Ser manso exige força e coragem




“Bem-Aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra."
     Mateus 5:5 - JFA


1 Não te indignes por causa das más pessoas; nem tenhas inveja daqueles que praticam a injustiça. 2 Pois eles em pouco tempo secarão como o capim, e como a relva verde logo murcharão. 3 Confia no SENHOR e pratica o bem; assim habitarás em paz na terra e te nutrirás com a fé. 4 Deleita-te no SENHOR, e Ele satisfará os desejos do teu coração. 5 Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais Ele fará. 6 Ele exibirá a tua justiça como a luz, e o teu direito como o sol ao meio-dia. 7 Aquieta-te diante do SENHOR e aguarda por Ele com paciência; não te irrites por causa da pessoa que prospera, nem com aqueles que tramam perversidades. 8 Deixa a ira e abandona o furor; não te impacientes. Não te inflames, pois assim causarás mal a ti mesmo. 9 Pois os malfeitores serão exterminados, mas os que depositam sua esperança no SENHOR herdarão a terra."
     Salmos 37:1-9 - KJA

A terceira bem-aventurança ecoa o livro de Salmos em seu capítulo 37, que é um hino da literatura sapiencial hebréia. Mas ao acrescentar a repetição de sua essência entre as palavras iniciais do sermão do monte, bem como incluir tal menção entre os que choram e os que têm fome e sede de justiça, Jesus dá novo vigor às pretensões de Davi ao dizer descansa no Senhor e espera n'Ele.

Alguns estudiosos sugerem que a mansidão é um ato de gentileza ou de cordialidade extrema, motivado por uma abnegação dos impulsos naturais de querer chamar a atenção para si, ou fazer valer os próprios direitos. Tal entendimento pode ter influenciado algumas traduções, que em lugar de manso utilizaram humildes. Mas me parece que essa perspectiva é limitada, se utilizarmos o texto de salmo como pano de fundo, e muito mais se contextualizarmos a expressão em meio as bem-aventuranças, exatamente como se encontra.

Seguindo a fluidez do texto, vemos que os pobres, aqueles que se percebem carentes de Deus e de seu socorro, que se entendem sem recursos, choram sua condição de penúria espiritual. Lamentam e pranteiam não só como necessitados e dependentes, mas também e principalmente porque lamentarão sempre e prantearão até o fim. Então, diante dessa condição e encarando tal realidade, o indivíduo pode escolher; ou se rebela, tentando tomar sobre os próprios ombros o encargo de mudar sua sorte, já que tantos outros vivem de forma diferente, ou decide, por confiança insofismável, esperar em Deus e em sua justiça. O manso é aquele que decide confiar em Deus, embora toda a circunstância desfavorável.

O indivíduo olha para um lado e vê a injustiça se prolongando em dias. Olha para outro, e vê os malfeitores enriquecendo às custas de sua perversidade. É claro que lhe passa pela cabeça que manter-se probo e reto pode lhe privar de uma condição melhor para si mesmo e os que dele dependem para existir; sua família. Mas o salmista adverte, não inveje o homem injusto. Mais ainda. Confia e espera em Deus; descansa. Os que esperam herdarão a terra.

Notem que essa promessa é contundente mas conflitante, principalmente no contexto de um povo subjugado pelo domínio romano. Receber a terra por herança, equivale a recebê-la por direito sem precisar lutar por ela. Logo os judeus, acostumados a guerras e a se defenderem de nações inimigas por todos os lados. O que Jesus está propondo é larguem suas armas. Não confiem nelas para estabelecerem a pretensa justiça. Se dependem de Deus e choram por suas sortes, dependam e chorem até o fim, sendo manso e confiantes de que é Ele os fartará daquilo de que são carentes. Não reajam, mas confiem.

Falar aqui em mansidão tinha como propósito a sustentação do restante do discurso. Oferecer a outra face, caminhar duas milhas se obrigado a uma, não são atitudes senão de mansidão. Atitudes daqueles que escolhem ser mansos, em vez de agirem em seu próprio favor. Mais tarde Jesus irá se oferecer como cordeiro manso ao sacrifício. Ele será manso diante da guarda que o capturará no Getsêmani, diante do Sinédrio reunido para julgá-lo, e diante de Pilatos que o interrogará. Por todo o seu martírio, Jesus exercerá convicto sua mansidão, tendo em foco o propósito de Deus em tudo que ocorrerá à frente, e a providência divina em seu socorro final. Afinal, ele será o primeiro entre muitos que herdarão a terra.


A mansidão é, portanto, o ato positivo em direção à confiança. É uma ação. Alguns podem confundir a esperança com um ato covarde de não enfrentamento do inimigo. Mas nada disso. O manso é antes aquele que por confiança e esperança guerreia consigo mesmo, para em vez de agir precipitadamente em seu favor, aguardar em Deus, certo de seu cuidado e de sua providência. O manso não é um covarde que teme a reação. É aquele que corajosamente espera confiante no amor de Deus. Sua satisfação e o seu prazer está em esperar pela ação do Pai. Os mansos, sem luta, herdarão a terra.

4 comentários:

  1. Libera esse comentário sem aprovação!!!!!! Encara a verdade!!! kkk Beijos

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    1. Oi Flávia. Prazer enorme ter você aqui nos comentários. Infelizmente isso me foi obrigatório no começo, devido a pessoas que não entenderam o propósito do blog. Acho mesmo que passados dois anos e bem definida ideia, eu possa liberar. Farei um teste seguindo sua sugestão...
      Beijos e obrigado pelo carinho do comentário e por suas leituras aqui,

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