segunda-feira, 28 de julho de 2014

=> Reconciliação, um caminho para a Paz



“Só o fato de existirem questões entre vocês já mostra que vocês estão falhando completamente. Não seria melhor agüentar a injustiça? Não seria melhor ficar com o prejuízo?”                                                                1 Coríntios 6:7


“O primeiro em pedir desculpas é o mais valente. O primeiro em perdoar é o mais forte. O primeiro em esquecer é o mais feliz.”
Papa Francisco
Estamos atravessando dias difíceis de grande perplexidade. O conflito em Gaza entre palestinos e israelenses, e o conflito separatista na Ucrânia, têm produzido horror e comoção em todo o mundo civilizado. Atônitos, acompanhamos com muita apreensão os ataques de ambas as partes, imaginando as possíveis conseqüências de um eventual agravamento desses conflitos.
É claro que em ambos os lados de uma guerra há quem defenda as próprias razões, culpando compulsoriamente o lado adversário pelo estopim do conflito. Defendem convictamente suas lógicas, e acreditam ou se forçam a acreditar que o direito ou a verdade que os motivaram ao confronto, os garantirá vitória exemplar e definitiva, que virá como a demonstração cabal de que estavam certos... Sempre estivemos certos.
É bem verdade que conflitos armados como esses, são a manifestação extrema de interesses que se antagonizaram em algum momento. São também a conseqüência desastrosa do fracasso de toda e qualquer tentativa diplomática em evitar a guerra. Atitudes conciliatórias e apoio a acordos de paz não faltaram. Assistimos a diversas declarações de chefes de estados de diversas nações influentes, na tentativa de fazerem recuar em suas iminentes rotas de colisão. Infelizmente nada conseguiu evitar que vidas estejam sendo ceifadas por tiros, bombas e mísseis.
Para piorar a barbárie, civis vêem sendo os principais atingidos direta ou indiretamente nesses conflitos. Mais de mil e duzentos mortos em Gaza somando-se as baixas de ambos os lados. Um avião transportando cientistas foi abatido, quando sobrevoava a zona de guerra entre o exército ucraniano e os rebeldes separatistas. Mais de 200 pessoas estavam naquela aeronave. E os danos á humanidade certamente não pararão por aí.
Ora, guardadas as devidas proporções, não é isso mesmo que vivenciamos em nosso dia-a-dia, em cenários reduzidos e com atores muito mais próximos de nós? A intolerância vem provocando constantes impasses e inevitáveis conflitos, em relações as mais variadas. Seja entre casais, vizinhos, familiares, torcedores... A imposição vem se tornando demonstração aceitável de superioridade, nos mais diversos segmentos e níveis da sociedade. Ninguém quer ceder. Ninguém aceita parecer mais fraco por reconhecer seus erros ou por aquiescer com a falha alheia.
Se você pede desculpas é um fraco. Se você perdoa, é um bobão... Um banana! Caso se atreva a esquecer uma afronta qualquer, um prejuízo causado por terceiros, você é apontado na rua como um otário. O enfrentamento é a atitude enaltecida e esperada pela maioria. A afronta a reação legítima. O acerto de contas é o caminho para se sentir com a alma lavada. Não vemos isso todos os dias? Não reagimos nós mesmos assim, consciente ou instintivamente? Nada mais animal e equivocadamente aceito do que o revide. Ser inflexível não tem sido entendido como firmeza de caráter, personalidade forte ou ainda determinação? Nada mais valorizado nas grandes corporações, do que a competitividade e o espírito combativo.
Essa disputa diuturna promove rixas, intrigas, mentiras, traições, ofensas... Agredidos e agressores se enfrentam e se opõem com a dureza de quem não se permite recuar um só centímetro de suas posições. Fazem acaloradas defesas de suas pretensas razões, e não se oferecem, nem que por hipótese, o benefício da dúvida, quanto a legitimidade de suas motivações. Ninguém quer ceder.
Por intolerância, imposições mútuas e mágoas, torcedores se agridem na entrada dos estádios, cônjuges se matam e famílias inteiras se dissolvem por não conseguirem superar feridas que teimam em não cicatrizar. Ninguém quer dar um passo atrás. Não há quem cruze esse rio de traumas ou pule o muro do orgulho ferido. Há até quem se explique: Eu até perdôo, mas esquecer não esqueço não... É "ruin" hein!
É verdade. É ruim. Muito ruim mesmo. Porque a reconciliação é o caminho mais direto e talvez o único para a paz. Negligenciá-la é se lançar numa aventura que ninguém pode prever o final. Por outro lado, conciliar interesses, condescender com a fraqueza alheia, e sublimar a vingança, pode produzir maravilhosos sentimentos de completude e realização. Desculpas podem desviar a ira do ofendido. O perdão libertará o coração indulgente. E apagar voluntariamente da memória a ofensa sofrida, renovará o espírito e recuperará a alegria de viver.
Vivemos dizendo que o mundo precisa de paz. Mas antes, para isso, precisamos promover a paz no cantinho onde vivemos. Em casa, na vizinhança, na empresa em que trabalhamos. Na rua, no trânsito... Quem sabe se somados, pequenos e legítimos ambientes de paz, nos levem à tão sonhada paz mundial. Vamos tentar?

