Provérbios - Lição XIX



Provérbios 8:22-36 - JFA


"1 A sabedoria já edificou a sua casa, já lavrou as suas sete colunas; 2 já imolou as suas vítimas, misturou o seu vinho, e preparou a sua mesa. 3 Já enviou as suas criadas a clamar sobre as alturas da cidade, dizendo: 4 Quem é simples, volte-se para cá. Aos faltos de entendimento diz: 5 Vinde, comei do meu pão, e bebei do vinho que tenho misturado. 6 Deixai a insensatez, e vivei; e andai pelo caminho do entendimento.

7 O que repreende ao escarnecedor, traz afronta sobre si; e o que censura ao ímpio, recebe a sua mancha. 8 Não repreendas ao escarnecedor, para que não te odeie; repreende ao sábio, e amar-te-á. 9 Instrui ao sábio, e ele se fará mais, sábio; ensina ao justo, e ele crescerá em entendimento. 10 O temor do Senhor é o princípio sabedoria; e o conhecimento do Santo é o entendimento. 11 Porque por mim se multiplicam os teus dias, e anos de vida se te acrescentarão. 12 Se fores sábio, para ti mesmo o serás; e, se fores escarnecedor, tu só o suportarás.

13 A mulher tola é alvoroçadora; é insensata, e não conhece o pudor. 14 Senta-se à porta da sua casa ou numa cadeira, nas alturas da cidade, 15 chamando aos que passam e seguem direitos o seu caminho: 16 Quem é simples, volte-se para cá! E aos faltos de entendimento diz: 17 As águas roubadas são doces, e o pão comido às ocultas é agradável. 18 Mas ele não sabe que ali estão os mortos; que os seus convidados estão nas profundezas do Seol.   "

Nesse capítulo identificamos uma harmonização literária muito interessante, própria do estilo proverbial utilizado pelo sábio. A comparação entre a sabedoria e a insensatez, que prefiro mais de chamar loucura, utilizando-se das duas personificações reincidentes. Ele separa as observações sobre os destinatários de seus convites, entendendo preventivamente que haverá quem prefira dar ouvidos à loucura.

Nos primeiros seis versículos, a sabedoria se mostra diligente, laboriosa, e ocupada no preparo de um banquete que pretende oferecer a seus convidados; àqueles que atenderam ao seu chamado. Sua casa está pronta e estruturada para receber grande quantidade de convidados. Também o alimento rico e cuidadosamente preparado está pronto para ser servido e degustado pelos participantes desse banquete. Bem como o vinho, que para apurar sabor, foi misturado. O texto não diz, mas a mistura se fazia com essências aromáticas que ampliavam o perfume e o sabor do vinho. Enfim, uma fartura que pretendia saciar com aquilo que efetivamente sustenta e pode alegrar seus convidados.

O convite é pessoalmente feito. E não só isso. A sabedoria vai atrás de quem possa saciar-se em seu banquete. Em vez de aguardar pelos convidados ou por quem se interesse em participar de sua mesa, ela se esforça em trazer seus convidados, em buscá-los nas ruas. A chamá-los em pleno desempenho de suas tarefas cotidianas, de suas responsabilidades diárias. O convite é feito às claras e seu chamado é necessariamente aberto ao conhecimento de todos. Até porque, todos indiscriminadamente são chamados.

Já a insensatez em nada se esforça. Basta sentar-se à porta. Não precisa se expor. Sedutoramente se coloca diante de sua casa. Com gritos e chamados se oferece aos mesmos passantes que também foram buscados pela sabedoria. Mas diferentemente da outra, a insensata não tem nada de consistente a oferecer, senão água roubada e pão comido às escondidas, o que deixa claro que aquilo que a loucura pode oferecer, sempre será pior do que a oferta da sabedoria, mas obviamente sedutora pelo perigo que intrinsecamente traz em suas ofertas. A oferta insensata é sempre ilegítima e falta de cuidados.

Note-se que a insensatez, não se ocupa de nada. O ócio é seu cenário mais constante. Enquanto a sabedoria se ocupa daquilo que pretende oferecer, a loucura oferece o que nada lhe custou, nem mesmo trabalho. Talvez porque não haja mesmo muito trabalho para encontrar quem lhe prefira em lugar da sabedoria. Basta-lhe chamar e se oferecer a quem passa. A quem já tem mesmo grande inclinação a ouvir, e dar atenção ao seu convite encantador da alma humana. Seu sucesso em encontrar seduzidos, está na grande quantidade de seduzíveis que ao seus encantos se oferecem. E são muitos os seus ardis. Mas quase nem precisa muito deles. Enganados, caminham todos para o mesmo fim de seus convidados anteriores; a morte.

Mas o mais interessante nesse capítulo se encontra nos seis versículos do meio, pois aí estão os passantes. Aí estão aqueles que receberão, tanto da sabedoria quanto da insensatez, um convite para entrar e vivenciar experiências. Um para um banquete que os alimentará e sustentará para a vida. O outro para momentos desprezíveis, de prazeres furtivos, que trarão prazer fugaz e morte inevitável. São os inexperientes e sem juízo.

Vejam que os convidados já estão previamente classificados, e as orientações são passadas às criadas da sabedoria. Porque não é a qualquer um que a sabedoria pode ser oferecida. Avançando no tempo, elas poderiam ser orientadas a não atirarem pérolas aos porcos. A não se gastarem em convidar quem claramente rejeitará o convite da sabedoria, e está num caminho determinado à casa da mulher insensata. Mas como saber quem é o escarnecedor? Como saber quem é o insensato profissional?

Não há como saber. E por isso o sábio manda suas criadas fazerem o convite pessoalmente. Para conhecer o convidado. Para saber dele e de suas pretensões existenciais mais íntimas. O que pretendem? Até onde querem ir? Pois aos que buscam sabedoria, toda instrução é bem vinda. Até a repreensão lhes interessa, pois agir sabiamente lhes é prazeroso e reconfortante. Mas os que são loucos desprezam claramente a sabedoria, e dela fazem pouco caso. Eles estão tão ávidos por cometerem suas loucuras, que resistem agressivamente ao convite da sabedoria. Preferem o erro. Buscam suas recompensas. De certa forma isso lhes atrai, inclusive, muito mais que o convite da sabedoria.

Por fim o sábio reforça o conceito individual, tanto da escolhas, quanto de suas conseqüências. Sim, embora historicamente Deus tratasse naqueles dias com a nação de Israel, quer julgando-os, quer os abençoando-os, quer libertando-os, quer advertindo-os, nesse momento o sábio alerta para o fato de que aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Ou seja, o sábio que sabiamente se portar, escolhendo as atitudes conforme o temor do Senhor, esse terá para si os seus resultados; vida e anos acrescidos à sua existência. Também o louco suportará individualmente as conseqüências de suas loucura. E só ele, sem qualquer transferência ou divisão de responsabilidades, receberá a recompensa de sua insanidade.

Portanto, nada novo ainda que renovador. Quem tiver ouvidos para ouvir ouça. Aquele que teme a Deus se farta no banquete da sabedoria, sendo-lhe acrescido em conhecimento e prudência, além do reforço na alegria. Mas o que o rejeita e insiste nessa loucura, se manterá envolvido e seduzido pela insensatez. Seu trágico fim é a morte.


Parece óbvia a escolha certa a se fazer? Então me diga porque a loucura, a imprudência e a insensatez, crescem tanto em nossos dias, multiplicando suas vítimas a cada pôr-do-sol?

Um comentário:

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