segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A boca flagra o coração



Por Jânsen Leiros Jr.


43 Porque não há árvore boa que dê mau fruto nem tampouco árvore má que dê bom fruto. 44 Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois dos espinheiros não se colhem figos, nem dos abrolhos se vindimam uvas. 45 O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, do seu mau tesouro tira o mal; pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. 

46 E por que me chamais: Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu vos digo?    47 Todo aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante: 48 É semelhante ao homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala, e pôs os alicerces sobre a rocha; e vindo a enchente, bateu com ímpeto a torrente naquela casa, e não a pôde abalar, porque tinha sido bem edificada. 49 Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre terra, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a torrente, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela casa."
Lucas 6:43-49 - JFA

Uma das maiores crises morais que vivemos no mundo moderno, é a crise de legitimidade. Ao longo do dia, nos mais diferentes grupos de convívio, seja no trabalho ou em família, seja em roda de amigos ou nas igrejas, convivemos com personagens irreais, elaborados e construídos para encobrir verdades nada agradáveis, que habitam os porões de almas inquietas e perplexas pelo confronto com suas naturezas nada encantadoras.

No afã de se tornarem aprovadas e reconhecidas, pessoas se esmeram em camuflar sensações e pensamentos, vivendo a mímica de vidas alheias, tornando-se um reflexo embaçado de pessoas que imaginam ser bem sucedidas, autênticas e felizes. No fundo, montaram uma cópia de si mesmas, onde suas falas e gestos se desenvolvem à parte do ente que se desloca pelo mundo.

Muitas são as motivações de quem monta esse personagem, e nem sempre tal elaboração é maliciosamente pensada. Em muitos casos advém da necessidade quase involuntária de se perceberem aceitos e inseridos em contextos ou circunstâncias, que acreditam ser vitais ou preferenciais para suas existências cotidianas.

Ainda que aparentemente inofensivas, e resultantes de uma atitude permissiva da alma que aceita o menor dano, tais máscaras não se legitimam por suas pseudoinocências. Muito pelo contrário. Elas são o caminho mais curto para uma frustração iminente, que se anuncia a cada conquista que se obtenha por conta da inverdade criada, e sustentada às custas de enganos que se avolumam em uma história longa ou curta. Sim, porque a cada ato do outro, em favor desse eu que não existe, mais evidente fica para mim mesmo que, não fosse eu quem realmente não sou, para muitos eu nada seria. Então o medo de perder o que se tem, realimenta a mentira. Mas até quando? Porque ninguém engana todo mundo o tempo todo.

Jesus alerta que toda farsa tem vida curta. Nenhum engano, por mais bem engendrado que seja, resistirá à prova do fruto. E por que isso? Porque o fruto está intimamente ligado à semente. Não há como esperar brotar abacate, de uma semente de mostarda. O bem não advém de um mal tesouro, nem o contrário pode ser. Pelo fruto se conhece a árvore. E o verdadeiro fruto sempre se apresenta; a boca fala do que está cheio o coração[1].

A falácia de uma vida ilusória, ergue uma casa que não resiste às intempéries cotidianas. O mundo real a castiga com imprevistos, contratempos, e tempestades, que a levam à ruína. A mentira de uma vida inventada não resiste à verdade de dias reais e difíceis. Logo a verdade do que somos se imporá às nossas relações. E o que se faz quando flagrado sendo o que realmente se é? Um dia a casa cai.

Não é sem razão que Jesus fala tanto sobre coração verdadeiro, sobre coração puro. Não é de um coração sem pecado, mas sim de um coração verdadeiro, ainda que pouco atraente em sua realidade. Ainda que ausente de orgulho pelo que é, ou repleto de motivos pelos quais se envergonhe. Um coração puro é aquele do qual toda fantasia e mentira foi retirada, e se mostrou verdadeiro, consciente de sua dependência de Deus, sendo o que é. A um coração contrito e quebrantado não resiste o Senhor[2].

Aquele que observa com temor e dedicação à verdade revelada de Deus, é capaz de passar por dias difíceis e de grandes tormentas. Porque a Palavra de Deus é rocha, onde os alicerces bem fundados, e o bom tesouro bem guardado, garantem o bom fruto, sustentado em segurança. Não dá para viver uma vida dupla. Deus não se relaciona com personagens! É nessa máxima que se fiam aqueles que se derramam em espírito e em verdade diante de Deus.

Que tipo de semente tem sido plantada em seu coração? E de que procedência são os valores que se acumulam em seu peito? Ou ainda, em qual terreno tem alicerçado os fundamentos de seu edifício espiritual? Que Deus nos conceda a coragem e a confiança de sermos sempre o que somos, sendo por Ele recebidos e curados, e atraentes aos corações que realmente importam, pelo que realmente somos.



[1]  Mateus 12:34; Lucas 6:45
[2]  Salmos 51:17

Um comentário:

  1. Devemos ter cuidado com o que falamos e agimos...A boca fala aquilo que o coração está cheio!...Mateus 12:34 (2ªparte)

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