quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Enquanto fúteis, inúteis



Por Jânsen Leiros Jr


37 No dia seguinte, quando desceram do monte, veio-lhe ao encontro uma grande multidão. 38 E eis que um homem dentre a multidão clamou, dizendo: Mestre, peço-te que olhes para meu filho, porque é o único que tenho; 39 pois um espírito se apodera dele, fazendo-o gritar subitamente, convulsiona-o até escumar e, mesmo depois de o ter quebrantado, dificilmente o larga. 40 E roguei aos teus discípulos que o expulsassem, mas não puderam. 41 Respondeu Jesus: Ó geração incrédula e perversa! até quando estarei convosco e vos sofrerei? Traze-me cá o teu filho. 42 Ainda quando ele vinha chegando, o demônio o derribou e o convulsionou; mas Jesus repreendeu o espírito imundo, curou o menino e o entregou a seu pai.  

43 E todos se maravilhavam da majestade de Deus. E admirando-se todos de tudo o que Jesus fazia, disse ele a seus discípulos: 44 Ponde vós estas palavras em vossos ouvidos; pois o Filho do homem está para ser entregue nas mãos dos homens. 45 Eles, porém, não entendiam essa palavra, cujo sentido lhes era encoberto para que não o compreendessem; e temiam interrogá-lo a esse respeito.  

46 E suscitou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior. 47 Mas Jesus, percebendo o pensamento de seus corações, tomou uma criança, pô-la junto de si, 48 e disse-lhes: Qualquer que receber esta criança em meu nome, a mim me recebe; e qualquer que me receber a mim, recebe aquele que me enviou; pois aquele que entre vós todos é o menor, esse é grande.  

49 Disse-lhe João: Mestre, vimos um homem que em teu nome expulsava demônios; e lho proibimos, porque não segue conosco. 50 Respondeu-lhe Jesus: Não lho proibais; porque quem não é contra vós é por vós."
Lucas 9:37-50 - JFA

Retornando do monte onde se dera a transfiguração, uma numerosa multidão já aguardava por Jesus. Os discípulos provavelmente silentes sobre o que se havia passado lá no alto, talvez olhassem para a multidão e pensassem; se vocês soubessem o que aconteceu lá em cima... Não houve, contudo, tempo para absolutamente qualquer conversa entre eles.

Um homem entre tantos roga a Jesus que olhe para seu filho, porque é único; o seu unigênito. A exemplo do filho da viúva em Naim e da filha de Jairo, ser o filho único prefigurava o resgate que Deus faria de seu único filho; o que já havia predito em Lucas 9:22. Aquele pai está desesperado, principalmente porque aqueles que anteriormente haviam recebido autoridade para expulsar demônios, e haviam saído pelas cidades da Judéia a realizar tal tarefa com algum sucesso, não haviam conseguido expulsar o demônio daquele menino.

Óh geração incrédula e perversa! Jesus se indigna com o fracasso dos discípulos naquela tarefa, afirmando que tal acontecera por terem uma fé pequena, menor do que um grão de mostarda. Se a tivessem ao menos desse tamanho, afirma ele em Mateus, nada vos seria impossível[1]. Assim também afirma ao pai na mesma passagem, agora pela ótica narrativa de Marcos[2]; tudo é possível ao que crê. Até quando estarei convosco e vos sofrerei? Sua partida estava próxima. Ele não estaria mais entre eles, para realizar as curas e os milagres que dele esperavam receber. A quem poderia confiar a tarefa de cuidar daqueles que dele dependiam, senão aos seus discípulos?

A narrativa de Marcos, inclusive, nos amplia a importância desse acontecimento, na medida que prolonga o diálogo entre Jesus e o pai do menino. Após detalhar um pouco sobre o sofrimento de seu filho com aquele demônio, o próprio pai faz-lhe um apelo em tom de minhas últimas forças. Desde a infância se repetiam episódios de risco de morte para aquele menino, e seu pai já não sabia a quem recorrer; se tu podes alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos.

Fica claro, pela maneira com que o pai apela, que tanto quanto o menino, ele sofre profundamente vendo-o naquelas condições. Sua impotência diante do mal que acomete seu único filho lhe dilacera a alma, e lhe deixa cansado e sem forças. Provavelmente o fracasso dos discípulos em expulsar aquele demônio, foi mais uma das decepcionantes tentativas de dar fim ao sofrimento dos dois, e era natural que isso abalasse sua confiança. Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé[3]. De alguma forma, contudo, aquele pai entendia ser Jesus sua última oportunidade de solução para sua dor. Peço-te que olhes para meu filho. Aquele menino então foi liberto e entregue são ao seu pai.

Em seguida uma disputa impregnada de vaidade surgiu entre os discípulos, Quem seria o maior deles? Quem seria o braço direito de Jesus em seu reino? Aquele que em suas eventuais ausências comandaria e cuidaria do reino que seria implementado pelo Mestre? A discussão deixa claro que os discípulos até aquele momento, não obstante a confissão feita há pouco por Pedro[4], nada haviam entendido sobre o Cristo e sua missão. Porque no reino de Jesus, o menor é efetivamente o maior, e o principal exatamente o que serve. Ser relevante e útil é o que determina ser maior no reino dos céus.

Mudando de assunto, talvez procurando evitar o constrangimento passado pelos discípulos, João atravessou a conversa comentando sobre a proibição dada a um homem que expulsava demônios em nome de Jesus, já que esse não anda sempre conosco. Talvez ele entendesse que isso seria louvado por Jesus e amenizaria as broncas que haviam levado até então. Mas Jesus novamente os surpreende; quem não é contra nós é por nós. O homem não incomodava, senão à vaidade de quem sempre precisa criar separações, grupos, e outras tantas reuniões e ajuntamentos, como clubes fechados e elites, para se sentirem especiais exaltando-se a si mesmos mutuamente. Na verdade o que João estava propondo era uma distração, um assunto que desviasse o foco da incômoda sensação de haverem fracassado, na e na humildade.

Ora, a falta de convicção nos faz fracassar em tarefas simples na vida. Por vezes isso se dá por estarmos envolvidos em questões totalmente sem importância, secundárias ou mesmo acidentais, como fútil é saber quem de nós é o maior, o melhor, e o mais. Ao sermos flagrados em atitudes como essa, voltamos um olhar crítico aos outros, apontando o dedo para ali, quando na verdade o problema sempre esteve aqui, em nós e em nossa mesquinhez. O que pretendemos de nossas vidas no reino de Deus? Sermos foco de holofotes, ou libertarmos almas atormentadas, necessitadas de cura, para viverem vidas simples, mas íntegras? Até quando nos importaremos com frugalidades religiosas, enquanto tantos suplicam que sejamos sal e luz?

Que o Senhor nos permita discernir o que realmente importa fazer, para que nosso testemunho comunique arrependimento e salvação. O Senhor em tudo e por tudo seja louvado.



[1]  Mateus 17:20
[2]  Marcos 9:23
[3]  Marcos 9:24 - RA
[4]  Lucas 9:18-22

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