terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Distrações 3 - Perto de quem come, mas orando por quem trabalha




16 Ninguém, pois, vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa de dias de festa, ou de lua nova, ou de sábados,17 que são sombras das coisas vindouras; mas o corpo é de Cristo.18 Ninguém atue como árbitro contra vós, afetando humildade ou culto aos anjos, firmando-se em coisas que tenha visto, inchado vãmente pelo seu entendimento carnal,19 e não retendo a Cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo com o aumento concedido por Deus.
20 Se morrestes com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos sujeitais ainda a ordenanças, como se vivêsseis no mundo,21 tais como: não toques, não proves, não manuseies 22 (as quais coisas todas hão de perecer pelo uso), segundo os preceitos e doutrinas dos homens? 23 As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria em culto voluntário, humildade fingida, e severidade para com o corpo, mas não têm valor algum no combate contra a satisfação da carne.”
                      Colossenses 2:16-23 – NTLH

Nas últimas semanas acirraram-se os comentários sobre o carnaval, e a participação da IBC-Barra na programação dos blocos que desfilam no circuito do Recreio, com seu bloco Sou Cheio de Amor. Entre acusações e defesas que variaram de pertinentes à despropositadas, muito se falou com argumentos de ambas as partes, fazendo dessa questão um pleito que remetia a um tribunal inquisidor, onde intenções e propósitos foram julgados à luz de uma "lei" ascética, e austeridades foram caluniadas como inércia e falta de amor pelas almas. Vaidade de vaidade, diria Salomão, tudo é vaidade.

Confesso que a situação também me causou certo embaraço no início, pois tendemos a rejeitar imediata e superficialmente, tudo o que vai de encontro às nossas predileções, hábitos e costumes. Batistão há quase quarenta anos, ter um bloco de carnaval com integrantes de uma igreja batista, me causou estranheza e um incômodo que beirou à perplexidade. E o assunto foi profundamente discutido em casa, com idas e vindas em posições que sempre davam lugar a outra argumentação mais adequada, num crescente de percepções que foram forjando o entendimento que declaro aqui. E que fique bem claro, é o meu entendimento, porque somente Deus pode julgar os segredos dos corações, e o caminho dos homens.

Pela experiência de vida no tempo e pelo exercício cotidiano da fé, e tendo ainda vivenciado diversas oportunidades em que Deus agiu soberanamente alheio aos nossos postulados e pretensos rigores da forma e do método, tenho a convicção de que Ele é soberano em seus propósitos e não se permite engessar, conquanto se mantém fiel ao seu amor pela humanidade, e ao interesse por sua conversão.


24 Passados uns três meses, foram levar notícias a Judá: “Eis que tua nora Tamar prostituiu-se e ficou grávida por causa de sua má conduta!” Então Judá ordenou: “Tirai-a para fora de casa e que seja queimada viva!”.25  Assim que a agarraram, ela mandou dizer a seu sogro: “Sim! Estou grávida do homem a quem pertence isto. Vê se o senhor reconhece a quem pertence este selo, este cordão e este cajado”. 26  Judá os reconheceu e declarou: “Ela é mais justa do que eu, porquanto não cumpri minha palavra, dando-a como esposa ao meu filho Selá”. E nunca mais teve relações sexuais com ela.”
                      Gênesis 38:24-26 – KJA


13 E, em seguida, uma voz lhe ordenou: “Levanta-te, Pedro! Sacrifica e come”.
 14 Porém, Pedro replicou: “De maneira alguma, Senhor! Porquanto jamais comi alguma coisa profana ou impura”.15 Contudo, a voz insistiu pela segunda vez: “Não consideres impuro o que Deus purificou!”
                      Atos 10:13-15 – KJA


“Eram tão-somente ordenanças que tratavam de comida e bebida e de várias cerimônias de purificação com água; esses mandamentos exteriores foram impostos até a chegada do tempo da nova ordem.”
                      Hebreus 9:10 – KJA

Não gosto de carnaval e nunca gostei. Não gosto de bloco e nem de aglomerações. Mas esse é um pensamento e costume MEU! Não posso ser presunçoso ou pretensioso a ponto de achar que MEUS gostos e MEUS pensamentos sejam espelho ou régua do pensamento e dos propósitos de Deus. Pedro foi advertido pelo anjo, após ter chamado de "impuro" aquilo que Deus havia purificado, referindo-se ao evangelho ser anunciado aos gentios. Tamar suscitou herdeiros ao filho mais velho de Judá, cumprindo mais a justiça do que Judá que obedecia à lei, requerendo sua morte devido a presumida prostituição.