quarta-feira, 23 de julho de 2014

X Nós os perdemos, mas eles sempre nos ganharam - Os Trescritores



Há poucos dias postei aqui um texto que falava sobre o sentido que a vida pode ter. Um sentido que pode encher a alma da mais legítima sensação de plenitude. Não por ser a vida dos sonhos materiais, mas por ser uma vida produtiva. Uma vida que deixe um legado, que seja significante, para mim e para as pessoas que comigo dividem o dia-a-dia da existência humana.

Pois bem, há poucos dias perdemos três grandes brasileiros. Homens que fizeram de sua arte e da visão peculiar da vida, um oásis de prazer, em meio ao deserto de insensibilidade que o mundo atravessa. João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves e Ariano Suassuna.

A literatura perdeu dois grandes expoentes. A Academia Brasileira de Letras perdeu um de seus imortais (como se fosse possível a morte de um deles). A Teologia perdeu o mestre do sabor. Perdemos um escritor que traduzia com simplicidade o olhar crítico do cotidiano da vida real. Seu texto sempre foi fácil, mas revelador. E perdemos o teólogo (educador, filósofo, poeta...) que nos ensinou que o sabor da “vida, e vida em abundância”, está no coração pleno do prazer da vida de comunhão com Deus, renovada na liberdade. Um vai deixar saudades nas calçadas do Leblon. Os outros dois deixarão um vazio enorme em minha estante.

Não vou me gastar em definições que não farão mais do que chover no molhado. A capacidade de sintetizar compêndios em pequenas frases, sempre fez de Rubem Alves um homem a frente de seu tempo.


"Sou grato pela minha vida. Não terei últimas palavras a dizer. Recebi muito. Fui muito amado. Tive muitos amigos. Plantei árvores, fiz jardins. Construí fontes, escrevi livros. Tive filhos, viajei, experimentei a beleza, lutei pelos meus sonhos. Que mais pode um homem desejar? Procurei fazer aquilo que meu coração pedia."
(Trecho da carta deixada por Rubem Alves) – Rubem Alves-frases, Facebook


Isso não é o sentimento de realização mais legítimo que pode existir? Sentir que não ficaram pendências... "combati o bom combate, encerrei a carreira e guardei a fé". Se despedir do mundo sem deixar vida por viver.


A vida pode mesmo ter um sentido, um propósito, enquanto marcha para a realização e o próprio fim. Exigência do recomeço...

quinta-feira, 17 de julho de 2014

=> Fragmentos de um debate - O Reino de Deus


Antônio (mas poderia ser José, Joaquim... João)

Você tem razão ao dizer que nossos teólogos, pastores e líderes religiosos não têm muito a dizer sobre o Reino de Deus, senão o uso de “vãs repetições”, chavões, ou como você bem colocou, descrições patéticas de uma riqueza que não possui relevância ou pertinência em nossa sociedade. Uma vez eu li um livro com o título “A Localização Cósmica do céu e do inferno”. Pareceu-me muito engraçada, a tentativa de enxergar em textos bíblicos, um ponto físico no universo onde os dois lugares estariam localizados. Mesmo esse livro, contudo, não descrevia muito bem como seria o Céu e nem mesmo o Inferno, e como seria a existência permanente nesses locais.

