sábado, 8 de novembro de 2014

ENEM aí pra ninguém...





“Sempre ouvi dizer que o sucesso está nos detalhes. Se isso é verdade, grande parte do insucesso das políticas públicas está exatamente na distância entre o que se planeja e o que é efetivamente realizado. Ora por falta de vontade e efetividade, ora pelo não engajamento ideológico da equipe que deveria realizar o planejado. O problema às vezes é de essência e de gente”
                      JLjr

Eu me lembro bem, não faz muito tempo, durante a campanha eleitoral para a presidência da república, o Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM, foi amplamente utilizado como exemplo de gestão e de política publica para a Educação. Um grande feito desse ministério e do governo do PT. Um sucesso que particularmente questiono, não tanto por sua pertinência, mas pelos detalhes logísticos que, desconsiderados, podem interferir para sempre na vida de tantos jovens que sonham com o ingresso em uma faculdade.

Podemos começar com a espetacular definição dos locais de prova. Um processo que, se tem alguma lógica, não atende ao mínimo de coerência na distribuição dos candidatos pelas unidades. Um maciço e desnecessário cruzamento de bairros ainda que próximos, mas que na prática se torna intransponível, dado o trânsito extra de um dia de prova. Na região de Jacarepaguá, aqui no Rio de Janeiro, candidatos residentes na Taquara, Tanque e Curicica, lotados em unidades da Freguesia e vice-versa. Resultado; só na sala em que prestei exame mais da metade não apareceu. Minha filha relatou mesma proporção onde ela fez sua prova. Ah! Sim. Eu fiz o ENEM, então estou falando como quem participou do processo.

Me pareceu que por principio os candidatos foram distribuídos segundo a letra inicial de seus nomes, dentro de uma determinada região geográfica. Um critério que pode até funcionar em cidades pequenas ou em lugares onde o trânsito local não ofereça um engarrafamento tão absurdo num sábado de prova nacional. Numa grande cidade como o Rio, o critério mais simples seria o do CEP do candidato relacionado ao CEP da unidade mais próxima. Assim evitaríamos deslocamentos significativos, como o que realizamos ano passado, quando morando em Colégio, minha filha foi lotada em uma unidade no Engenho Novo, mais de quinze quilômetros de distância, que foram percorridos em duas horas de carro, sempre buscando caminhos alternativos, tamanho o nó no trânsito daquele dia. Imaginei que a experiência do ano passado tivesse servido às autoridades e responsáveis, para que tal circunstância não se repetisse. Doce ilusão.

Depois voltarei na questão logística. Porque uma outra e importante preocupação foi a relação “quantidade de questões x tempo de prova” Tenho a impressão que o iluminado que calculou isso jamais realizou uma prova, ou se o fez, sempre teve o gabarito no colo. Questões longas que requeriam excessivo cuidado na leitura, tanto do enunciado quanto das alternativas, jamais poderiam atender ao coeficiente de três minutos por questão, sem contar que uma grande quantidade das noventa questões demandava cálculo. Tanto é verdade, que na prova da UERJ o quoeficiente é de quatro minutos por questão. Presenciei muitos candidatos apressando suas marcações ou fazendo as últimas quinze questões de qualquer forma, para não correrem o risco de não completarem a prova.

Voltando, alguém aí falou em trânsito? Durante a semana, quem trafega por qualquer região no Rio de Janeiro, e sei que também em outras cidades como São Paulo, esbarra até sem querer num contingente imensurável de agentes de trânsito. São tantos, que lotariam facilmente um Maracanã em dia de decisão. Mas hoje, um dia de evento nacional, quando que uma quantidade enorme de candidatos se desloca pela cidade, não havia qualquer agente da CET-Rio nas ruas auxiliando o escoamento do trânsito. Resultado? Nó na Taquara, nó no Pechincha e na Freguesia, para ficarmos nos bairros em que fui testemunha ocular do fato.

Alguém poderia argumentar que não são problemas assim tão graves e que não dizem respeito diretamente ao ENEM. Concordo e descordo. Porque se é verdade que o exame propriamente dito não deixou de ter sua aplicação realizada, por outro lado a falta de cuidado com pequenos detalhes que acarretam grandes transtornos, demonstra ausência de planejamento e de coordenação do aplicador nacional do exame com as autoridades locais, para garantir que a totalidade dos candidatos inscritos consiga ter o acesso necessário às suas unidades de prova.

Pra piorar a sensação de quem foi impedido de prestar o exame por circunstâncias que estiveram além de suas possibilidades e previsibilidades, a Jornal Nacional em sua edição de hoje, ressalta apenas que alguns “atrasados perdem a prova por se atrasarem”, deixando de prestar um importante serviço, que seria a cobrança desses cuidados por parte dos organizadores. Um desserviço a que já vimos nos acostumando ultimamente.

Por fim, amanhã teremos mais. Domingo sem tanto carro na rua e bem menos candidatos acorrendo aos locais de prova. O ENEM será um sucesso! E com a contabilização do total de inscritos, não dos que conseguiram realizá-lo.

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