quinta-feira, 2 de maio de 2024

A vida pode ter sentido Parte 2 - Frutificando o caráter de Cristo

 Por Jânsen Leiros Jr.

 


“Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei.”  

Gálatas 5:22 e 23

 

Desde sempre a humanidade busca compreender seu propósito e significado de existência. Entre as várias filosofias e sistemas de crenças, uma ideia persiste: fomos criados para a glória de Deus. Esta concepção transcende culturas e épocas, sendo central para muitas religiões, especialmente o cristianismo. Neste contexto, a formação do caráter de Cristo no crente emerge como uma jornada de descobertas e transformações, onde o indivíduo, dia a dia, se molda à imagem divina para cumprir seu propósito máximo; o ser à semelhança de seu Filho[1].

A formação do caráter de Cristo no crente é um tema central nas Escrituras, refletindo o propósito divino para a humanidade desde os tempos antigos. No Antigo Testamento, encontramos passagens como Gênesis 1:27, que declara que fomos criados à imagem de Deus, e Deuteronômio 10:12, que nos instrui a temer o Senhor, andar em todos os seus caminhos, amá-lo e servi-lo de todo o coração e de toda a alma, enfatizando assim a busca pela semelhança com o caráter divino.

No Novo Testamento, o apóstolo Paulo escreve em Romanos 8:29 sobre a predestinação dos crentes para serem conformes à imagem de Cristo, destacando o processo de transformação espiritual que ocorre na vida do cristão. Além disso, em Efésios 4:22-24, Paulo exorta os crentes a se despojarem do velho homem e a se revestirem do novo homem, criado segundo Deus em verdadeira justiça e santidade, evidenciando a necessidade de renovação interior para refletir o caráter de Cristo.

O cerne da formação do caráter de Cristo reside na imitação de seus atributos e ensinamentos. Cristo é frequentemente retratado como a encarnação do amor, da bondade, da misericórdia e da justiça divina. Assim, o crente é chamado a refletir essas virtudes em sua própria vida. Este processo não é instantâneo, mas gradual e contínuo, exigindo uma entrega total e uma colaboração ativa com o Espírito Santo. Afinal, nenhuma árvore dá frutos desde o seu nascimento. Mas se alimenta, fortalece, desenvolve e então frutifica.

Uma das características centrais do caráter de Cristo é o amor incondicional. Jesus ensinou-nos o amor, amando incondicionalmente não apenas aqueles que lhes eram afáveis, mas também os seus inimigos atrozes[2]. Este amor transcende barreiras e preconceitos, alcançando a todos sem distinção. Ao praticar o amor abnegado, o crente não apenas reflete a natureza divina, mas também promove a reconciliação e a unidade na comunidade, sendo-lhe promotor da paz.

Reforçando nosso argumento, Calvino enfatiza que o amor de Deus é fonte do amor humano e argumentou que os cristãos são capacitados pelo Espírito Santo a amar incondicionalmente, a exemplo do que fez o Senhor. E não somente ele, pois N. T. Wright, um dos principais estudiosos do Novo Testamento, explora profundamente o tema do amor de Deus, destacando o amor sacrificial de Cristo como o modelo supremo de amor incondicional. Ele argumenta que os cristãos devem imitar esse amor cotidianamente.

Além do amor, outro aspecto bastante relevante é a humildade; traço primordial do caráter de Cristo. Ele, sendo o próprio Filho Unigênito de Deus[3], escolheu se humilhar, servindo aos outros e submetendo-se à vontade do Pai[4]. Da mesma forma, o crente é chamado a renunciar ao orgulho e à arrogância, adotando uma postura de humildade e serviço. Ao fazê-lo, ele segue o exemplo de Cristo e testemunha a verdadeira grandeza que se encontra na simplicidade e na entrega.

A humildade é uma virtude que envolve reconhecer nossas limitações, defeitos e dependência de Deus, bem como valorizar os outros e estar disposto a servi-los sem esperar reconhecimento ou recompensa. Ela se manifesta em uma atitude de submissão voluntária e respeito em relação a Deus e aos outros, e muitas vezes está associada a características como modéstia, gentileza, simplicidade e desprendimento. E embora a humildade possa se manifestar de maneiras diferentes em diferentes contextos e situações de vida, ela é uma virtude que transcende a condição econômica, social ou indisposição de se fazer evidente. É uma postura do coração que independe de circunstâncias externas.

Outro aspecto crucial na formação do caráter de Cristo é a paciência e a perseverança. Jesus enfrentou inúmeras adversidades e contratempos durante seu ministério terreno, mas jamais desistiu de sua missão. Da mesma forma, o crente é chamado a manter a fé e a esperança mesmo diante das tribulações, confiando que Deus está trabalhando todas as coisas para o bem daqueles que o amam[5]. Esta perseverança fortalece o caráter e a fé do crente, capacitando-o a enfrentar os desafios da vida com confiança e determinação.

Além dessas virtudes, a formação do caráter de Cristo também implica na renovação da mente e na transformação dos padrões de pensamento e comportamento[6]. O apóstolo Paulo exorta os crentes a serem renovados em sua mente, deixando para trás os velhos hábitos e assumindo uma nova identidade em Cristo. Esta renovação interior é um processo contínuo, que ocorre através da meditação na Palavra de Deus, da oração e do companheirismo cristão.

Jesus Cristo é o exemplo máximo de amor, humildade, paciência e perseverança, como visto em passagens como João 13:34-35, onde Ele ensina sobre o mandamento do amor mútuo, e Mateus 20:28, onde Ele declara que veio para servir e não para ser servido. A imitação de Cristo é fundamental para a formação do caráter do crente, conforme destacado em 1 João 2:6, que nos instrui a andar como Ele andou.

A formação do caráter de Cristo no crente é uma jornada de crescimento espiritual e pessoal, onde o indivíduo se torna cada vez mais semelhante ao seu Salvador. Tendo o caráter de Cristo como sentido da vida, o crente reflete os atributos divinos em sua própria existência, testemunhando ao mundo o poder transformador do Evangelho. Que abracemos esta disposição com fé e determinação, confiando que aquele que começou a boa obra em nós há de completá-la até o dia de Cristo Jesus[7].

 



[1] Romanos 8:29

[2] Lucas 23:34

[3] João 3:16

[4] Filipenses 2:5-7; Mateus 26:39

[5] Romanos 8:28

[6] Romanos 12:1-2

[7] Filipenses 1:6

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