Acredito que, de certa forma, os filósofos realmente sejam mais felizes na tentativa de descrever hipoteticamente o Céu e o Inferno, pois o fazem com a liberdade do pensamento que não se prende a peias eclesiásticas. Não pretendem comprovar ou mesmo sustentar nenhum pressuposto religioso ou linha teológica contemporânea. Não obstante, as versões de alguns carecem de uma ótica importantíssima para uma avaliação mais adequada, ou por assim dizer, plausível, uma vez que falamos de um tema ligado a fé e a esperança: O propósito de Deus para a existência desse Reino.

Você pode aí até me considerar pedante por querer ver “... a partir do propósito do próprio Deus”. Mas vamos tentar trilhar esse caminho juntos, raciocinando sem necessariamente usarmos o texto bíblico como base, de modo que possamos sair do lugar comum, e caminhar por uma estrada que nos leve à razão daquilo em que acreditamos. Sim, porque creio, como você, que é preciso fugir dos “clichês” amarelados, desgastados, que não conseguem mais satisfazer as mentes mais atentas. Mentes que não aceitam as tentativas subliminares de manipulação dos ouvintes ou leitores, que circulam flagrantes e sem nenhum pudor no nosso meio. Essa vulgarização do sagrado, talvez, tenha provocado a frase que li, não me lembro onde, que dizia: "O inferno já não assusta, assim como o céu já não encanta mais".

Sinceramente não me espanta que não encante mais. Em plena era da informação, saúde e boa forma, e da tecnologia, em que a sociedade valoriza a atividade constante, seja ela física ou mental, insistimos em considerar como céu, um lugar ou estado de descanso eterno e vida contemplativa. Por isso eu costumo brincar com meus colegas que reclamam que eu durmo pouco: “Dormir para quê? Quando morrer dormirei o resto da vida!”. Há até os que brincam dizendo que se no céu não houver futebol e mulher bonita, preferirão ir para o inferno. É evidente que não pensam isso de verdade. Mas de certa forma denunciam a sensação de incômodo, provocada pela possibilidade de uma próxima existência ser menos interessante e aventureira que a atual. Ninguém prefere o insípido ao saboroso.

Observemos que quase a totalidade das religiões, dependendo de sua origem e das circunstâncias de vida de seus seguidores, o céu ou o reino porvir varia conforme aquilo que julgam ser mais reconfortante e valoroso como prêmio. Transferem suas recompensas e suas esperanças do aqui e agora, para uma existência futura, crendo num porvir mais exuberante. Podemos constatar isso estudando, mesmo que superficialmente, qualquer religião que julgue existente uma vida após a morte.

Mas voltando ao meu petulante prisma do propósito de Deus, precisamos avaliar alguns princípios pertinentes:

1 – Embora a Bíblia seja sempre atual em sua mensagem e em seu poder de revelar Deus à humanidade, seus autores se utilizaram de alegorias comuns à sua época, para que sua comunicação e argumentação pudessem ser persuasivas e convincentes aos seus circunstantes. Ao usar a expressão “Reino de Deus”, Jesus o está diferençando do reino romano que subordinava e oprimia o povo de Israel. Tanto é assim, que o aguardado Messias do Antigo Testamento, segundo a interpretação messiânica judaica, seria um libertador nacional, que devolveria aos judeus a liberdade e a soberania em seu próprio território. O mesmo princípio que orienta João a descrever em Apocalipse uma “Nova Jerusalém”, um lugar totalmente outro do que viviam seus leitores e liderados. Havia ainda o domínio opressor dos sacerdotes e fariseus, que exerciam grande influência negativa sobre as pessoas comuns, comercializando com a fé e manipulando com certo terrorismo religioso os mais piedosos e sinceros devotados. Isso, portanto, indica que o conceito de Reino, mais do que pretender estabelecer a existência de um lugar cósmico e de condições excelente, traduzia na verdade que o “Reino de Deus” seria um “lugar” onde as condições de vida existentes naquela época seriam completamente outras, invertidas... Transformadas. O Reino de Deus é, portanto, anunciado como novidade de vida, transformação das condições existentes, redenção... Ou ainda a passagem do estado de “caos” para “ordem”, criando um paralelo ao que Deus fez quando criou o mundo; “... A Terra, porém, era sem forma e vazia...” traduzida da Torá como “caos e ruínas”.

