Por Jânsen Leiros Jr
"15 Ao ouvir isso um dos que
estavam com ele à mesa, disse-lhe: Bem-aventurado aquele que comer pão no reino
de Deus. 16 Jesus, porém, lhe disse:
Certo homem dava uma grande ceia, e convidou a muitos. 17 E à hora da ceia mandou
o seu servo dizer aos convidados: vinde, porque tudo já está preparado. 18 Mas todos à uma
começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um campo, e preciso ir
vê-lo; rogo-te que me dês por escusado. 19 Outro disse: Comprei cinco juntas de bois, e vou
experimentá-los; rogo-te que me dês por escusado. 20 Ainda outro disse: Casei-me
e portanto não posso ir. 21 Voltou o servo e contou tudo isto a seu senhor: Então o
dono da casa, indignado, disse a seu servo: Sai depressa para as ruas e becos
da cidade e traze aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos. 22 Depois disse o servo:
Senhor, feito está como o ordenaste, e ainda há lugar. 23 Respondeu o senhor ao
servo: Sai pelos caminhos e valados, e obriga-os a entrar, para que a minha
casa se encha. 24 Pois eu vos digo que nenhum daqueles homens que foram
convidados provará a minha ceia."
Lucas 14:15-24 - JFA
Festa com comida e bebida, fartura e
alegria, simbolizavam comumente o reino de Deus[1].
Estar nesse banquete, comer pão no reino,
significava ter sido ressuscitado no dia do Senhor, o que fazia de qualquer
indivíduo um bem-aventurado. E esse
homem que declara tal bem-aventurança, exalta tal condição, mas a situa num
tempo futuro, à parte da vida cotidiana que se desenrola num mundo real; na ressurreição dos justos (v.14).
Então
terá muita sorte quem for convidado para o banquete do reino,
poderíamos parafrasear a fala do convidado. E sua alusão poderia parecer óbvia
no sentido de que qualquer um adoraria ser encontrado em tal condição; sentado
à mesa do Senhor. Mas para Jesus isso não é tão claro. Muito pelo contrário. Para
ele, muitos há que perderão esse momento
por escolha própria. Muitos há que trocarão
tal benção por um prato de lentilhas[2].
E é isso que a parábola a seguir irá demonstrar.
Vinde,
porque tudo está preparado, avisa o anfitrião (v.17). Temos aqui um costume social
judaico. Esse chamado ou aviso era o segundo convite que se seguia a um primeiro.
Esse primeiro convite avisava os convidados sobre quando e onde se daria tal evento.
Quando desse primeiro convite, tais convidados podiam naturalmente declinar ao
chamado, pois diante de um possível conflito de compromissos, podiam desculpar-se
quanto a impossibilidade de comparecerem. Assim eles não seriam contados entre
os convidados, e por ocasião do segundo convite, já para entrarem para o banquete,
eles nem mesmo seriam avisados. Um protocolo bastante razoável.
A parábola começa com o segundo
convite, que já não se destina mais a ser ou não aceito, mas apenas a dizer aos
convidados que já haviam aceitado ao chamado, entrem, tudo está pronto[3].
A esse segundo convite se segue o momento de grande tensão da parábola, pois os
convidados que haviam dito que participariam do banquete, ocupam-se em dar
desculpas para não irem à festa, desconsiderando o cuidado e o preparo realizado
pelo anfitrião, e descumprindo o compromisso assumido anteriormente.
As desculpas dadas pelos convidados
são vazias e sem qualquer adequação. Pois quem compraria um terreno sem antes
tê-lo visto? Ou mesmo quem teria comprado juntas de bois, sem antes as ter
experimentado? Também não havia qualquer impedimento ao que se declarou recém
casado, que o impedisse de participar do banquete. São desculpas impróprias,
como impróprias e vazias são as desculpas que muitos em nossos dias dão, diante
do convite de Deus[4],
e de sua mão estendida à humanidade[5].
É interessante notar que o anfitrião,
diante do relato da negação ao seu chamado, não diz ao seu servo que retorne e
os obrigue a entrar. O protocolo quebrado lhe permitiria inquirir e exigir
retratação por parte dos que fizeram pouco caso de seu chamado. Porém ele não o
faz, assim como Deus não obriga quem quer que seja a aceitar seu convite ao
reino. Deus não se impõe ao homem, embora faça tudo que pode para convencê-lo
do pecado, da justiça e do juízo[6],
chamando-o ao arrependimento. Mas ele não obriga nada a ninguém; quem quer que
seja.
