I
– História das origens do universo e da humanidade (1:1 – 11:32)
A. A criação do universo e da vida (1:1 – 2:3)
Capítulo 1
ü Sexto dia: O homem e a mulher
26 Também disse Deus: Façamos[1] o
homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança[2] ; tenha ele domínio[3] sobre os peixes do mar, sobre as aves dos
céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis
que rastejam pela terra. 27 Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem
de Deus o criou; homem e mulher os criou[4]. 28 E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos,
multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a[5]; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos
céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.
29 E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as
ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra e todas as
árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento[6].
30 E a todos
os animais da terra, e a todas as aves dos céus, e a todos os répteis da terra,
em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes será para mantimento. E assim se
fez.
31 Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era
muito bom[7]. Houve tarde e manhã, o sexto dia.
[1] (1:26) Façamos...
Há uma grande variedade de idéias sobre o
significado do uso do verbo fazer na primeira pessoa do plural. Porém duas
vertentes se destacam como mais prováveis, ainda que sejam mais excludentes entre
si do que complementares. A primeira e mais comumente aceita entre os cristãos,
é que o Criador falava com as duas outras pessoas da trindade. É preciso
ressaltar, contudo, que tal entendimento só foi possível após o advento do Novo
Testamento, uma vez que somente nele é revelada a trindade como pessoas divinas
distintas, porém unas e pessoais.
A segunda vertente, no entanto, é na verdade
anterior à primeira e muito mais difundida entre os judeus; a que entende o uso
de um plural de majestade, um jeito de falar quando não se quer passar a
arrogância da soberania ilimitada de pretender e realizar o que bem entender.
Como que uma fala deliberativa com aqueles que o circunstanciam no momento
criador.
[2] (1:26) à nossa imagem, conforme a
nossa semelhança...
Outra
sentença que provoca infinidade de entendimento quanto ao que significa imagem
e ao que significa semelhança, havendo desde de afirmações parecidas, até
acaloradas defesas de posições antagônicas entre si. Como nosso objetivo aqui
não é estabelecer um tratado teológico, mas apontar sempre para o que pode ser
efetivamente esclarecedor e edificante ao crescimento no conhecimento de Deus,
ficaremos com as posições comuns à maioria dos estudiosos, que concordam que as
expressões corroboram a finalidade primordial do autor, de diferençar a
cosmogonia judaica, das demais cosmogonias existentes entre os povos vizinhos e
inimigos.
Nessa linha, ressalta-se que o narrador, ao afirmar
que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, é por definição o
principal feito do Criador, sendo muito mais do que um ser casualmente
existente, mas um ente criado com propósitos planejados e funções especificas,
já que em essência carrega características divinas tão relevantes, a ponto de
ser sua criação distinta dos demais seres, ainda que criados com estes últimos
no mesmo dia de criação.
Há no homem, portanto, uma essência divina que o
capacita a receber as responsabilidades que lhe serão passadas na seqüência de
sua criação.
[3] (1:26) tenha ele domínio...
Eis, portanto, a responsabilidade do homem no
contexto da criação; o domínio. Esse domínio não se pretende ao uso e abuso do todo dominado, mas sim o comando que viabiliza o cuidado,
o direcionamento e a manutenção de toda a criação.
Há aqui uma particularidade da qual me agrado muito.
De certa forma o homem ganhou uma capacitação inerente à sua constituição, que
lhe permite manter, cuidar e direcionar a autonomia existencial e funcional do
planeta. Ou seja, toda a criação, toda a natureza planejada e criada por Deus
foi ao homem entregue para um domínio responsável, para proporcionar às
gerações em continua sucessão, recursos e meios para uma subsistência
sustentável. O que significa dizer que a flagrante degradação ambiental que o
planeta atravessa, devido ao uso e ao
abuso indiscriminados de seus
recursos, é desde sempre um descumprimento da tarefa que nos foi confiada; a de
zeladores do mundo.
[4] (1:27) homem e mulher os criou...
Falaremos mais detalhadamente da criação da
humanidade como homem e mulher, quando iniciarmos o comentário
do segundo capítulo de Gênesis. Mas seria bom adiantarmos alguns importantes
destaques que se prendem ao contexto dessa parte do texto.
O autor pontua homem
e mulher, mais exatamente macho e
fêmea (como no hebraico) no final do
versículo, sublinhando que ambos foram criados è imagem de Deus. Ambos
participam igualmente de sua essência, complementando-se mutuamente para
se tornarem plenos no exercício dessa essência e na realização dos propósitos
de Deus para a humanidade criada.
Considerando que as bênçãos de Deus são, via de
regra, uma capacitação para um propósito definido, serem macho e fêmea é a
condição natural necessária e imprescindível para a realização da tarefa
seguinte. Uma benção de Deus para a humanidade que deveria ocupar e dominar o
planeta.
[5] (1:28) Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei
a terra e sujeitai-a...
Em outras traduções frutificai-vos. Gerem frutos. Outra demonstração de que o Criador
nos entrega a responsabilidade sobre o planeta. A humanidade não se perpetuaria
por novas formações divinas. Pelo contrário, a semente para novos seres estaria
em cada um, assim como nas plantas e nos animais. A vida se multiplica ao frutificar.
Uma vida frutifica para outra vida.
Sujeitar a terra, significar torná-la útil,
provedora do que for necessário para sustento da vida em expansão. Não importa
até onde haverá multiplicação da vida. Bem mantida e dirigida, a terra sempre
terá os recursos necessários para o sustento da vida e sua autonomia.
[6] (1:29) isso vos será para mantimento...
Veja o artigo A
dieta prescrita por Deus na coluna Comentários Livres que Prendem Atenção -
Gênesis.
[7] (1:31) Viu Deus tudo quanto fizera, e
eis que era muito bom...
Concluída a criação, Deus repete com ainda maior
ênfase sua expressão de satisfação com sua obra. E aquilo que dia a dia havia
ficado bom, agora estava muito bom. Completo, adequado e
pertinente, atendendo plenamente aos propósitos de seus feitos.
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