Por Jânsen Leiros Jr
“37 No dia seguinte, quando desceram
do monte, veio-lhe ao encontro uma grande multidão. 38
E eis que um homem dentre a multidão clamou, dizendo: Mestre, peço-te que olhes
para meu filho, porque é o único que tenho; 39 pois um espírito se apodera
dele, fazendo-o gritar subitamente, convulsiona-o até escumar e, mesmo depois
de o ter quebrantado, dificilmente o larga. 40 E roguei aos teus discípulos que
o expulsassem, mas não puderam. 41 Respondeu Jesus: Ó geração
incrédula e perversa! até quando estarei convosco e vos sofrerei? Traze-me cá o
teu filho. 42 Ainda quando ele vinha chegando,
o demônio o derribou e o convulsionou; mas Jesus repreendeu o espírito imundo,
curou o menino e o entregou a seu pai.
43
E todos se maravilhavam da majestade de Deus. E admirando-se todos de tudo o
que Jesus fazia, disse ele a seus discípulos: 44 Ponde vós estas palavras em vossos
ouvidos; pois o Filho do homem está para ser entregue nas mãos dos homens. 45
Eles, porém, não entendiam essa palavra, cujo sentido lhes era encoberto para
que não o compreendessem; e temiam interrogá-lo a esse respeito.
46
E suscitou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior. 47
Mas Jesus, percebendo o pensamento de seus corações, tomou uma criança, pô-la
junto de si, 48 e disse-lhes: Qualquer que
receber esta criança em meu nome, a mim me recebe; e qualquer que me receber a
mim, recebe aquele que me enviou; pois aquele que entre vós todos é o menor,
esse é grande.
49
Disse-lhe João: Mestre, vimos um homem que em teu nome expulsava demônios; e
lho proibimos, porque não segue conosco. 50 Respondeu-lhe Jesus: Não lho
proibais; porque quem não é contra vós é por vós."
Lucas
9:37-50 - JFA
Retornando do monte onde se dera a
transfiguração, uma numerosa multidão já aguardava por Jesus. Os discípulos
provavelmente silentes sobre o que se havia passado lá no alto, talvez olhassem
para a multidão e pensassem; se vocês
soubessem o que aconteceu lá em cima... Não houve, contudo, tempo para absolutamente
qualquer conversa entre eles.
Um homem entre tantos roga a Jesus que
olhe para seu filho, porque é único;
o seu unigênito. A exemplo do filho da viúva em Naim e da filha de Jairo, ser o
filho único prefigurava o resgate que Deus faria de seu único filho; o que já
havia predito em Lucas
9:22.
Aquele pai está desesperado, principalmente porque aqueles que anteriormente
haviam recebido autoridade para expulsar demônios, e haviam saído pelas cidades
da Judéia a realizar tal tarefa com algum sucesso, não haviam conseguido
expulsar o demônio daquele menino.
Óh
geração incrédula e perversa! Jesus se indigna com
o fracasso dos discípulos naquela tarefa, afirmando que tal acontecera por
terem uma fé pequena, menor do que um grão de mostarda. Se a tivessem ao menos
desse tamanho, afirma ele em Mateus, nada
vos seria impossível[1].
Assim também afirma ao pai na mesma passagem, agora pela ótica narrativa de
Marcos[2];
tudo é possível ao que crê. Até quando estarei convosco e vos sofrerei?
Sua partida estava próxima. Ele não estaria mais entre eles, para realizar as
curas e os milagres que dele esperavam receber. A quem poderia confiar a tarefa
de cuidar daqueles que dele dependiam, senão aos seus discípulos?
A narrativa de Marcos, inclusive, nos
amplia a importância desse acontecimento, na medida que prolonga o diálogo
entre Jesus e o pai do menino. Após detalhar um pouco sobre o sofrimento de seu
filho com aquele demônio, o próprio pai faz-lhe um apelo em tom de minhas últimas forças. Desde a infância
se repetiam episódios de risco de morte para aquele menino, e seu pai já não
sabia a quem recorrer; se tu podes alguma
coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos.
Fica claro, pela maneira com que o pai
apela, que tanto quanto o menino, ele sofre profundamente vendo-o naquelas
condições. Sua impotência diante do mal que acomete seu único filho lhe
dilacera a alma, e lhe deixa cansado e sem forças. Provavelmente o fracasso dos
discípulos em expulsar aquele demônio, foi mais uma das decepcionantes
tentativas de dar fim ao sofrimento dos dois, e era natural que isso abalasse
sua confiança. Eu creio! Ajuda-me na
minha falta de fé[3].
De alguma forma, contudo, aquele pai entendia ser Jesus sua última oportunidade
de solução para sua dor. Peço-te que
olhes para meu filho. Aquele menino então foi liberto e entregue são ao seu
pai.
Em seguida uma disputa impregnada de
vaidade surgiu entre os discípulos, Quem
seria o maior deles? Quem seria o braço direito de Jesus em seu reino?
Aquele que em suas eventuais ausências comandaria e cuidaria do reino que seria
implementado pelo Mestre? A discussão deixa claro que os discípulos até aquele
momento, não obstante a confissão feita há pouco por Pedro[4],
nada haviam entendido sobre o Cristo e sua missão. Porque no reino de Jesus, o
menor é efetivamente o maior, e o principal exatamente o que serve. Ser relevante e útil é o que
determina ser maior no reino dos
céus.
Mudando de assunto, talvez procurando
evitar o constrangimento passado pelos discípulos, João atravessou a conversa comentando sobre a proibição dada a um homem
que expulsava demônios em nome de Jesus, já que esse não anda sempre conosco. Talvez ele entendesse que isso seria
louvado por Jesus e amenizaria as broncas que haviam levado até então. Mas Jesus
novamente os surpreende; quem não é
contra nós é por nós. O homem não incomodava, senão à vaidade de quem sempre
precisa criar separações, grupos, e outras tantas reuniões e ajuntamentos, como
clubes fechados e elites, para se sentirem especiais exaltando-se a si mesmos
mutuamente. Na verdade o que João estava propondo era uma distração, um assunto
que desviasse o foco da incômoda sensação de haverem fracassado, na fé e na humildade.
Ora, a falta de convicção nos faz
fracassar em tarefas simples na vida. Por vezes isso se dá por estarmos
envolvidos em questões totalmente sem importância, secundárias ou mesmo
acidentais, como fútil é saber quem de nós é o maior, o melhor, e o mais. Ao sermos flagrados em atitudes
como essa, voltamos um olhar crítico aos outros, apontando o dedo para ali, quando na verdade o problema
sempre esteve aqui, em nós e em
nossa mesquinhez. O que pretendemos de nossas vidas no reino de Deus? Sermos
foco de holofotes, ou libertarmos almas atormentadas, necessitadas de cura,
para viverem vidas simples, mas íntegras? Até quando nos importaremos com frugalidades religiosas, enquanto tantos
suplicam que sejamos sal e luz?
Que o Senhor nos permita discernir o
que realmente importa fazer, para que nosso testemunho comunique arrependimento
e salvação. O Senhor em tudo e por tudo seja louvado.
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