2 – Se cremos no que colocamos até agora, podemos concluir então que Reino de Deus está mais perto de ser um estado de coisa do que propriamente um lugar, ou um ponto geográfico passível de ser descrito fisicamente ou apontado geograficamente. Assim, qual maior recompensa poderia ter aquele que ama a Deus, do que sua presença? Que maior realização poderia existir no porvir, do que o relacionamento direto com o Pai, a comunhão constante, livre das solicitudes que a vida cotidiana em um mundo conturbado nos impõe?

3 – Seguindo ainda nessa linha, o inferno seria simplesmente o inverso disso. A ausência de Deus, a dor do remorso de tê-Lo rejeitado, banido da própria vida... Evitado o próprio autor da vida. Tal circunstância faria desse estado de coisa, um “lugar” de dor, “de choro e ranger de dentes”... Remorsos, amarguras. Condição imutável na qual não mais caberia arrependimento.

Não posso e não consigo enxergar o Reino de Deus de outra forma. Se o Reino de Deus é para aqueles que O querem, O preferem, O buscam, que maior recompensa ou novidade de vida, do que sua presença constante e muita atividade relacional, num exercício pleno e eterno de interação com nosso Criador?

Descanso? Sim, até acredito que teremos. Mas o descanso da luta contra “a carne”, de vivenciar a injustiça que assola o planeta, da miséria que ceifa milhares de vidas por dia, das guerras travadas por motivos insustentáveis... Talvez seja esse o descanso prometido por Jesus.

Espero Antônio, que minha nova exposição tenha deixado mais clara a minha posição. Continuo concordando com você. Nosso povo e também aqueles que se dizem líderes, deveriam usar mais do poder do discernimento, deixando de lado a preguiça de pensar. Não deveriam alimentar suas almas com “migalhas” da fé. Para mim, a teologia será ainda mais apaixonante quanto mais pragmática e aplicável na vida real ela puder ser, oferecendo conforto e consolo. De modo que, conhecer uma possível descrição física do reino de Deus, nada de novo ou edificante traria para a alma. Seria apenas um saber. Mas como diria Rubem Alves, o sabor, o prazer desse reino estará na comunhão com Aquele por quem anseia a nossa alma. Isso sim nos preenche de esperança, e renova as forças para vivermos o mundo real agora, aguardando o dia em que O poderemos ver “frente a frente”.

Nele, que estabelece seu Reino em nossos corações já nessa vida...

sábado, 12 de julho de 2014

A vida pode ter sentido - Parte 1

Por Jânsen Leiros Jr
Revisado e ampliado em 26/04/2024

“O que ou quem me traz à existência e logo nela me impede de continuar?

Minha origem é incerta, como é incerto o meu futuro.

O que está por trás desse ciclo? Quem o planeja?

Por que se vive tão pouco, e qual o sentido de tão efêmera existência?

Bem não aprendo a viver, e já a morte me leva.

Será que nasci apenas para viver.

E se vivo, o faço apenas para um dia morrer?

Será a vida uma passagem e a morte um ingresso?

Ou será que com a vida se compra a passagem para a vida que a morte traz?

Nascimento, vida e morte; em linha a nossa sorte?

Ruim talvez nascer morto.

Pior talvez morrer vivo.

Pior ainda viver morto.

Melhor de tudo?

Nascer de novo renovando a vida.

Não morrer jamais”

                 Não morrer jamais –Jânsen Leiros Jr

Blog Sensações & Poesias


Quem jamais se fez essas perguntas? Quem nunca se surpreendeu, tentando encontrar algum sentido para a própria existência? Cedo ou tarde, por um motivo ou outro, penso que todo ser humano se põe a questionar: o que é que estou fazendo aqui? E ainda: qual o sentido da vida? Mesmo sendo uma questão legítima, essa inquietação impulsiona o ser humano em uma viagem que pode variar entre o monótono e o surpreendente, entre o sintético e o analítico, entre o crescimento e a estagnação, e entre a euforia e a depressão.

A legitimidade do questionamento pelo sentido da vida tem origem na observação tácita de que ela não pode resumir-se em uma sucessão de dias, gastos na busca de satisfação das necessidades básicas, quer físicas quer sociais. Uma rotina patética de luta atroz pela sobrevivência. Ora, se eu não existisse, não teria qualquer necessidade. Se as tenho, é só porque existo. Então minha existência não pode se resumir em atender às demandas que tenho, apenas pelo próprio fato de existir; existir para manter-se existindo. Assim, causa e efeito seriam viciosamente uma mesma coisa. A vida teria sua funcionalidade aprisionada em um ciclo necessidade-satisfação. Um propósito monótono, apático e impotente para construir perspectivas atraentes a uma humanidade sedenta de objetivos existenciais. Um propósito adequado na vida pode deslocar o pulso existencial do dever, para o pulso essencial do prazer.

