domingo, 11 de janeiro de 2015

=> Quando acertar na trave é gol




3 Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? 4 Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? 5 Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão..”
                      Mateus 7:3-5 – RA (ver também Lucas 6:41-42)

Uma das atitudes mais comuns e corriqueiras nos diversos grupos sociais que participamos em nosso dia a dia, é a transferência para o outro, daquilo de errado que vemos em nós mesmos. Apontamos na direção do outro, acusamos o outro, e divulgamos o que de errado encontramos presumivelmente no outro, sem, contudo, tratar do que está errado em nós mesmos.

Jesus chama isso de hipocrisia e sem titubear. Incluído no chamado Sermão do Monte, essa sentença contra o fingimento é um alerta para quem, por mais boa vontade que possa ter ou pretenda demonstrar, imagina-se em condições de ajudar alguém com problemas, quando na verdade está atolado em dificuldades ainda maiores. Superlativamente maiores.

Na versão da Bíblia King James, a palavra argueiro é substituída por cisco, e a palavra trave por viga, ambas mais comuns em nosso dia a dia. Com elas no texto, é mais fácil perceber o quão distante está o problema que aponto no outro do que aquele que está em mim. Ninguém tem dúvida do quanto uma viga é maior e mais pesada do que um cisco.  Mas para encobrir minha viga, para disfarçar minha trave, eu aponto para o cisco no olho do meu irmão, querendo dizer-lhe que com aquele cisco nos olhos não será possível enxergar bem. E me disponho a ajudá-lo, na mais hipócrita atitude de quem finge estar em condições disso. Hipócrita!

O mais interessante nisso tudo, é que para Jesus essa não é uma atitude inconsciente, inocente, ou mesmo ingênua. Não. Por isso ele chama de hipocrisia, termo comum na Grécia, conhecido como a arte de fingir ou interpretar um personagem, já utilizado desde a antiguidade pelos artistas em seus teatros gregos. Não há inocência na hipocrisia. Antes é uma atitude deliberada por nossa estratégia de camuflar e esconder dos outros, aquilo que precisa ser trabalhado em nós. E sendo hipocrisia, descartada está a possibilidade de uma atitude inconsciente de quem se engana a si mesmo, pois ao agir para esconder a viga que se encontra nos próprios olhos, demonstrasse o quanto se sabe exatamente que ela está ali, impedindo que se enxergue corretamente, muito mais do que o cisco que atrapalha a visão de meu irmão.

Tira primeiro a trave do teu olho. Jesus não diz que não poderemos ajudar o outro com seu cisco. Mas condiciona-nos a primeiro tirar a trave do nosso. Não posso ajudar no exercício do outro, se eu primeiro não faço o meu dever de casa. Como poderei ajudar alguém com a lição, se não realizei primeiro a minha? Há muita gente tentando retirar o cisco dos olhos alheios, com vigas imensas encravadas nos próprios olhos, afetando a percepção e o julgamento de tudo à sua volta.

No espelho diante do qual nos exercitamos no confronto a nós mesmos, precisamos examinar os próprios olhos, perceber nossos ângulos, acertar a trave e fazer o gol. Precisamos retirar as vigas da nossa frente, para só então agirmos na direção do outro, com a compaixão de quem reconhece a dificuldade de enxergar, quando algo está diante dos próprios olhos, impedindo de ver o caminho a seguir.

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