I
– História das origens do universo e da humanidade (1:1 – 11:32)
A. A criação do universo e da vida (1:1 – 2:3)
Capítulo 1
ü Segundo dia: A divisão das Águas
6 E disse Deus: Haja firmamento[1] no meio das águas e separação entre águas e
águas. 7 Fez, pois, Deus o firmamento e separação entre as
águas debaixo do firmamento e as águas sobre o firmamento. E assim se fez. 8
E chamou Deus ao firmamento Céus. Houve tarde e manhã, o segundo dia.
ü Terceiro dia: A terra seca, o mar e a vegetação
9 Disse
também Deus: Ajuntem-se[2] as águas
debaixo dos céus num só lugar, e apareça a porção seca. E assim se fez. 10
À porção seca chamou Deus Terra e ao ajuntamento das águas, Mares. E viu Deus
que isso era bom. 11 E disse: Produza a terra relva, ervas que dêem
semente e árvores frutíferas que dêem fruto segundo a sua espécie, cuja semente
esteja nele, sobre a terra[3]. E assim se fez. 12 A terra, pois, produziu relva, ervas que davam semente
segundo a sua espécie e árvores que davam fruto, cuja semente estava nele,
conforme a sua espécie. E viu Deus que isso era bom. 13
Houve tarde e manhã, o terceiro dia.
[1] (1:6)
firmamento, hebr. ráqîa’
Expansão,
vastidão, lâminas largas batidas, espelho fundido ou ainda extensão.
A
Terra passa a ser o foco da narrativa. Deus começa a preparar o ambiente para a
existência da vida. O caos inicial começa a dar lugar a um cenário organizado e
adequado ao desenvolvimento da flora e fauna, além do surgimento, mais tarde, do
ser humano.
A
expressão hebraica traduzida por firmamento, traz a idéia de uma estrutura
sólida que se estendida pelo teto do céu visível, separando o mar (águas inferiores)
das águas superiores (Sl. 148:4), que a seu tempo eram derramadas sobre a terra
pela abertura de suas comportas (Gn. 7:11; 8:2). No livro de Jó 37:18, o
firmamento chega a ser considerado como sólido, como algo se interpondo entre
as duas massas de água.
O
importante nessa passagem, contudo, é que ela estabelece seqüência lógica entre
os fatos narrados no processo da criação, ligando intimamente este fato ao
passo seguinte que será o surgimento da terra seca e o mar. Os dois feitos de
Deus, inclusive, parecem se completar mutuamente, pois só após o surgimento da
terra seca, Deus expressa sua satisfação com mais essa obra e diz que era bom.
[2] (1:9) Ajuntem-se
Temos
aqui uma visão excepcional do cuidado do Criador com sua obra. Ainda
providenciando o cenário onde a vida se desenvolveria, Ele ordena que as águas
deixem visíveis a terra seca (Sl. 104:5-9). Isso dá a entender que a já se
encontrava formada por Ele quando esta veio à tona das águas inferiores, mas
para atender aos propósitos de Deus aguardava sua ordem.
A
palavra hebraica aqui usada é qavah que dá sentido de alinhamento, transmite a
idéia de um “assentamento” das águas
abaixo do firmamento, que as colocasse em um mesmo nível, de modo que seus
termos ficassem estabelecidos (Jó 38:8-11; Pv. 8:27-29).
[3] (1:9) Relva, ervas, árvores que dêem fruto
O
Criador continua seu empenho em fazer da terra um habitat adequado e agradável
ao homem, tornando-a capaz de produzir aquilo que lhe é próprio.
Há
uma demonstração de abrangência quando o narrador cita essas três formas de
vida vegetal, não se prendendo a diversificar na narrativa todos os seus
gêneros e espécies. Mesmo porque, a expressão hebraica aqui traduzida por relva
é deshe’, que no contexto bem pode
ser entendida como “toda a vegetação”, diferençando apenas o que é árvore
frutífera.
É
interessante pararmos um pouco aqui nesse ponto. Alguns rabinos defendem a idéia
de que a intenção inicial de Deus era criar árvore-fruto (uma árvore que fosse
fruto toda ela e frutificasse o ano inteiro), e que nesta passagem se encontra
a primeira desobediência na terra a uma ordem
de Deus. Segundo eles, essa rebeldia da terra em não produzir aquilo que
Iavé ordena, corrobora a esperança de
um novo céu e uma nova terra, que, essa sim, obedeça à voz do Criador. Uma
idéia sem sustentação, pois numa análise bastante simples temos:
a)
A criação atendeu plenamente ao propósito divino “... e viu Deus que era bom”,
que por sua vez não pode ser frustrado em seu intento. A corrupção do estado
original de perfeição da terra somente se deu após a queda do homem. O anseio
por novos céus e nova terra é decorrente do estado de maldição no qual se
lançou, pelo pecado, tanto a humanidade, quanto a natureza.
b) A frutificação demanda “amadurecimento” daquele
que gera fruto. O próprio fruto se encarrega de semear a terra com seus iguais,
que amadurecendo a seu tempo, gerarão ainda mais frutos, num processo aqui
inaugurado de auto-sustentabilidade, sob a mão poderosa de Deus.
c)
O fato de cada árvore possuir seu tempo certo para frutificar de forma alternada,
“segundo suas espécies”, talvez fizesse parte de algum programa divino de
alimentação dos animais e do homem, uma vez que essa foi a orientação recebida
por Adão (1:29-30).
A
frutificação a seu tempo implica num ciclo onde a árvore se renova e se revigora.
Ela precisa passar pelo “outono” , quando as folhas velhas caem, para logo mais
voltar a florescer e novamente frutificar. Não é esse o milagre operado por
Deus no coração do homem que se renova para frutificar.
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