Impróprias ou não, vazias ou não, tais
recusas ao chamado do anfitrião, demonstram o quão inconveniente eles
consideraram o momento do convite à entrada. Obviamente nenhum deles estavam
sem fazer nada, ou desocupados de seus próprios interesses e prioridades. Mas
fica claro que, diante da fragilidade de seus motivos reais, eles tentam
reivindicar o direito da recusa, motivando tais recusas em circunstancias e
condições que consideraram mais adequadas ou inquestionáveis. Talvez até louváveis
e compreensíveis.
Notem que as desculpas declaradas
querem na verdade dizer mas que hora
infeliz para me chamar! Porque não negam participar do banquete, mas apenas
querem evidenciar que o convite veio na hora errada, quando coisas mais importantes e inadiáveis estão ocupando a prioridade de suas vidas. É como se de
maneira velada, mandassem ao anfitrião um recado. O convite é excelente, mas veio em péssima hora. Talvez em outro momento,
quem sabe?!...
Diante da recusa dos convidados,
talvez outro anfitrião qualquer remarcasse o banquete para um momento mais
adequado e conveniente a todos. Porém o Senhor do banquete da parábola, não só
mantém o banquete, como manda ao seu servo que busque aqueles que antes eram os
naturalmente excluídos do banquete. Aqueles cujas condições sociais
naturalmente excluía do convívio de todos. Aqueles com quem os antigos convidados
jamais gostariam de dividir qualquer espaço, muito menos comerem e celebrarem
juntos. E havendo ainda muitos lugares, ele ordena que outros tantos de fora,
dos caminhos, não só excluídos mas abandonados, fossem também trazidos à festa;
para que a minha casa se encha (v.23).
Obriga-os
a entrar[7],
orienta o anfitrião ao seu servo. Não há aqui qualquer alusão a qualquer espécie
de uso da força, para obrigar quem quer que seja a aceitar o convite de Deus
para o banquete em seu reino. Por outro lado, fica claro que o contexto indica
uma atitude de uso extremo de argumentação e persuasão, para que minha casa se encha. Ao mandar buscar os de ainda mais longe, pessoas ainda mais
improváveis de serem achadas em um banquete dessa espécie, o anfitrião aponta
para o uso extremo da graça e do compadecimento por aqueles que estão pelos caminhos e valados (v.23); uma escória
social e uns farrapos de autoestima e de amor próprio. Foram chamados aqueles
que jamais se sentiriam dignos de participar de uma festa no reino de Deus.
É importantíssimo reforçar, também,
que não está implícita no texto, qualquer fundamentação de uma opção pelos
pobres realizada por Deus, o anfitrião desse banquete. O que ocorreu foi o sumo
respeito pela rejeição dos convidados. Fora o anfitrião o rejeitado, não os
convidados originais. Eles declinaram do que lhes seriam natural participarem,
pois a tais foram apresentados os convites ao banquete. Eles escolheram não comer pão no reino dos céus.
Por fim, o anfitrião se demonstra
inflexível em sua determinação. Nenhum
daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia (v.24). Seria
essa uma flagrante prova da falta de misericórdia de Deus? Ou seria uma evidência
contundente de seu máximo respeito por nossas decisões, pela liberdade que
temos de negar estar com ele? Pois ele poderia ter dito ao seu servo obriga-os a entrar. Mas conhecendo que o
motivo de suas desculpas e recusas, foi a inquebrantável intenção de não trocarem
suas prioridades por um banquete que lhes pareceu menos atraente, ele vai atrás
de quem valorizaria tal banquete, e que se fartaria na festa oferecida por ele.
Deus não se impõe a ninguém[8].
Refletindo o Exercício
Quantas pessoas rejeitam o convite permanente de Deus? Quantos
trocam a benção da salvação por um mísero e fugaz prazer de um prato qualquer de
lentilhas? Você tem dado desculpas diante desse convite? Tem buscado desculpas
vazias e inconsistentes para negar àquilo que há tempos fala ao coração? O
tempo é hoje e a oportunidade é agora.
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