sexta-feira, 1 de agosto de 2014

=> É o Cofre mais que o Tesouro?





"Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração."
Mateus 6:19-21


Um dos registros mais edificantes do ministério de Jesus é o conhecido sermão da montanha. Entre outros aspectos, esse sermão resume a proposta de uma vida totalmente outra que Jesus apresentou aos seus discípulos e a todos que o ouviam. Muitas vezes contrapondo costumes sociais e religiosos até então aceitos, ele propõem uma atitude radicalmente contrária, mudando o foco do pensamento. Do “eu” para ”nós”, do “meu” para “nosso”, e do singular para o plural.

É nesse contexto de inversão da lógica da atitude humana, que Jesus propõe a substituição do lugar onde se guardar o “tesouro”. Portanto a atenção aqui não é o que eu guardo, mas sim onde eu guardo. A atenção está não no tesouro, mas no cofre.

Tesouro é tudo o que eu acumulo. Entesourar sempre foi um costume muito comum na sociedade judaica. Acostumados a bruscas variações das condições de sobrevivência em suas terras, o judeu desenvolveu o costume de guardar uma boa parte de tudo o que produzia ou tinha acesso, para eventuais períodos de escassez. E era comum que utilizasse menos do que o necessário para viver, para que entesourasse uma parte cada vez maior. Toda sua preocupação estava voltada para si mesmo ou para seus familiares diretos e próximos. Nessa atitude sôfrega de garantir seu futuro, era comum agir com mesquinhez e avareza.

O cofre, portanto, longe de ser um objeto ou um local, é antes uma atitude. E não estamos falando aqui de ganância. Isso seria óbvio e igualmente rejeitável pela sociedade. Jesus não condenava aqui a vontade de ter mais, mas sim a inquietação por garantir ter quando necessário ou desejado. Condenava a atitude ensimesmada de tentar ansiosamente se garantir pelas próprias mãos. Esse cofre na terra, no entanto, é frágil. Sujeito a roubo, à deterioração e à desvalorização. Pior! Louco, esta noite te pedirão a tua alma, e o que tens preparado (entesourado em teus celeiros, em teus cofres na terra) para quem será? O cofre na terra será sempre inseguro e incerto. E o tesouro que ali estiver será fruto da mesquinhez, da avareza, e da falta de confiança em Deus.

O tesouro guardado no céu, por sua vez, não pode ser roubado e nem sofrerá qualquer dano. Note que não há qualquer mudança no tesouro. Apenas do local onde ele é guardado. Ora, se o tesouro guardado no céu está em um cofre totalmente outro que o da terra, o que eu acumulo no céu, seja lá o que eu esteja entesourando, será guardado com confiança e generosidade, capaz de ser utilizado para o Reino, para o cuidado com o próximo. O tesouro no céu não me pertence. E não é resultado de minha ansiedade e inquietação pela vida. É na verdade fruto de minha confiança na providência, no cuidado e no amor de Deus.

Por isso a afirmação final de Jesus: onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. A vida pulsa em razão das emoções e não em função da consciência. Nossas emoções e nossos sentimentos precisam acumular nosso tesouro no cofre do céu. O descanso no cuidado de Deus que permite a generosidade e o desprendimento, é um refrigério para a alma, e um conforto para o coração.

2 comentários:

  1. Muito lindo, Deus continue te usando!

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    1. Obrigado Jonathan, pelo carinho e o incentivo. Em tudo seja o Senhor louvado. Um forte abraço...

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