sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Santos ou pecadores? As misérias da alma e nossa vitória


Por Jânsen Leiros Jr.


" 14 Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado. 15 Pois o que faço, não o entendo; porque o que quero, isso não pratico; mas o que aborreço, isso faço. 16 E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. 17 Agora, porém, não sou mais eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. 18 Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está. 19 Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico. 20 Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim.
21 Acho então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o bem, o mal está comigo. 22 Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; 23 mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros. 24 Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte? 25 Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor! De modo que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado."
Romanos 7:14-25 - JFA

" 20 Porque, quando éreis servos do pecado, estáveis livres em relação à justiça. 21 E que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais? pois o fim delas é a morte. 22 Mas agora, libertos do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna. 23 Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor "
Romanos 6: 20-23 - JFA

para que vos torneis puros e irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis, vivendo em um mundo corrompido e perverso, no qual resplandeceis como grandes astros no universo,."
Filipenses 2:15 - KJA

Entretanto, a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando cada vez mais até a plena iluminação do dia"
Provérbios 4:18 - KJA

Seguindo na série de perguntas e tentativas de respostas aos leitores do blog, temos diante de nós um desafio parecido com o da questão passada, sendo agora um duelo entre duas realidades de cujas expressões, de amplos significados, provocam em muitos uma certa dose de confusão e também inquietação, que bem podem trazer insegurança quanto a atitude espiritual, ou mesmo ansiedade relativamente ao futuro próximo da alma. Se Shakespeare indagava ser ou não ser, hoje há quem se pergunte, somos ou não somos.

Em que pese o uso da retórica e a contundência nas pregações de diversos calibres, vários púlpitos pelo Brasil apregoam às suas assistências, em larga maioria constituída de crentes em Cristo Jesus, que estes são pobres pecadores e miseráveis, carentes da graça de Deus. Já outros tantos, com o mesmo fervor e persuasão, insistem em chamar seus membros de santos, aos quais prometem as inefáveis bênçãos de Deus. Mas afinal, somos pobres pecadores miseráveis, ou já atingimos o status de santos, a quem as recompensas do Senhor serão concedidas de forma abundante? Que me perdoem os mais severos, eu não resisto; qual será o segredo de Tostines?

Honrando a sabedoria dos mais velhos, como diria minha avó, nem tanto ao mar nem tanto à terra. Entre as características do cristão bem-aventurado, está seu sentimento de pobreza, ou se preferir, humildade espiritual. E sabedor dessa pobreza, pois nada tem que possa ser considerado seu de modo a torná-lo altivo e orgulhoso, ele chora sua penúria, carente, sedento e faminto pela justiça de Deus, a quem clama por socorro; Senhor, sê propício a mim. Mas uma vez resgatada, toda nova criatura é separada para Deus, o que faz dela um santo em marcha para o reino dos céus.

Ou seja, não existe estado letárgico para os que estão em Cristo, seja ele de miserabilidade ou de santidade. Temos uma vida dinâmica, de caminhada alegre mas trabalhosa, onde as forças nos são renovadas cotidianamente por Deus, em bondade e graça. De modo que, seja a tal proclamada pobreza, ou mesmo a distinta santidade anunciada, pobre ou santo estamos, e não somos. Tal sentido de movimento é indispensável por um princípio muito claro; aquele que cuida estar em pé, cuide para que não caia.

Ora, como resgatados, sabemos de nossa incapacidade de nos apresentamos diante de Deus por nós mesmos, por nossas próprias virtudes, o que nos faz entender que somos dependentes d'Ele, e de que nada temos do que nos gloriarmos; por isso pobres humildes de espírito. E se o que demonstramos acima acerca do que somos ser mais pertinente se considerarmos estágio transitório, ou seja, se estamos pobres e humildes, também é verdade que não somos miseráveis ou pecadores. Ou não nos ensina João que aquele que tem o filho não vive pecando, ou ainda Paulo quando diz que uma vez livres do pecado, fomos feitos servos da justiça?

É comum utilizar o texto acima para sustentar que somos miseráveis, considerando que uma guerra interior se trava entre o bem do espírito e o mal no corpo, na carne. Porém, ao utilizar essa anatomia das pulsões humanas e nossa tendência pecaminosa, o apóstolo está demonstrando que, para o homem natural, que tenta viver corretamente a partir da lei, qualquer que seja essa lei, para esse sim há um futuro de morte, pois a ele, que confia em seu poder de autocontrole para resistir às tentações, para esse miserável não há qualquer chance de vitória. Miserável homem que sou (sou se referindo ao que é o ser humano), quem me livrará desse corpo de morte? E por isso ele dá graças a Deus, por Jesus Cristo, seu resgatador pela graça, pois a partir dela, a inclinação para o pecado não tem mais qualquer poder. Portanto, finda nossa condição de miséria e pecado.

Ora, diante disso então podemos considerar que somos santos inculpáveis e irrepreensíveis, donos de um corpo e mente incorruptíveis? De modo algum, pois também a santidade não é um estado de sermos, mas de perseguirmos. Sede santos, diz o texto. Ora, se ele diz para sermos, um estado mais ali, então é porque não somos ainda aqui. A santidade é aquilo que perseguimos, até chegarmos à estatura completa de Cristo.

Assim, nem somos mais pecadores, considerando estado perene que demande constante estado de lamúria, pois andamos em novidade de vida; o Senhor é a nossa salvação, mas também não somos santos ainda, no sentido de uma vida livre de pecados ou máculas pelo confronto da lei. Muitos há, porém, que mantêm suas assistências submissas a essa oscilação de euforia e depressão, tornando-os cativos de suas afirmações histriônicas. Para conveniências pessoais e interesses, sabe-se lá de que ordem, ora eles os fazem lastimar depressivamente seus estados de miserabilidade e total dependência de suas pessoais benesses, ora eles os lançam no mais efusivo estado de euforia, sustentado por uma crença de que já estão fora do alcance do mal. Príncipes e princesas, uma nobreza de vaidade e auto suficiência.

Então quer dizer que não somos nem pecadores nem santos? Sim e não. Não somos mais pecadores e somos santos porque justificados em Cristo, pela graça, que nos reconcilia com Deus. Mas por outro lado, somos pecadores e não somos santos ainda, porque em marcha caminhamos para nosso alvo; o reino de Deus, por Cristo Jesus, Senhor nosso. De modo que seguimos pecadores pois passíveis de cometê-los. Mas separados para Deus somos santos, separados para toda boa obra. De modo que quer estejamos santos, quer estejamos sujeitos a deslizes, temos um advogado que é Cristo. E nisso descansa nossa esperança, e temos o Espírito por penhor da nossa salvação.

Não há ninguém que possa desfazer nossa condição de justificados. Não há quem possa se ufanar de não depender de Deus. Santidade e pecado se alternam inversamente proporcionais à medida que marchamos. Perseguimos aqui e agora o que somente seremos em definitivo no reino de Deus. A quem damos honra, glória e louvor, por tão grande salvação. Porque se dos pecados ora cometidos somos culpados, quem nos intentará acusação? Ou quem nos separará do amor de Deus?

 Que o Senhor nos descanse o coração em confiança e graça, buscando a santidade, e nos ensinando a nos levantarmos sempre, certos de seu cuidado e amor. Como disse lá atrás nem tanto ao mar nem tanto à terra, e agora completando, mas a caminho do céu.
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