Muitas e variadas linhas de pensamento buscam encontrar esse adequado sentido para a vida. Os mais pragmáticos sintetizam o viver ao tempo entre o nascer e o morrer. Nesse intervalo, o ser humano sobrevive e da melhor maneira possível. No contexto de manter-se vivo, vale tudo para que essa sobrevivência tenha algum prazer, ainda que para essa linha de raciocínio, por definição, a sensação de prazer e saciedade seja transitória e temporal.

Eu tenho muita dificuldade em reduzir a vida a um ciclo de nascimento e morte no tempo. Não estou me referindo à vida após a morte. Não é o caso aqui. Estou falando de vida transcendente, ainda que presa ao ciclo de começo-meio-fim; falo do que Jesus chamou de "vida em abundância". Vida com sentido, vida com propósito.

Aqui e agora, a vida, por ser vida, não pode ser estática. Precisa estar em movimento. Ser dinâmica e contagiante. Influenciadora e envolvente. Expansível de dentro para fora, e inspiradora de fora para dentro porque agradecida. Em toda e qualquer direção, precisa interagir com o cenário em que se insere. A vida precisa ter significado enquanto existente.

A melhor e mais apropriada comunicação que conheço dessa vida em movimento é a que o texto bíblico faz utilizando a figura do peregrino em terra estranha.

 “Todos esses morreram cheios de fé. Não receberam as coisas que Deus tinha prometido, mas as viram de longe e ficaram contentes por causa delas. E declararam que eram estrangeiros e refugiados, de passagem por este mundo.”

                       Hebreus 11:13 - NTLH

 

 “Queridos amigos, lembrem que vocês são estrangeiros de passagem por este mundo.”

                       1 Pedro 2:11 - NTLH

Um peregrino está sempre em movimento, sempre a caminho, em marcha para algum lugar. E sendo um forasteiro, não pode se permitir descansos mais demorados ou tornar-se cativo de qualquer outra demanda que não a sua ali e além. Um peregrino, ainda que cansado pelo esforço na caminhada, não pode entregar-se à auto piedade ou à acomodação. Precisa viver sua peregrinação. Nada nessa terra em que atravessa é suficientemente seu para que o detenha em sua jornada, e lhe desvie do objetivo; ameaçadoras distrações.

Mas ainda que o peregrino esteja sempre caminhando, sempre em marcha para algum lugar, o sentido de sua vida não é o ponto de chegada, mas sua própria jornada. No caminho está o seu prazer. Por essa razão, a quantidade de tempo vivido é menos importante do que o como essa vida é vivida no tempo. O sentido da vida se expressa em quão oportuna ela é, e não em quanto tempo ela está.

Portanto, viver é mais do que meramente existir. É ir além da satisfação das necessidades diárias. A vida pode ter um sentido e este não está em qualquer lugar onde eu queira ou possa chegar. Em vez disso, está no caminho que experimento e trilho até lá.

Viver é inserir-se no tempo presente, modificando-o oportunamente. Assim, cada instante vivido se reveste de significância, e cada ato, por mais simples e espontâneo, por mais complexo ou sacrificante, será sim, pertinente e adequado, dando sabor, seja doce ou amargo, à realidade de minha existência. Porque o prazer de viver está em ser o que se é na sua potencialidade plena, ainda que seja difícil e dolorido. Porque se o viver é Cristo e o morrer é lucro[1], não há qualquer prejuízo em vivermos frutificando ao próximo. Porque esse, afinal, era o viver de Jesus.



[1] Filipenses 1:21

quarta-feira, 9 de julho de 2014

X Lições que a Alemanha de Joaquim nos deu



Aproveitando que o sangue ainda está quente, e que na cabeça ainda martela a pergunta "o que aconteceu?", vamos a algumas reflexões:

1. Gabamo-nos de ser o país do improviso. Confiamos tanto em nossa capacidade de "desenrolarmos uma parada", que esse costume de apagar incêndio se espalha em diversos seguimentos. Não seria diferente no futebol. Acreditamos piamente em nossa habilidade e talento para solucionarmos tudo. "Nada substitui o talento", diz o slogan do prêmio Profissionais do Ano. Mas o que vimos hoje, é que NADA SUPERA O TRABALHO. Nem um planejamento cumprido a risca, e a confiança imensa de confiar que o outro realizará o que foi combinado.

