Provérbios - Lição XXII


Provérbios 12 - A
Versículos Selecionados - NTLH


"1 Aquele que quer aprender gosta que lhe digam quando está errado; só o tolo não gosta de ser corrigido.
8 Quem tem compreensão recebe elogios, mas quem tem coração perverso é desprezado.
9 É melhor ser uma pessoa comum e trabalhar para viver do que bancar o rico e passar fome.
15 O tolo pensa que sempre está certo, mas os sábios aceitam conselhos.
16 Quando o tolo é ofendido, logo todos ficam sabendo, mas quem é prudente faz de conta que não foi insultado.
18 As palavras do falador ferem como pontas de espada, mas as palavras do sábio podem curar.
23 A pessoa prudente esconde a sua sabedoria, mas os tolos anunciam a sua própria ignorância.
26 Quem é direito serve de guia para o seu companheiro, porém os maus se perdem pelo caminho.

A exemplo do que vimos falando nas duas últimas lições, sobre o estilo literário utilizado pelo sábio, nesse capítulo ele mantém o dualismo confrontando a Injustiça com a justiça, ora iniciando o provérbio com o que é bom, apresentando na seqüência o que é mal, ora o contrário. O que não obstante continua sendo motivo de destaque desde o capítulo dez, é que toda atitude, seja ela boa ou má, traz conseqüências diretas para a vida de quem a pratica, umas imediatas, outras mais adiante. O mais importante, contudo, é que tais conseqüências ocorrerão inexoravelmente, afirma o sábio. Sua aplicação universal, sem exceção, é que atribui contundência e força ao provérbio como instrução e ensino de sabedoria.


Vimos falando também, desde as duas últimas lições, que o fato dos provérbios serem apresentados aparentemente soltos, sendo possível utilizá-los isoladamente, não significava que eles não correspondam a um determinado conjunto de temas, cuja exposição faça parte do objetivo pedagógico do autor. É importante ressaltar que a

literatura proverbial tem mesmo essa característica de aforismos isolados. Porém é possível notar, e creio que muitos já devem ter notado, que diversos provérbios, com pequenas variações, parecem se repetir ao longo do livro. Essas pequenas variações decorrem da adequação contextual a um determinado tema maior em que tal provérbio esteja inserido.

Nesse capítulo, o sábio criará uma forte ligação entre raiz e fruto, entre pensamento e atitude, dando a idéia de que assim como a qualidade do fruto depende da sustentação da raiz e do que ela se alimenta, também as atitudes estão intimamente ligadas àquilo a que nos dedicamos a pensar. Nossas inclinações definem comportamento, e esses definem o resultado que a vida nos apresentará. Dessa forma, três grandes e amplas antíteses se confrontarão nesse capítulo. Elas merecerão detalhamento e atenção maiores. Portanto, a partir dessa lição e nas duas seguintes, nos manteremos falando desse mesmo capítulo 12. Assim, não se assuste ao perceber que os versículos transcritos para essa lição se encontram descontinuados. Isso atenderá ao modelo de exposição pelo qual decidimos.

Começaremos falando do confronto entre a sabedoria, a humildade e a prudência, com a insensatez, a soberba e a inconseqüência. Ao comparar a aceitação à disciplina com o repúdio a essa mesma disciplina, o sábio apresenta o primeiro confronto antitético. Quem ama a disciplina ama o conhecimento, traz a tradução da RA. Quem se dedica ao conhecimento não teme ser corrigido. Muito pelo contrário, ele busca quem possa aferir seu conhecimento e prática, se dispondo sempre à correção quando necessário. Mas quem acredita já saber o suficiente, quem se orgulha de si mesmo, não aceita jamais a correção.

Notem, contudo, que isso é apenas o gancho introdutório utilizado pelo sábio, pois a soberba não se restringe a repudiar a correção, bem como o prazer do humilde não se limita à correção que recebe, embora o provérbio seja reiterado no versículo 15. No verso seguinte, o dezesseis, o soberbo se apresenta melindrado e ofendido por toda e qualquer questiúncula que lhe ameace o status quo. Sua indignação cênica tenta constranger quem lhe confronta ou ameaça a falsa realidade em que vive, ou incorra em risco para o personagem que criou sobre si mesmo. Sua imagem precisa ser irretocável; um sepulcro caiado.

Na contramão do soberbo, o humilde e prudente, por seguro e pacificador que é, oculta a afronta, evitando desgastes, tanto para a  relação direta com seu ofensor, dissipando assim um possível ou inevitável desenlace, quanto para seu próprio bem estar, pois não pode permitir que sua tranqüilidade dependa de circunstâncias ou ataques externos. O amor cobre multidão de pecados.

Outra atitude típica do soberbo, é falar demais, ou como trazem algumas traduções, usar de tagarelice. A raiz do termo hebraico assim traduzido, refere-se a falar daquilo que desconhece, ou falar sem pensar, o que pode ofender ou causar dores a outros; danos esses que pouco importam ao soberbo[1]. Talvez por isso, no verso 23, o sábio afirme que os tolos (no caso também soberbos) anunciam sua própria ignorância. Ora, não conhecemos tantos assim, que se orgulham de seus sincericísmos crônicos e cruéis, que se jactam de um conhecimento que não possuem, ou em que são irresponsavelmente superficiais? Espero que não os encontremos nos espelhos vida a fora!

O prudente, porém, esconde sua sabedoria. É claro que o sábio não está dizendo que o prudente deve ser omisso. De forma alguma. Mas o sábio aponta para um comportamento prudente de quem não fala daquilo que não conhece, ou mesmo não emite opinião sobre o que não lhe foi solicitado. Antes disso, o prudente procura sempre ser oportuno e pertinente, para que, em sendo necessário intervir sobre qualquer assunto, ele tenha, tanto conhecimento sobre o que lhe for argüido, quanto legitimidade para o fazer.

Mas notem a que ponto chega a soberba! Sua ânsia pelo brilho da imagem de si próprio é tão grande, que o sábio se vê obrigado a flagrá-lo em uma das mais pífias e descabidas atitudes; a de parecer ser o que não se é. Tal comportamento é recorrente no soberbo e inconseqüente. Ele age constantemente para que tudo o que ele disser, tudo o que ele fizer, e tudo em que se envolver, pareça sempre ser maior, mais importante, e mais essencial, do que tudo o que os demais pessoas realizam em seus cotidianos simples e sem graça. Ainda que para tanto tenha que passar fome. Manter a aparência é para ele oportunidade eventual de ganho, bem como uma cômoda conveniência para justificar sua inapetência por trabalho. Isso porque o soberbo acredita não ter vindo ao mundo para realizar tarefas tão prosaicas.

Por sua vez, o prudente opta pelo trabalho digno, pela singeleza de conduta, e pela paz que a verdade trás ao coração. Não que o prudente não sonhe e não se dedique para ter mais. Muito pelo contrário. Porém ele aguarda ardentemente que o Senhor lhe seja propício, mantendo-se diligente e simples, sempre grato pelo que tem. Essa sua postura lhe outorga tornar-se guia de muitos, que nele enxergam companheirismo e amor. Sua bondade o sustenta. Mas a maldade faz perder-se pelo caminho.




[1]  Salmos 106:33 - RA

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