sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Eleições 2014 - Um legado a ser esquecido?





“É preciso não confundir oba-oba com mudança verdadeira de postura da população com relação ao processo político e o seu papel e importância no dia-a-dia de nossas famílias. A incoerência das reivindicações nas manifestações do ano passado, com o resultado das urnas, é flagrante na maioria do país. Não é possível que depois de tudo aquilo que vivemos, voltaremos a ser apenas uma massa de modelar nas mãos de manipuladores escusos, ladrões das esperanças mais legítimas de uma nação.”
                      JLjr


Chegamos enfim às vésperas do segundo turno das eleições 2014. Será o fim de um dos pleitos mais disputados desde a redemocratização do país. Mas será também o fim de uma disputa banhada de mentiras, acusações e leviandades. E não me prendo apenas à disputa pela presidência da república, mas também à disputa pelo governo de alguns estados, cujo resultado nas urnas provocou um segundo turno. Um lamentável segundo turno.

Digo isso tendo como exemplo mais próximo a vergonhosa campanha de ambos os candidatos ao governo do Rio de Janeiro. O que acompanhamos nos debates e nos programas de campanha na televisão, foi o maior e mais lamentável circo de horrores que a política local pôde produzir nos últimos anos. Nem o debate na rede Globo, normalmente cercado de uma rigidez maior nas regras do uso do tempo e da condução do comportamento dos candidatos e platéia, escapou dessa triste e vexatória realidade.

Ataques despropositados, acusações forçadas, reclamações inadequadas... Tudo com um único fim; a desconstrução da imagem do oponente. Propostas? Quem é situação diz que fará agora o que já não fez por todo o tempo que deveria ter feito. Já quem é oposição, promete fazer melhor, aquilo que poderia ter ajudado a fazer, mesmo sendo adversário. Sim, porque na presença efetiva de preocupação com a população, boas idéias e sugestões podem ser passadas e utilizadas à bem do povo, sem que para tanto se precise de cargos ou secretarias. O máximo que fazem é dar nomes pomposos a programas e projetos – bolsas, PACs, PROs e outros, que na prática servem apenas para sustentar realizações fictícias, a serem exploradas nas eleições seguintes. E ficamos nós, eleitores, assistindo a esse thriller em horário nobre. Alguém aí mudou de opinião depois do debate de ontem?

Já a disputa pela presidência terá também hoje o seu último capítulo. E também na rede Globo. E o capítulo de hoje promete esquentar, já que ocorrerá logo após a denúncia de envolvimento da atual presidente Dilma Rousseff, bem como do ex-presidente Lula, com os desmandos na Petrobrás, segundo matéria de capa da revista Veja. Independente da consistência das denúncias do doleiro, a matéria certamente trará um combustível a mais, para o já tão pesado e desconfortável cenário de acusações e provocações entre os candidatos. Resultado; perderemos todos mais uma vez.

O mais importante nessa reta final, porém, é avaliar não o resultado iminente das urnas, mas o resultado político dessa disputa na sociedade brasileira. Sim, porque apesar de tudo que de ruim se produziu nesse processo, seria muito bom que o engajamento da população e a decisão que muitos tiveram de assumir posição diante da disputa, se mantivesse para os próximos dias, meses e anos, fazendo com que o povo passasse a se interessar por acompanhar, cobrar, influenciar e assumir a responsabilidade de, juntamente com suas lideranças, conduzirem o pais e sua agenda de prioridades nacionais. Seja qual for o candidato a sair vitorioso das urnas.

Infelizmente sabemos que não é naturalmente assim. Decidida a eleição, temos o costume de virar as costas para a política e todas as questões que lhe envolvem, como quem diz ao candidato escolhido agora é contigo. Uns por dizerem a si mesmos, foi pra isso que votei em você. Outros por pensarem na amargura da derrota, ninguém mandou ganhar a eleição... que se dane!! Depois reclamamos ao sermos tratados como gado tangido, ao sabor da conveniência do dono do rebanho. Temos o que merecemos. Não pelas escolhas porque legitimas no processo democrático, mas pela omissão no acompanhamento dos mandatários.

Assim, torço para que o maior e melhor legado dessas eleições, seja a percepção nacional de que concordando ou não com o resultado, precisamos manter os olhos bem abertos sobre o uso da coisa pública, e nas decisões que têm reflexos diretos e indiretos sobre a nossa vida hoje, e na vida de nossas futuras gerações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Detesto falar sozinho. Dê sua opinião. Puxe uma cadeira, fale o que pensa e vamos conversar...

Powered By Blogger