tenha sidoexplicitada na Bíblia (ver Gn. 40:8; Dn. 2:28 e
Am. 4:13).
c) Pode-se considerar ainda, que a rebeldia
de Satanás não parece ter relevância alguma nem mesmo para o próprio Deus, uma
vez que toda a criação é concluída numa narrativa positiva de perfeita
adequação ao Seu propósito. Até a Queda do homem não parece haver sombra alguma
do mal pairando sobre a criação.
A
expressão, portanto, mais indica a condição inicial de alguma matéria-prima
criada por Deus, de cujos elementos o Criador se encarregaria de usar para
formar e fazer toda sua criatura (Is. 43:7), como um artista plástico. Podemos
ainda comparar tal circunstância com a gestação de uma criança, onde no útero
materno, até o início da formação do embrião, há um cenário sem forma e vazio.
Tal
interpretação empresta maior relevância e conteúdo revelador da pessoa de Deus,
uma vez que indica comparativamente o início de um processo gestacional do
planeta, onde o Criador cuidará zelosamente para que tudo que antes tinha uma
aparência de desolação e ruína, viesse a ser muito bom (Gn. 1:31), anunciando o
poder restaurador de Deus e sua capacidade de trazer ordem ao caos.
[3] (1:2) Espírito de Deus, hebr. veruach Elohiym
A
palavra ruach do hebraico, pode
significar “espírito”, “vento”, “alento”, “respiração”, “ânimo” e “brisa”. Tais
possibilidade vêem se alternando nas versões brasileiras, sem muito prejuízo ao
sentido do texto, pois “...de Deus” é qualitativo de “ruach” e pairava dá a entender ação inteligente e voluntária, que
não poderia ser exercida pelo vento, respiração ou alento. Mas se
contextualizarmos a expressão, entendemos que se trata do Espírito Santo, uma
vez que é citado para indicar que em todo aquele estado de caos e vacuidade em
que a terra se encontrava, Deus estava presente e preparando uma mudança
radical para aquela circunstância. Dizer que o Espírito de Deus pairava...
significa que seu poder realizador estava presente, preparando tudo que iria
existir em seqüência. Denota acima de tudo total envolvimento de Deus com sua
criação.
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