terça-feira, 21 de outubro de 2014

É legítimo o poder a qualquer preço?





“Não sou juiz eleitoral. Portanto não me cabe análise justa, senão dizer daquilo que me causa sensação de desconforto. Assim o que digo não é um julgamento. Está mais para desabafo. E desabafar ainda é um direito meu.”
                      JLjr


Há tempos venho evitando entrar na discussão política. Sempre acreditei que minhas convicções, que considero tão particulares, deveriam ficar restritas aos meus familiares, aos amigos mais próximos, e a colegas de trabalho com quem divido meu dia-a-dia. Nas últimas semanas, porém, constrangido pelo desconforto com as flagrantes e escabrosas manipulações de fatos, índices e números, e diante da intensa polarização a que estão submetendo a população, me senti na obrigação de me posicionar de forma contundente e clara, declarando minhas opções, e exercendo na plenitude o meu legítimo e insofismável direito como cidadão.

É aceitável o poder a qualquer preço? Qual seria o limite para a manipulação das massas, com vistas a um objetivo pretensiosamente legítimo? Há um limite? É aceitável que se manipule, por mais nobre que se apregoe tal finalidade? Obviamente não, e a razão é muito simples; como diria minha avó pau que dá em Chico dá em Francisco. Por mais bem intencionada que sejam as lideranças que se utilizam dessa prática – para não entrarmos no mérito do caráter pessoal, a régua que define a linha tênue entre o que é bom e o que é ruim para uma nação, jamais pode ficar na mão de um determinado grupo político, qualquer que seja ele, independente de classe social, econômica ou tendências ideológicas a que pertença tal grupo. É um princípio democrático que jamais deve ser quebrado.

Se um determinado grupo político, independente de sua origem se utiliza do método da manipulação de dados e informações, ou promove a sugestão de realidade e circunstâncias com vistas a manipular o inconsciente coletivo, e atingir assim seus objetivos, mesmo acreditando tal grupo que sabe o que é melhor para o povo, esse mesmo grupo, por princípio, perde a legitimidade do poder que lhe é outorgado. Isso por que usurpa tanto o poder como mandado consentido, quanto à concessão que lhe é feita conceitualmente por mérito de competência. Reafirmo; qualquer que seja esse grupo. A manipulação, portanto, desqualifica a opção, porque realizada sobre bases propositadamente equivocadas.

Ora, como então o Partido dos Trabalhadores imagina legitimar-se no poder, sendo flagrado manipulando informações, fatos e circunstâncias, como observamos principalmente nas últimas semanas? E pior; o cinismo com que vem respondendo aos flagrantes que sofre nesses atos voluntários de inverdades. Foi assim nas imagens da escola em Minas com obras falsamente suspensas ou abandonadas, no estado de conservação e realidade das obras de transposição do São Francisco onde tudo parece perfeitamente pronto, das obras do metrô em algumas capitais, cuja conclusão foi relacionada como realizada durante o debate na Rede Record... Pra ficar em poucas. Ademais, a candidata se insufla a dizer que no seu governo os “maus feitos” foram investigados e os responsáveis foram presos, quando na verdade quase todos já tiveram relaxamento no cumprimento de suas penas, e o ex-presidente Lula insiste em dizer “... não houve mensalão”.

Não bastasse isso, o discurso do PT vem promovendo o acirramento de uma pretensa luta de classes, dividindo os eleitores entre “eles” e “nós”, como se não fossemos todos brasileiros e todos desejosos de um país melhor para todos. O contágio desse separatismo idiota é tão grande, que as conseqüências vêm sendo percebidas nas ruas e até nas redes sociais, onde verdadeiras batalhas de ódio e intolerância se multiplicam e fazem estragos em relações de amizade e companheirismo. Em vez de divergentes, temos oponentes e por oponentes, inimigos. E isso já se traduziu na votação para deputado federal e estadual. Mas isso será assunto para outra oportunidade.

É importante ressaltar que não tomo aqui o PSDB como partido inocente e cândido. De forma alguma. Se mexermos no seu tonel certamente acharemos sujeiras, e das grossas! E também não serão poucas. Porque não há nesse meio e no jogo político, partido algum que se possa autodenominar inocente ou invariavelmente probo. Estão aí denúncias do mensalão mineiro, de fraude no metro de SP e mais recentemente as declarações do ex-diretor da Petrobrás, Sr. Paulo Roberto, sobre propina paga ao então presidente do PSDB, o falecido Sérgio Guerra. Portanto não há mesmo quem possa atirar pedra no telhado alheio entre partidos políticos. Mas o povo, que detém o poder e lhos outorga os mandados, tem não só o direito, mas o dever de exigir explicações.


Minha preocupação, porém, se concentra no uso do imaginário coletivo, que historicamente, foi danoso e de graves conseqüências para todas as nações que o sofreram. E a história está repleta de exemplos disso! Estivesse o PSDB utilizando do mesmo expediente de forma flagrante e escusa, se faria merecedor de igual acusação e repulsa por parte da população brasileira. Mas não é essa a sensação que me causam. Pelo menos não nesse momento.

Não se pode negar, obviamente, alguns valorosos legados que o PT deixou para o país. Ao assumir o poder após a era FHC já em declínio por diversas conjunturas – falei outro dia aqui sobre a salutar alternância de poder para a sociedade, o Partido dos Trabalhadores encaminhou o país num momento positivo da economia nacional, e permitiu avanços importantes nas políticas sociais, onde melhoramos alguns importantes indicadores. Isso, porém, não os legitima a manipular a população para se manter no poder e atender sua sanha de controlar o país e o seu povo. Somos e queremos manter-nos como um país democrático. Mesmo aqueles que por convicção e direito inalienável, acreditam fazer a coisa certa ao votarem na candidata do PT, querem um país democrático, tenho certeza. E aí é que tal manipulação se torna ainda mais cruel; ao conduzir de forma obscura, a boa fé daqueles que acreditam nas inverdades propaladas.