A própria Bíblia contém significativas narrativas de circunstâncias em que o que se imaginava incorreto ou contrario à lei, prevaleceu sobre a lei ou as tradições religiosas do momento. Lembrem-se o quanto Jesus quebrou de paradigmas contrariando fariseus e escribas, colocando-se contrário a eles na interpretação da lei, sendo firme no propósito de acolher o pecador. Em Cristo, a humanidade tomou ainda maior importância diante de Deus, estando a lei e as ordenanças completamente inoperantes e incompetentes para a salvação da humanidade.

Não bastasse isso, também aprendi que cada um com seu dom, contribui para o crescimento da igreja e para a pregação do evangelho. Eu preferencialmente me gasto em testemunho de fé pela pregação e o ensino da Palavra. Gosto do discurso do amor incondicional, e de anunciar o amor de Deus em Jesus, falando, ensinando e discipulando. Mas, outra vez, é um caso de preferência, pois é o meu dom. Há multiplicidade de dons, e cada um serve a Deus com aquilo que lhe foi concedido.

Não gosto de carnaval e nem iria a qualquer bloco. Mas isso é gosto e não posição teológica ou espiritual. Como estratégia de evangelização também não usaria, porque tendemos a utilizar o que gostamos de fazer e que nos dá prazer. Mas quem pode em sã consciência negar que Deus pode agir e efetivamente age como quer e bem entender? Repito, só o Senhor poderá julgar as intenções. Não devemos jogar fardos sobre os outros, ou determinarmos julgo que não pretendem ou não lhes é próprio carregar. Não me cabe impor quaisquer predileções minhas e particulares visões a quem quer que seja. Principalmente porque falo de irmãos na fé, de quem presumo estarem sob a mesma unção que nos foi dada quando da fé na ressurreição de nosso Senhor e Salvador. Ou julgaremos também suas conversões e dedicação a Deus?

Portanto, se eu não gosto da idéia, tampouco dela desgosto. E se não vou ao bloco por questão de gosto e costume pessoal, orarei a Deus para que os corações sejam alcançados pelo trabalho e dedicação daqueles que ali se juntam para proclamá-lo com ousadia e temor, tendo como firme o propósito anunciado de testemunhar da salvação em Jesus.

Como bem disse a Fernanda Brum em seu comentário, e o autor de Hebreus no texto acima, tudo isso é vão e acabará quando Jesus se manifestar. E toda diferença será nada. Portanto o que nos une é sempre mais forte e infinitamente mais importante do que aquilo que eventualmente nos separe. E olha que nem separa tanto assim!

Ora, discutir o que seria certo ou errado, é totalmente irrelevante, diante do que o Senhor pode realizar, independentemente dos meus gostos ou preferências. Nossa luta não é contra a carne. Temos horizontes muito mais amplos nos quais devemos lançar nossos olhares. Uma nação imensa para evangelizar. Desafios muito mais profundos, como o crescimento espiritual individual, porque cada um deve cuidar de como cresce e frutifica.

Os irmãos que vêem falando contra a ação da IBC-Barra, falam do que não conhecem ou tentam implementar ascetismo frívolo e fora de contexto, contra o qual Paulo brigava profundamente. É preciso lembrar que em momento algum se falou em "brincar o carnaval" num bloco alternativo. É antes um movimento de inserção num ambiente hostil e num momento difícil, em que o objetivo é anunciar a salvação e um encontro com Deus, a quem, perdido, tenta loucamente satisfazer seus vazios e questionamentos em bebedeiras, sexo casual e drogas. Não fizemos a mesma coisa na época do primeiro Rock in Rio, distribuindo folhetos na porta do evento? Não fomos tantas vezes para dentro de presídios levar a mensagem do evangelho a bandidos perigosos. Lembro que fazíamos essas coisas com o coração repleto de desejo pela salvação daqueles que nos iriam escutar...

A IBC-Barra tem esse perfil evangelístico e o bloco Sou Cheio de Amor não fere em nada esse seu perfil. Além disso, não obstante minhas predileções, defenderia até minha ultima gota de sangue o direito de seus membros de implementarem a estratégia que melhor lhes pareça utilizar, porque não sabemos o que Deus prepara para alcançar essa ou aquela pessoa. Quem somos nós para dizermos por quais caminhos Deus deve de trilhar, ou que metodologia utilizar, para chamar alguém para perto de si mesmo? Ou queremos nós dizer como o Senhor deve ou não agir? Somos mandantes ou mandatários no dever da evangelização?

De modo que Deus não se deixa frustrar. Sua vontade sempre prevalecerá. E quaisquer que sejam nossas opiniões, estratégias, convicções ou suspeitas, elas jamais operarão a bondade, o amor e a misericórdia do Senhor, em quem todas as nossas divagações, são apenas reflexos embaçados da verdade prevalente e sempre perfeita de Deus.

Portanto, quem for de bloco que vá e se esmere em Cristo com temor e singeleza de coração. Quem não for, que os sustente em oração. Em tudo seja o Senhor louvado!

Um forte abraço.

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