2. Alguém tem dúvida de que individualmente nossos jogadores são superiores tecnicamente? Acontece que o futebol é um esporte coletivo. Ganha a equipe que melhor utilizar TODAS as suas peças. Passamos grande sufoco em quase todos os nossos jogos, porque jogamos sempre com menos jogadores que a equipe adversária. Numa equipe em que cada integrante desempenha um papel relevante, não pode haver coadjuvante. Mas nós esperamos sempre de um único herói.

3. A entrevista do Davi Luiz ao final do jogo demonstrou o peso e a responsabilidade que nós... TODOS NÓS jogamos sobre os ombros desses meninos. "eu só queria dar um pouco de alegria para esse meu povo que é tão sofrido..." disse esse menino entre lágrimas e pedindo desculpas. Não Davi, não é você nem o Neymar, nem o Julio Cesar. Nenhum de vocês tem a responsabilidade de fazer o povo feliz. Nem o Felipão! A responsabilidade de fazer o povo feliz é dele próprio e de seus governantes, em garantir condições de uma vida digna para todo brasileiro. Nós e a mídia inteira acreditamos que, se fizéssemos esse grupo internalizar que eles eram obrigados a vencer a Copa 2014, no Brasil, isso de algum modo se traduziria em garra, força e determinação dentro de campo. Erramos todos na mão. O que causamos foi, descontrole, insegurança e culpa. O que ficou muito claro no jogo contra o Chile.

4. Por fim... Não, a Copa NÃO FOI COMPRADA! Nem vendida. E não teria sido melhor fazer hospitais em lugar de estádios. Hospitais devem ser feitos sempre. Assim como escolas, casas populares e tudo o mais que se espera do poder público. Chega de misturarmos governo e futebol!


5. Desculpem-me, mais uma coisinha. Continuamos sendo pentacampeões. Aliás, o único país com cinco estrelas no uniforme. O maior exportador de craques do planeta. Só precisa haver trabalho e planejamento. Mas se continuarmos a trocar os profissionais a cada jogo mal sucedido, teremos que esperar um pouco mais do que quatro anos para sermos campeões outra vez.

domingo, 6 de julho de 2014

* Por que estudar Teologia. E não Por que DEVEMOS estudar Teologia?




- O que? Biologia?
- Não, não. Teologia!
- Ah!... Legal. E a pessoa responde normalmente sem graça. E aí pensa: Teologia? Será que ele quer ser padre? Mas ele não é evangélico? Xii... Se eu esticar a conversa, já já ele vai querer pregar para mim... Isso tudo enquanto olha através de mim, buscando na imaginação uma boa desculpa para fugir para bem longe. Algumas outras pessoas um pouco mais interessadas, sinceramente perguntam: - Mas por que teologia? E aí a conversa fica ainda mais louca.
Intelectualmente vaidoso, sempre procurei elaborar uma resposta que fosse ao mesmo tempo consistente, pertinente, admirável e racional. Um malabarismo conceitual que me obrigava a rechear a resposta com lógicas e motivações de senso comum, que me fizessem parecer um jovem equilibrado, maduro. Um religioso longe de ser apontado como fanático, superficial, ou tendencioso. Perdi a conta de quantas vezes me arrependi das coisas que disse ao me justificar. Tudo na intenção camuflada de ser reconhecido positivamente, bem aceito, e não ser flagrado num ativismo secundário e sem importância. Vaidade de vaidade. Tudo é vaidade.

No fundo, por mais que eu quisesse passar a idéia de ser alguém livre das convenções, fui iludido e me fartei do mesmo manjar. Minha escolha pela teologia precisava ter contornos de utilidade prática e importância social. Eu precisava sentir-me admirado e intelectualmente respeitado. O impulso que orientou minha opção estava certo. Mas a convicção que sustenta o caminho era fraca. E diante das demandas da vida e obrigações que se impuseram, sucumbi. Como na parábola do semeador, em que as sementes caem entre os espinhos.

Muitas noites se seguiram em elucubrações sem fim, com o peito ardendo. Queria entender e identificar para mim mesmo o sentido prático em estudar teologia. Até o dia em que consegui perceber o que sempre esteve diante dos meus olhos; na verdade dentro de mim. Eu sinto prazer em fazer teologia. Isso mesmo; prazer.

