“São milhares que jamais vimos.
Multidões a quem nunca nos dirigimos. E somos tomados de cumplicidade e
confiança, pela unidade da fé. É uma troca espontânea e intensa, em nada imposta
por regras ou artifícios. Um prazer que nos embala e arrebata, porque n’Ele
somos um; desconhecidos íntimos.”
JLjr
“42 E perseveravam na doutrina dos
apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. 43 Em
cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio
dos apóstolos. 44 Todos os que creram estavam
juntos e tinham tudo em comum. 45 Vendiam as suas propriedades e
bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha
necessidade. 46 Diariamente perseveravam unânimes
no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria
e singeleza de coração, 47 louvando a Deus e contando com a
simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia,
os que iam sendo salvos.”
Atos
2:42-47 - RA
Em
tempos em que as relações se pautam por conveniências e interesses os mais
diversos e suspeitos, a comunhão da igreja e o convívio espontâneo e prazeroso
pela unidade da fé, soa provocante aos corações e mentes, anunciando com contundência
e poder, o cuidado e a salvação que nos foi dada em Cristo, nosso Senhor.
Adolescente,
ávido por viver tudo ao mesmo tempo e intensamente, e sendo vizinho da Igreja
Batista de Cachambi por anos, lembro que me causava alguma estranheza ver tanta
gente perder o domingo inteiro na
igreja, enquanto eu e meus colegas nos divertíamos jogando bola na mesma rua. Digo
alguma, porque no fundo, embora criticasse com pilhérias os crentes que ousavam passar pelo meio de
nosso campo de futebol, havia em mim
uma inquietante pergunta sem resposta; o que os motivava a tanta dedicação?
Não
demorou muito para que, durante a semana da Escola Bíblica de Férias – EBF, eu
passasse a conhecer de dentro, o que impelia aquela gente a um convívio tão
continuado e intenso; o prazer. Sim, porque afirmação alguma, ou qualquer que
seja o mandamento, nada supera o apelo do prazer legítimo que a comunhão gera
em nossos corações. E como gosto de afirmar, sensações são mais fortes que argumentos.
Por isso “Quão bom e quão suave é que os
irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a
barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes.” (Salmos
133:1 e 2 - RC).
A comunhão é um perfume que agrada os que nos rodeiam e nos reveste de encanto.
É
claro que não falo de uma mera reunião ou ajuntamento. Com certeza já participamos
de grupos em que a proximidade não passava de conveniente formalidade ou
atitude protocolar. Nos mais variados ambientes, e não excluo aqui os religiosos,
percebemos olhares ocos, sentimos abraços frios, e amargamos apertos de mãos
sem vida. Por muito tempo alegria foi sinônimo de pouco siso. Sorrisos não
combinavam com piedade, e efusivas demonstrações de afetos entre os irmãos eram
vistas com estranheza e suspeição. O cuidado com o outro era responsabilidade de
pastores e líderes.
Que
fique ainda mais claro, que também não falo de demonstrações frívolas e
inconsistentes de proximidade, com palavras pré-moldadas ou frases colocadas, todas
para criarem uma falsa aparência de afinidade e emoção. De nada adiantam lábios
que se adulam mutuamente, com corações distantes e interesses conflitantes ou
divergentes. Intimidade se constrói sobre propósitos confluentes e o prazer
sincero de estarmos junto do outro, com o outro, e pelo outro. O milagre de
sermos um, sendo muitos; o poder do Espírito que habita em nós.
Ora,
o que é a comunhão para nós, senão o exercício legítimo da unidade da fé? E
esta mesma fé não é o dom de Deus derramado em nós por sua bondade e graça,
mediante o sacrifício de Jesus? Logo podemos afirmar sem qualquer medo ou insegurança,
que a vivência permanente e o convívio dos santos, em amor, são uma das mais
contundentes e profícuas pregações que a Igreja pode fazer ao mundo sobre tão grande salvação. A unidade da fé e a
comunhão em amor são proféticas ao mundo.
Portanto
não temos e não devemos nos envergonhar de nada que vivemos ou produzimos,
irmanados que estamos em Deus. Vivendo em comunhão e amor, louvando e adorando
o Autor da vida, pregamos a salvação. Porque se o amamos é porque Ele nos amou
primeiro. E se somos um, é porque ele nos salvou. Louvado seja o nosso salvador.
Amém.
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