terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Quem foi que mandou?

Por Jânsen Leiros Jr.

 

 "1 Depois da morte de Moisés, servo do Senhor, falou o Senhor a Josué, filho de Num, servidor de Moisés, dizendo: 2 Moisés, meu servo, é morto; levanta-te pois agora, passa este Jordão, tu e todo este povo, para a terra que eu dou aos filhos de Israel.3 Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo dei, como eu disse a Moisés.4 Desde o deserto e este Líbano, até o grande rio, o rio Eufrates, toda a terra dos heteus, e até o grande mar para o poente do sol, será o vosso termo. 5 Ninguém te poderá resistir todos os dias da tua vida. Como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei, nem te desampararei. 6 Esforça-te, e tem bom ânimo, porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria.7 Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo, cuidando de fazer conforme toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; não te desvies dela, nem para a direita nem para a esquerda, a fim de que sejas bem sucedido por onde quer que andares.8 Não se aparte da tua boca o livro desta lei, antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido.9 Não to mandei eu? Esforça-te, e tem bom ânimo; não te atemorizes, nem te espantes; porque o Senhor teu Deus está contigo, por onde quer que andares.

Josué 1:1-9 - JFA

Essa passagem bastante conhecida do texto bíblico, revela muito sobre o que é agir com confiança em Deus, apesar de circunstâncias e condições desfavoráveis, que insistem em nos amedrontar, ou até mesmo nos paralisar diante de desafios que se impõem sem qualquer aviso prévio. Quem nunca?


O contexto histórico nos remete aos momentos posteriores à morte de Moises, líder do povo hebreu, que o conduziu por longos 40 anos pelo deserto do Sinai, após a saída do cativeiro de 400 anos no Egito. Ora, o povo não havia perdido um líder qualquer. E não ter mais Moises à frente do povo, mesmo para os mais experientes e preparados, significava não ter mais de sua incontestável liderança, capacidade de decisão, e relacionamento profundo com Deus. A perda de um líder tão presente e atuante podia mesmo causar receios, cuidados e incertezas, como o texto acima sugere.

Moises é morto; levanta-te, pois, agora. O texto é claro. E não é necessário ser grande intérprete, para compreender que a fala de Deus a Josué, não é uma notícia, mas um alerta, uma chamada à responsabilidade; está esperando o quê? É claro que a ausência do líder gerou alguma espécie de espera contemplativa, uma atitude bem comum diante do desconhecido à frente. Os discípulos que acompanhavam Jesus quando ele foi assunto aos céus, tiveram um lapso semelhante, olhando para cima, sem ação, sem saber o que fazer a partir daquele momento.

O mais comum em circunstâncias como esta, quando a pessoa que consideramos essencial nos falta, é pensarmos que, seja quem for o próximo ocupante da função, ninguém poderá fazer melhor ou minimamente igual, de modo a trazer resultados semelhantes, ou causar segurança parecida. Mais especialmente em relação a Moises, quem o poderia superar? Quem poderia minimamente se equiparar a ele? E diante dos receios, a inércia.


Acontece que o próprio Deus, no texto em destaque, começa a colocar as coisas sob as perspectivas corretas. Como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei, nem te desampararei. Ou seja, não foi Moises quem fez, mas eu. Logo, se ele fez porque eu estava com ele, você também fará porque eu estarei com você; o realizador ainda é o mesmo. O próprio Deus.

Ainda que até aqui tudo pareça meio óbvio, na prática não é. Tendemos a subestimar capacidades, preparos, condições e circunstâncias, tentando encontrar razões em nós mesmos, em coisas ou em condições, para um eventual fracasso futuro diante daquilo para o que somos chamados a realizar. Dessa forma produzimos uma espécie de conforto prévio e bastante conveniente. Uma espécie de desconfiança legitima, que recai, não sobre Deus, claro, mas sobre nossas próprias impossibilidades; confiar em Deus eu confio. Eu não confio é em mim. Ora, não somos chamados a confiar em quem quer que seja. Nem em nós ou em nossas capacidades, senão exclusivamente em Deus, que confronta com veemência, esse sutil gatilho de falta de fé.

É evidente, porém, que Deus nos conhece profundamente. Conhece a alma humana e suas armadilhas. Ele conhece nossas ardilosas sabotagens contra nós mesmos, que se concentram em maior número, não na falta de capacidade ou na inexistência de um cenário perfeito, mas na verdadeira falta de vontade. De boa vontade; bom ânimo.


Esforça-te e tem bom ânimo
. Para entusiastas da meritocracia, essa frase dita por Deus a Josué é a demonstração inquestionável de que o Criador premia aqueles que se esforçam e vencem seus desafios, em quaisquer níveis em que se apresentem; “seus esforços serão recompensados”. Mas não é disso que Deus está falando. Não é de esforço próprio, obra de nossas mãos. Não é da dedicação atlética que abre caminho à vitória. Nem mesmo está falando, apenas de outro jeito, sobre o famoso “faça por ti que eu te ajudarei”. Deus está falando de fé. De confiança. Daquela chama que tira da inércia. Da certeza incondicional de que “assim será se Ele quiser”. Ele está falando de levanta e anda.

Transpõe o Jordão. Não te falta nada para isso. Assim como estive com Moises estarei contigo. Ninguém te resistirá. Eu estarei contigo. Levanta e anda, não porque em levantando eu recompensarei tua atitude, mas porque já está feito. Transpõe o Jordão. Eu já o determinei que assim é.

Uma das características que mais me encanta nesse texto, confesso, é a ideia de que Deus se antecipa às possíveis objeções de Josué, à medida que lhe é revelada a missão que está em suas mãos. Tão somente esforça-te. Não há outra tarefa a realizar. Não há outro preparo a atingir. Não há contingente a reunir, ou mesmo tempo a esperar. Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo. Sai da inércia, confie, levanta e anda. Transpõe. Empolgue. Sim, contagie. Não artificialmente, mas por firmeza de propósito, próprio dos que sabem em quem têm crido, e de que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo aquilo que pedimos ou pensamos. E se é assim quando pedimos, imagina quando ordena!


Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo, cuidando de fazer conforme toda a lei que meu servo Moisés te ordenou.
E aí está mais uma armadilha para os meritocracistas de plantão. Há quem defenda que a obediência à palavra foi a condição imposta por Deus para o sucesso de Josué. Mas isso não está escrito aqui. Ao contrário, Deus está falando de ganho em confiança, em ânimo, em força realizadora. Não em barganhas.

Não se aparte da tua boca o livro desta lei, antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem-sucedido. Observe o quanto o versículo 8 acima, é semelhante ao Salmo primeiro. A observância da Palavra prospera o caminho. Não é uma recompensa de Deus; porque então farás (tu mesmo) prosperar o teu caminho. A Palavra melhora a capacidade de decisão, amplia as percepções, aumenta nossa sensibilidade. A Palavra nos melhora e dá bom ânimo. A Palavra nos amplia a confiança. Ou não é na Palavra que encontramos razões para esperar contra a esperança?

                    Por fim, ainda que não por último, Não to mandei eu? Esforça-te, e tem bom ânimo; não te atemorizes, nem te espantes; porque o Senhor teu Deus está contigo, por onde quer que andares. Que podemos livremente traduzir como: Não fui eu que te mandei ir? Então não tema a caminhada.

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