terça-feira, 6 de janeiro de 2015

=> Independência é bom? Depende...





“A minha salvação e a minha honra dependem de Deus; ele é a minha rocha poderosa e o meu abrigo.”
                      Salmos 62:7 – NTLH


“Ora, desde o ventre materno dependo de ti, das entranhas de minha mãe me separaste; dia após dia és motivo de todo o meu louvor.”
                      Salmos 71:6 - BKJ


27 Todos esses animais dependem de ti, esperando que lhes dês alimento no tempo certo. 28 Tu dás a comida, e eles comem e ficam satisfeitos. 29 Quando escondes o rosto, ficam com medo; se cortas a respiração que lhes dás, eles morrem e voltam ao pó de onde saíram. 30 Porém, quando lhes dás o sopro de vida, eles nascem; e assim dás vida nova à terra.”
                      Salmos 104:27-30 - NTLH

Dos sonhos mais recorrentes que um indivíduo alimenta ao longo de sua vida, a independência é o mais abertamente declarado e desejado na mais íntima e secreta pretensão. E essa desejada independência se estende a diversos segmentos da vida, como o financeiro, afetivo e profissional. Tanto que a dependência é vista como uma condição negativa, incômoda e de constrangedora subordinação.

Ser independente é um conceito que só de falar, já traz em sua sonoridade a idéia de liberdade. Eu não dependo de absolutamente ninguém para viver, enchem o peito com orgulho os arrogantes de ocasião, que bradam aos quatro cantos, gabando-se de uma condição verdadeira ou mesmo falaciosa, que inspire respeito a quem escuta. O independente, é por conceito primário, livre e poderoso sem peias ou cercas.

O conceito de independência esteve presente na sedução do pecado original, e habita o cotidiano dos nossos sonhos, à medida que nos esforçamos para alcançar tal condição, consciente ou mesmo inconscientemente, como inclinação e reação instintiva às provocações e solicitudes do dia-a-dia.

A independência parece em uma primeira análise, um objetivo último do desenvolvimento pessoal. Quando começamos a engatinhar ainda bebês, logo ensaiamos os primeiros passos. E ao andar já tentamos correr. E ninguém fica a nos desestimular dizendo fique sentado, ou deixa disso, você pode cair. Não. Todo o estimulo visa o desenvolvimento que leva à autonomia. E isso é muito bom, porque nos faz autônomos em nossos passos e conscientes em nossas próprias decisões, tornando-nos responsáveis diretos por tudo o que fazemos na vida. Seria o que poderíamos chamar de uma independência funcional, que nos permite agir basicamente com a liberdade necessária para funcionar, sem que terceiros precisem ser incomodados por qualquer debilidade nossa. Mas notem que a linha é tênue e por isso o exercício aqui é bastante difícil; discernir entre autonomia e independência.

Ora, diz o texto de Gênesis que Deus colocou o homem no jardim e ali ele tinha a responsabilidade de trabalhar a terra. Diz ainda, que toda tarde Deus vinha ao jardim conversar com esse homem. Ele, o homem, autônomo em sua função, pois a realizava com recursos físicos próprios e capacidade mental para orientar-se em seu cumprimento, prestava contas do dia e do que fazia. Era dependente da aprovação de Deus e dos resultados de seu trabalho. Ou seja, funcionava sozinho, mas devia submissão a Deus. Até o dia que surgiu a possibilidade de mudar o rumo de sua história.

Não seria mais necessário dar satisfação a ninguém. Saber o que pensar ou deixar de pensar seria um proveito próprio. Decidir o que, quando e como fazer, estaria agora em suas próprias mãos. Não haveria mais qualquer submissão, qualquer subordinação. Ele agora poderia tornar-se igual a Deus... E pagou pra ver.

A autonomia já não bastava ao casal. Queriam mais. Queriam além. Poder satisfazer-se em vez de dar satisfações. Não fazem assim nossos adolescentes, que se aborrecem com toda pergunta que fazemos, por qualquer cobrança que lhes dirigimos. Vai aonde? Vai com quem? Que horas você volta? Eles ficam indignados. Se pudessem sairiam correndo sem dar qualquer resposta. Uns até fazem isso mesmo. É a vontade de independer, de ser livre. De decidir sozinho e exclusivamente sobre a própria vida. De excluir pai e mãe de tudo o que pretendem como próprio e pessoal. Foi essa a intenção do primeiro homem; excluir Deus de sua vida. Viver apesar d’Ele. Ter o controle exclusivo e absoluto da vida, sem qualquer obrigação com quem quer que fosse além de si mesmo.

Acontece que ser autônomo não me obriga a independência, assim como ser dependente, não me retira a autonomia. Sou plenamente capaz de utilizar todos os recursos com que nasci e me desenvolvi, tanto para viver quanto para produzir aquilo com que sustentarei minha existência. Mas sou dependente e preferencialmente dependente de Deus, para que os recursos que estão além de mim, tanto quanto minha própria condição de vida, me sejam mantidas por sua providência e bondade. Sim porque eu posso catar o maná que cair diariamente no arraial, e essa obrigação funcional é mesmo minha, mas não posso garantir que ele caia; é Deus quem o provê.

Posso planejar o meu dia amanhã. Pode agendar tarefas, calcular tempos e deslocamentos, traçar rotas. Mas não posso garantir estar vivo pela manhã. É Deus quem me sustenta a vida. Mas se vivo estiver, preciso realizar tudo com a autonomia e a responsabilidade que recebi d’Ele. Sou autônomo porque fui feito à semelhança de Deus, com atributos funcionais e realizadores. Mas dependo d’Ele porque vim d’Ele, vivo por Ele, e porque Ele quer.

Portanto o exercício diário de dependência de Deus, está em manter minha autonomia para realizar aquilo que Deus, por bondade e graça me concede, tendo prazer na satisfação mutua, de Quem cuida e de quem é cuidado.

Bom exercício a todos!




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