segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Eu quero você, vivo ou morto



Por Jânsen Leiros Jr.


9 Mas evita questões tolas, genealogias, contendas e debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs. 10 Ao homem faccioso, depois da primeira e segunda admoestação, evita-o, 11 sabendo que esse tal está pervertido, e vive pecando, e já por si mesmo está condenado.
Tito 3:9-11 - JFA


13 Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom procedimento as suas obras em mansidão de sabedoria. 14 Mas, se tendes amargo ciúme e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. 15 Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. 16 Porque onde há ciúme e sentimento faccioso, aí há confusão e toda obra má. 17 Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia. 18 Ora, o fruto da justiça semeia-se em paz para aqueles que promovem a paz.
Tiago 3:13-18 - JFA

Seguindo nosso compromisso de comentarmos sobre os acontecimentos da última quinzena, nesse texto falaremos do mais perigoso e letal motivador de extremismo; o radicalismo religioso. É importante ressaltar que isso nada tem com um rigor do devoto em seguir os preceitos de sua crença. A intolerância religiosa não transita pelos corredores da pregação que pretende a uma conversão, mas sim pelo submundo da imposição de conceitos e práticas, que pretende estabelecer um só modelo de pensamento e conduta; uma unidade gerada à força, e uma concordância nascida na opressão.

Ao fiel o céu, ao infiel a morte. Esse comportamento separatista e sectário, não traduz senão o desejo de dominação de líderes que pretendem controle absoluto dos atos, desejos e projetos de seus adeptos. Toda resistência a seus costumes e ordenanças é, na prática, risco iminente ao seu domínio sobre a vida de outros. Para essa gente, a liberdade é a mais repugnante das possibilidades humanas, e a mais aviltante ambição. Se alguém se pretende livre ou se dá o direito de pensar diferente, precisa necessariamente ser eliminado. E não só isso, mas arrancado exemplarmente do mundo dos vivos. Suas mortes precisam ser, antes de mais nada, a instauração do terror; a conveniente imposição da dominação pelo medo. Foi assim nas Cruzadas e na inquisição, bem como o é hoje no Oriente Médio e em diversas partes pelo mundo afora, onde a religião de uns, é violentamente imposta a outros, eliminando-se os resistentes.

De qualquer forma, quando se chega a esse grau de extremismo, é mais simples identificar o espírito faccioso. Ele se torna flagrante e expresso de uma forma inconfundível. Todos sabem o que é um radical extremista. Mas é importante lembrar que nenhum movimento extremista, por mais radical que seja, se inicia terrivelmente violento ou flagrantemente exposto. Pelo contrário, todo extremismo começa lento e subreptício, com atos simples de sectarismo pseudo-piedoso, como uma louvável atitude de separação entre coisas puras e impuras. Um ato aceitável de santidade aparente. Nós somos e eles são. Nós aqui e eles acolá. Nós pra cá, eles pra lá. Depois vêm os rótulos, e em seguida a escalada ao radical e ao extremo.

Tudo e qualquer coisa é capaz de servir de mote para um faccioso. A predileção esportiva, os ideais políticos, as opiniões controversas, as doutrinas divergentes. E tanto isso é verdade, que Paulo alerta Tito sobre o perigo de questões tolas, genealogias, contendas e debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs. Elas provocam amargo ciúme e sentimento faccioso, dirá Tiago mais a frente. E por que é assim? Simples, porque o motivo pouco importa. Há gente por aí sedenta, à caça de motivos para dar vazão à sua sanha por contendas, disputas e guerras. Porque onde há ciúme e sentimento faccioso, aí há confusão e toda obra má.

Ora, não há razão nem motivação, por mais nobre que esta possa parecer, que justifique o radicalismo e a intolerância. Nem mesmo as nobres pretensões religiosas, pretensiosamente puras e santas, pois o fruto da justiça semeia-se em paz para aqueles que promovem a paz. Não há como justificar uma guerra santa. Não há qualquer nobreza na intolerância e nem no radicalismo. Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia.

Por isso mesmo é muito importante manter atenta vigilância às potenciais atitudes, ou discursos facciosos que surgem nos mais improváveis e insuspeitos grupos, independente do que têm em comum ou que os irmana. Separatismos e segregações brotam e forçam passagem todo o tempo. Nada é mais primitivo que o surgimento de tribos. Se é natural nos juntarmos por afinidades e projetos em comum, crer que nossos códigos é o sumo bem e que os dos outros é o mal a ser extirpado, é o primeiro passo para sangrentas disputas religiosas, por mais inocentes e bem-intencionadas possam ser em seus nascedouros.

É por isso que Paulo lança o discurso de que nossa luta não é contra carne nem contra o sangue[1]. Não é contra pessoas que nos levantamos. Nossa luta é nas regiões celestiais. Ora, regiões celestiais são acessadas com oração e devoção a Deus[2]. Como então se justifica a luta contra pessoas? Corremos o risco da incoerência, mas é necessário ser intolerante com a intolerância. O espírito faccioso se alimenta da omissão de quem o assiste crescer, considerando ser impossível evitar sua proliferação. E como bem se diz, para que o mal se instale, basta que o bem se cale.

O que temos assistido acontecer ao redor do mundo, não começou desse tamanho. Ninguém iniciou ontem o processo de intolerância que culminou nas mortes de Paris. O espírito faccioso foi espalhando ideias, implantando o ódio, formando opinião de que os outros devem ser convertidos ou mortos. Eles nos querem vivos ou mortos. E sem qualquer predileção, desde que não haja mais qualquer pessoa pensando diferente.

Portanto, nesses dois últimos textos falamos de dois tipos de comportamento que precisam ser reconhecidos e apontados, além de tratados. Eles são camufláveis e bem disfarçados. Se o descaso do espírito sabotador pode causar mortes, o espírito faccioso causa matanças. Ambos demandam nossa atenção, nosso cuidado. Porque sempre nos disporemos a solucionar seus estragos. Mas tenho certeza de que sempre nos será muito mais interessante e feliz, impedir seus estragos. Sejamos atentos, firmes e constantes, sempre abundantes no Senhor[3].



[1]  Efésios 6:10-20
[2]  Romanos 15:30-33
[3]  1 Corintios 15:58

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