Por Jânsen Leiros Jr
"25 Ora, iam com ele grandes
multidões; e, voltando-se, disse-lhes: 26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e mãe, a mulher
e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria vida, não pode ser meu
discípulo. 27 Quem não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo.
28 Pois qual de vós,
querendo edificar uma torre, não se senta primeiro a calcular as despesas, para
ver se tem com que a acabar? 29 Para não acontecer que, depois de haver posto os alicerces,
e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a zombar dele, 30 dizendo: Este homem começou
a edificar e não pode acabar. 31 Ou qual é o rei que, indo entrar em guerra contra outro
rei, não se senta primeiro a consultar se com dez mil pode sair ao encontro do
que vem contra ele com vinte mil? 32 No caso contrário, enquanto o outro ainda está longe, manda
embaixadores, e pede condições de paz. 33 Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo
quanto possui, não pode ser meu discípulo.
34 Bom é o sal; mas se o
sal se tornar insípido, com que se há de restaurar-lhe o sabor? 35 "Não presta nem
para terra, nem para adubo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça."
Lucas 14:25-35 - JFA
No discurso que estudamos no exercício
anterior, Jesus fez alusão ao banquete no reino dos céus, do qual participarão os
justos na ressurreição. Provavelmente tais palavras provocaram essa grande afluência
de gente que o seguia, como que se colocando a disposição de um eventual convite
de Deus. E era mesmo grande a multidão que o seguia pela Galiléia.
Qualquer mestre da lei daquela época adoraria
ser seguido por uma grande multidão de pretensos discípulos. E hoje não é
diferente, ou não flagramos pelas redes sociais, disputas vaidosas por quantidade
de seguidores. Jesus porém não se ilude com essa pseudo demonstração de aderência
à sua doutrina, e confronta essa mesma multidão, repetindo a lógica que já havia
utilizado alguns capítulos atrás[1].
Iniciar uma jornada por impulso e depois arrepender-se da atitude pelo visto impensada, é comparável a quem inicia
uma empreitada sem antes avaliar todas as implicações e custos que esta exigirá.
Parar no meio do empreendimento por mal planejamento é, por assim dizer,
vergonhoso e sintoma de impulso imprevidente e até inconsequente.
Mas Jesus ainda faz uma outra comparação,
utilizando-se do rei que imagina empreender guerra contra um exército duplamente
mais poderoso que o seu, e que não o faz, uma vez que diligentemente considera
suas chances, e opta por buscar a paz, antes que vidas sejam perdidas sem
qualquer proveito. Grande seria o dano de iniciar tal batalha inglória. É
melhor renunciar. Aliás, sugere Jesus, quem não renuncia a si mesmo, entrará
numa guerra que não poderá vencer. Iniciará uma obra que por si só não
conseguirá completar, a menos que se tenha rendido ao construtor desse edifício.
Ao dizer se alguém vier a mim e não aborrecer, obviamente Jesus não está
suscitando ninguém a uma rebeldia aos pais ou a quaisquer outros familiares. Aborrecer, odiar ou mesmo amar mais a,
variando conforme as traduções, significa que ninguém, ou desculpa alguma deverá
servir para legitimar um futuro retrocesso na decisão tomada de seguir o Cristo
de Deus. Iniciar essa marcha e pesar as perdas, já demonstra falta de convicção
e inconsistência de propósito. É melhor pensar bem direitinho, pois nem mesmo
pai ou mãe serão desculpas aceitáveis para se olhar para traz. Deixa os mortos enterrarem seus mortos[2].
A vida cristã e suas implicações não são
de modo algum simples mudanças de hábitos ou de pontos de vista. A vida cristã
não é apenas o outro lado de uma mesma moeda,
mas é antes uma outra moeda, uma
outra lógica. Uma novidade de vida que não se antagoniza simplesmente com a
vida deixada para trás, mas sim uma vida que não permite qualquer permanência
do que ficou morto para trás. É o
novo nascimento ensinado a Nicodemos[3].
Sendo sistemas de valores irreconciliáveis,
não há como seguir com a mão no arado trabalhando no reino, olhando para trás e
saudoso das coisas que foram abandonadas. Não haverá qualquer possibilidade de
conciliação ou de exercício de uma vida dupla. Portanto, quem decide viver tal
novidade de vida, deve antes avaliar os custos e os desapegos a que se submeterá.
Não por imposição, mas por ação do próprio Espírito no espírito; o novo homem
interior que se renova[4].
Mas se tanta gente está seguindo Jesus
e aparentemente interessada em sua doutrina, por que ele os confronta? Porque
Jesus jamais, em momento algum de seu ministério, permitiu que qualquer um que
decidisse segui-lo, o fizesse por impulso inconsistente, ou por frívola e
momentânea emoção. Muito pelo contrário. Toda vez que isso estava prestes a
acontecer, sempre que as emoções tomavam a condução de uma iminente decisão
impensada, ele confrontava o indivíduo, fazendo com que a atitude se sustentasse
em resoluta convicção; vai e vende tudo o
que tens[5].
Ora, uma vez decidindo-se por ser sal da terra[6],
não se deve tornar insípido. Porque para
nada se aproveita. Nem mesmo para ser jogado sobre o esterco. Pois para
evitar mal cheiro no monturo de esterco (não havia sistema de tratamento de esgoto
na época), jogava-se são sobre os dejetos, de modo a minimizar os efeitos do
odor e de contaminações. Portanto o sal sem sabor não servirá para nada. Não
poderá conservar nada. Não poderá influenciar nada nem ninguém. Não será
relevante. Nem mesmo para cobrir dejetos serve. Deverá ser jogado fora. Quem lança mão do arado não pode olhar para
trás.
Refletindo o Exercício
Muitos se chegam a Deus por diversas e plurais condições. Independente
das razões individuais, é preciso terem sido motivadas por condições legitimas,
nascidas na fé e na convicção. e convicção é fé incondicional. O sal não pode
perder sabor. mas perde, sempre que espectros da vida que ficou pra trás, nos
distraem na marcha no caminho da salvação.
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