segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Quando suas posses expressam amor


Por Jânsen Leiros Jr.


1 Logo depois disso, andava Jesus de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus; e iam com ele os doze, 2 bem como algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios. 3 Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Susana, e muitas outras que os serviam com os seus bens."
Lucas 8:1-3 - JFA

Nunca fui muito de falar desse assunto. Na verdade quase sempre fugi dele. Seu caráter polêmico e o receio de ser confundido com aproveitadores e charlatões que pululam em nossos dias, sempre me mantiveram afastado da questão do sustento dos empreendimentos missionários, exclusivamente dedicados ao anúncio do evangelho.

Quando falo de empreendimentos missionários, não me refiro a  missões como ações em terras distantes apenas. Mas também, e igualmente importante, do que chamo de missões ao lado, que acontecem dentro do universo alcançável por nossos passos cotidianos e rotineiros, normalmente realizados no âmbito de nossas igrejas locais.

E me sinto muito mais à vontade para tocar nesse assunto, tendo em vista o texto acima. Pela dedicação exclusiva ao anúncio do evangelho do reino de Deus, o próprio Jesus recebeu ajuda de pessoas piedosas, no caso mulheres, que a exemplo de seus doze discípulos mais chegados, o acompanhavam em suas jornadas de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, como narrado aqui em Lucas.

Ora, todos sabem que Jesus era carpinteiro, tendo aprendido a profissão de seu pai José. Isso certamente lhe rendeu algum sustento enquanto vivia junto de sua família. Após ser batizado, porém, Jesus passou a dedicar-se exclusivamente ao anúncio do evangelho, não lhe sendo mais possível fazer do trabalho seu meio de subsistência. As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça[1].

O cuidado de algumas mulheres em prover os recursos necessários, a Jesus e aos doze, parece não ter sido colocado aqui por acaso. O final do capítulo 7 de Lucas, do qual falamos no Exercício Diário 008[2], falava de uma mulher pecadora, cuja gratidão levou a uma extremada expressão de adoração, lavando com lágrimas e enxugando com os próprios cabelos os pés de Jesus, e ainda beijando-os e ungindo-os com um produto de grande valor no contexto social daquela época.

Nos evangelhos de Mateus, Marcos e João[3], a mesma cena se desenvolve com algumas variáveis, porém a mais destacada é a reação aparentemente piedosa daqueles que condenaram a atitude daquela mulher, considerando que ela deveria vender aquela especiaria tão valiosa, e dar aos pobres. Uma acusação de desperdício estava implícita, pois sua atitude fora julgada e desqualificada. A avareza de tais homens, no entanto, não lhes permitira valorizar o gesto de amor e devoção. Somos sempre tentados a buscar utilidade e pragmatismo em todos os nossos atos e gestos. A adoração extremada e com aquilo que possuímos parece aos olhos dos outros, um exagero e um despropósito sem sentido ou utilidade.

Aquela mulher pecadora, segundo o texto, encontrou um meio de declarar sua satisfação e devoção a Jesus pelo que lhe havia feito; ele a resgatara de sua vida de pecados. Da mesma maneira, as mulheres que acompanhavam Jesus em sua jornada, encontraram no sustento de sua missão, uma forma adequada às suas possibilidades, para expressarem seu amor e agradecimento pelo que Jesus havia realizado em suas vidas, pois as curara de diferentes e infelizes condições.

É importante ressaltar que o que realizavam não era uma barganha; eu te dou você me dá. Muito pelo contrário, elas ajudavam com espírito de devoção, movidas pela gratidão de quem já havia recebido inteiramente de graça, e pela graça, tudo o que mais desejavam; uma vida nova e restaurada. O sustento ao ministério de Jesus era para aquelas mulheres, portanto, um ato de amor e consagração, além da expressão prática de quem apoia algo que espera ver anunciado a muitos.

Nossa adoração e louvor têm refletido nossa gratidão pelo perdão infinito que de Deus temos recebido? Temos nos oferecido como sacrifícios vivos em um culto racional? Ou não passamos de fariseus que apenas convidam Jesus para um jantar, numa mera formalidade de quem não se imagina necessitado do amor de Cristo? E se nesse caminho de entrega e dedicação nos for necessário abrir mão de posses ou usa-las; as doamos ou perdemos?

Que o Senhor que não precisa de nada do que lhe venhamos a oferecer, receba nossa gratidão, e que essa se expresse da maneira que nos for mais valorosa, mas não pelo maior preço. Deus conhece todos os corações[4].



[1]  Mateus 8:20
[2]  http://teologandoso.blogspot.com.br/p/1-quisera-eu-me-suportasseis-umpouco.html
[3]  Mateus 26:6-13; Marcos 14:3-9; João 12:1-8
[4]  2 Coríntios 9:7

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