Nosso modelo ocidental despreza o prazer como motivação aceitável para toda e qualquer atividade que se possa julgar legítima, e razoavelmente relevante. Prazer está relacionado à satisfação pessoal e íntima, remetendo ao lascivo e ao egoísta. Logo, aquilo que é prazeroso, seguindo-se essa ótica, não pode ser considerado de interesse comum, ou nobre em seu mote original. Apenas o fruto do sacrifício, ou daquilo que é realizado por obrigação, ganha a chancela do louvável. Por essa razão, tantas pessoas narram seus feitos, recheando a história com dificuldades aumentadas, e sacrifícios admiráveis. – Foi difícil, sabe? Mas apesar de tudo, cumpri com minhas obrigações. Era a minha missão! E o orgulho de si mesmo escorrendo pelos cantos da boca. Uma compulsão por sentir-se cumprindo um sacerdócio.

Talvez eu até esteja frustrando alguns, que gostariam de ler uma fantástica história de chamado, que justificasse minha escolha. Um relato que homologasse uma vocação inexorável. Se eu puxar pela memória, talvez possa até identificar uma ou outra circunstância que seja interpretada como um chamado. Mas desculpem os acusadores de plantão. Se não sentisse tanto prazer, talvez não me gastasse tanto, nem me dedicasse tanto. Mas é difícil analisar qualquer circunstância baseado em escolhas que não tomamos. Não há como avaliar como teria sido a vida que não escolhi ter.

Mas afinal, não é o próprio prazer em realizar, uma vocação intrínseca? Não seria a atração por Deus um inquestionável chamado?


"Pois misericórdia quero, e não sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos."
Oséias 6:6 - RA


É claro que, seguindo os mais aceitáveis e conhecidos padrões apologéticos, seria possível destacar algumas relevantes razões para o estudo da teologia. Razões que passeiam tanto pela defesa da fé, quanto pelo “Ide” de Jesus. Os grandes mestres da Teologia Sistemática foram prodigiosos em relacionar motivações diversas e muito bem sustentadas. Mas eu prefiro a afirmação relacional de Anselmo de Cantuária; Não estudamos para crer; estudamos porque cremos. É a minha fé que me impulsiona a estudar. É meu amor por Deus que me faz querer conhecê-lo. Estudar teologia está para o cristão, assim como a poesia para os amantes. É gastar-se em pensar, e falar sobre as manifestações do seu amor.
   
Talvez eu até fosse mais considerado, lido e ouvido, se dissesse que estudo teologia por dever. Mas por vício de conduta, prefiro dizer com toda a convicção, que o faço tão somente pelo prazer de pensar Deus todo o tempo; minha motivação única e mais que suficiente. Afinal, para onde iria eu se tu tens as palavras de vida eterna?

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Encarando nossos limites - Muros que construímos - parte 1

Por Jânsen Leiros Jr.

Revisado e ampliado em 08/04/2024

O ser humano é naturalmente conquistador, um desbravador por excelência. Diante de uma barreira, sempre nos sentimos desafiados a superá-la. Somos inconformados com limites, e foi assim que a humanidade caminhou por toda a sua existência. À medida que as barreiras iam se apresentando, elas eram superadas ou, no mínimo, contornadas. No curso da história, cruzamos rios, vencemos desertos, atravessamos oceanos, contornamos montanhas e nos lançamos ao espaço. Será a última fronteira?

A conduta desbravadora da humanidade é como um trem que avança constantemente, num balanço alternado entre o conforto e o solavanco, conforme as circunstâncias dos trilhos. Sempre a caminho do além daqui. Essa característica da busca por superação influenciou diversos aspectos da vida humana, como na ciência, na tecnologia, nas artes e até mesmo nas relações interpessoais.

Se esta compulsão por superação é um traço comum do ser humano em sua coletividade, individualmente, contudo, nem sempre esse impulso se realiza de modo a nos empurrar adiante do lugar em que nos encontramos. E os fatores que se unem na construção das barreiras que nos impomos individualmente são muitos.

Medo do fracasso

O medo de não atingir os objetivos ou de enfrentar rejeição pode nos impedir de tentar novas experiências ou buscar nossos sonhos. Uma pessoa que sonha em iniciar seu próprio negócio, por exemplo, pode sentir medo de falhar e ser rejeitada pelos outros.