Por fim, corre nas redes sociais o boato de que o PT planeja realizar movimentos calculados para gerar comoção nacional em torno da saúde do ex-presidente Lula, sabidamente uma figura querida em âmbito nacional, com o intuito de carregar votos para a candidata do PT, a exemplo do que naturalmente ocorreu com a então candidata a vice-presidente Marina Silva, após a tragédia que vitimou o ex-governador de Pernambuco e candidato a presidência pelo PSB, Eduardo Campos. Ora, a se concretizarem tais boatos, uma orquestração dessa magnitude e conteúdo, por si só já não levantaria suspeita sobre as intenções que tal partido tem para se manter no poder? Será que chegariam a tal ponto? Custo a acreditar, mas sinto muito não poder duvidar.

Portanto, a resposta nas urnas tem que ser: Não, não aceitamos e não queremos ser manipulados, por quem quer que seja. Por que motivo for, por mais nobre que possa parecer. E que tal resposta, sirva de aviso para pleitos futuros, para que nenhum futuro aventureiro, candidato ou partido, se pretenda a tanto mais uma vez.

2 comentários:

  1. Marcus Vinicius Moura23 de outubro de 2014 às 06:20

    Como você bem disse no SMS divergimos bastante na opção política. Concordo com tudo que você colocou no post, entendo que a ordem das coisas estão colocadas de forma a direcionar o pensamento para uma crítica primeira ao PT (que é a primeira marca que fica). Uma boa técnica de escrita aliás.
    Com relação ao boato de buscar a comoção com uma possível doença do Lula, confesso não ter escutado nada a respeito (precisa ver se a fonte não é PSDBista), até por que ele está saudável e tomando a frente da campanha dela, vindo ao Rio inclusive no comício de amanhã.
    Com relação ao fato do possível boato ter origem PSDBista tem um único senão que tenho em relação ao seu texto. É que de um modo geral você coloca como se esta coisa suja de manipular dados e informações fosse feita apenas por um dos lados (pelo menos é mais valorizado os maus feitos do PT) e eu tenho visto coisas do tipo partindo de todos os partidos. De resto acho isso péssimo também seja quem for fazendo, como acho péssimo o projeto de poder, que ao contrário do que o Jorge e outros tantos que conheço colocam não é um privilégio do PT não, pois o PSDB quando lá estava também o tinha (só que com outro viés) e hoje quando busca retornar é para retomá-lo.
    Mas particularmente ainda creio que pior do que tudo que você aponta em relação aos dois partidos que buscam o poder são os partidos que nunca buscam o poder supremo mas estão sempre orbitando no seu entorno nas vagas de segundo e terceiro escalão onde rola a grana e o verdadeiro PODER.
    Finalmente, a questão da violência não tenho visto como uma coisa insuflada ou valorizada apenas por um aldo só não. Creio que infelizmente a conotação de uma guerra política quase como sendo uma guerra de classes tomou conta de todos no país (pelo menos é o que me parece), sob as mais diversas matizes - paulistas X nordestinos, evangélicos X não evangélicos, ricos X pobres. Como conversamos ao telefone, acho isso temerário, assustador, mas também vejo um lado positivo (tudo na vida tem um lado positivo) que é as máscaras caírem. As pessoas podem identificar os preconceituosos e, principalmente identificar os seus preconceitos e se trabalhar (se assim desejarem).
    Bom, é isso. No mais continuo professando meu voto crítico em Dilma, pois creio que o retrocesso será menor e ainda há uma preocupação maior com o social deste lado. Além disso, como tudo tem um lado bom, o Rodrigo Constantino e o Lobão prometeram ir embora do BRASIL se ela vencer as eleições... Hehehehehehehehehehe.
    Grande abraço meu amigo!

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    1. Como é agradável o exercício do direito de se posicionar, sem que para isso haja sejamos tomados de sectarismo exacerbado. Muito bom. Da maneira com que você diverge, tenho até prazer em ser contestado. Aliás, não é isso mesmo que nos ajuda a crescer?! Se a máxima de que toda unanimidade é burra está certa, o contraditório nos fará inevitavelmente inteligentes, ampliando a capacidade de avaliar e julgar, qualquer que seja o pressuposto.
      Em termos práticos, de certa forma creio como você que os partidos chamados "de aluguel" são mesmo ervar daninhas e oportunistas, que se locupletam das migalhas do poder, se promiscuindo por cargos, verbas e orçamentos da União. De qualquer forma, porém, penso também que nada mais são, do que conveniências de alianças formadas por interesses mútuos, que de alguma forma convêm também aos partidos maiores, quer de situação, quer de oposição. Portanto, tal culpa se apresenta retroflexa ao proponente de maior poder.
      Quanto aos boatos terem origem no próprio PSBD, sinto pesarosamente não poder discordar nem rejeitar seu argumento. Não é que pode mesmo!? Sim, porque não tenho, infelizmente, a menor ilusão de que haja qualquer probidade incondicional por parte deles.
      O melhor de tudo, Marcão, é que agora falta muito pouco para sabermos o que a população escolherá. O importante é, independente do resultado, mantermos em alta o interesse político da população, para que paulatinamente nosso pais conte com um povo mais politizado, e interessado em acompanhar o desempenho de seus lideres e representantes.
      Um forte abraço a você, Dani e nas crianças...

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