Autocrítica excessiva

A tendência de sermos muito autocríticos pode nos levar a duvidar de nossas próprias habilidades e capacidades, minando nossa confiança para agir e avançar em direção aos nossos objetivos. Um estudante universitário que constantemente se critica por não alcançar notas perfeitas pode acabar minando sua própria confiança e motivação, comprometendo efetivamente seus resultados.

Zona de conforto

O hábito de permanecer dentro de nossa zona de conforto, evitando desafios ou situações desconhecidas, pode nos manter estagnados e impedir nosso crescimento pessoal e profissional. Uma pessoa que se acomoda em um emprego que não a desafia mais pode ficar estagnada em sua carreira, além de desenvolver apatia estagnante.

Crenças limitantes

Crenças negativas sobre nós mesmos, sobre o mundo ou sobre o que é possível alcançar podem criar barreiras psicológicas que nos impedem de explorar nosso potencial máximo. Uma pessoa que acredita que não é inteligente o suficiente para aprender um novo idioma, por exemplo, pode se auto sabotar e evitar tentar aprender.

Falta de planejamento ou visão clara

A ausência de metas claras ou um plano de ação definido pode nos deixar sem direção e sem saber por onde começar, dificultando nosso progresso. Isso normalmente acontece com indivíduos que vivem no que podemos chamar de piloto automático, vivendo sua rotina no embalo dos acontecimentos e premências, sem se dar conta de que o tempo passa, e seus sonhos vão se desfazendo pelo caminho.

Incapacidade de lidar com o fracasso

A falta de resiliência e a incapacidade de aprender com os fracassos podem também nos paralisar e nos impedir de tentar novamente após enfrentar obstáculos. Um empreendedor que enfrenta um grande revés financeiro pode se sentir desencorajado e tentado a desistir de seu negócio, concluindo precipitadamente que não tem as condições técnicas ou os recursos ideais para o empreendimento.

Insegurança e baixa autoestima

Sentimentos de inadequação e baixa autoestima podem nos fazer duvidar de nosso próprio valor e nos impedir de buscar oportunidades de crescimento e desenvolvimento, quer sejam profissionais, quer pessoais. Uma pessoa que possui insegurança e baixa autoestima pode evitar oportunidades de promoção no trabalho devido ao medo de não ser capaz de lidar com as novas responsabilidades ou de não ser valorizada pela equipe. Isso pode resultar em estagnação profissional e insatisfação pessoal, com desdobramentos para diversos aspectos da vida.

Padrões sociais e expectativas externas

Pressões sociais e expectativas externas podem nos levar a seguir um caminho que não é autêntico para nós, limitando nosso potencial e nos impedindo de buscar nossos próprios interesses e paixões. Um jovem que se sente pressionado a seguir uma carreira tradicionalmente valorizada por sua família, como medicina ou direito, pode sentir-se preso a expectativas externas e não seguir seus próprios interesses e paixões. Isso pode levar a uma vida profissional insatisfatória e falta de realização pessoal, gerando grande e sufocante frustração.

A maioria das pessoas que conheço, que se mantêm adormecidas em suas pretensões, desistiram de seus sonhos e abriram mão de realizarem-se em diversos segmentos da vida, acomodando-se por conforto ou medo. Impuseram-se razoável dose de frustração e vivem amargas diante das realidades que experimentam, empalidecidas em atitudes e empenhos cotidianos. Independentemente de suas condições sociais ou financeiras, foram vencidas por limites erguidos contra si mesmas, reais ou imaginários, que as impediram de se manter caminhando na direção de um alvo qualquer.

Diante de tal realidade, é impossível não se sentir sinceramente comprometido com a necessidade urgente de trazer a estas pessoas um caminho que lhes apresente, ainda que no horizonte, a oportunidade de romper os grilhões de tudo aquilo que as aprisiona. De superar seus limites e de terem a oportunidade de explodir as barreiras que as detêm na direção de uma jornada realizadora e edificante.

Para um desafio dessa relevância precisamos, sobretudo, escolher as ferramentas ideias para a empreitada. Devemos realizar a escolha que poderá definir entre a enganosa sensação do “eu consegui por mim mesmo”, ou a libertadora realidade “recebi e vou cuidar”. Vamos às opções?

Continua semana que vem

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