Por Jânsen Leiros Jr
"12 Disse também ao que o
havia convidado: Quando deres um jantar, ou uma ceia, não convides teus amigos,
nem teus irmãos, nem teus parentes, nem os vizinhos ricos, para que não suceda
que também eles te tornem a convidar, e te seja isso retribuído. 13 Mas quando
deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os mancos e os cegos; 14 e
serás bem-aventurado; porque eles não têm com que te retribuir; pois retribuído
te será na ressurreição dos justos."
Lucas 14:12-14 - JFA
Normalmente esse texto faria parte do
exercício anterior, uma vez que narra uma continuidade do que se passa no
evento para o qual Jesus havia sido convidado. Um banquete havia sido oferecido
por um dos principais fariseus, e o Mestre estava ali, como sempre, ensinando o
evangelho, confrontando comportamentos e costumes dos religiosos proeminentes. E
esse texto isolamos propositalmente, porque trás relevantes ensinamentos quanto
as atitudes livres de intenções camufladas.
Provavelmente Jesus percebeu o nível
social das pessoas que se encontravam naquele evento. Pessoas que por suas
condições e proeminências, haviam sido convidadas porque fazia parte do
protocolo social, se convidarem mutuamente para banquetes; fulano nos convidou, agora precisaremos convidá-lo também, conversariam
os anfitriões. Não mais ou menos assim mesmo até os dias de hoje? Vivemos de
retribuições protocolares como sugere a etiqueta.
Há algo de errado nisso? De forma
alguma. E nem mesmo Jesus está condenando tal hábito protocolar. Na verdade ele
está apontando para uma outra conversa entre os anfitriões, uma conversa onde
as intenções vão além de seguir uma etiqueta social; vamos convidar fulano porque assim seremos chamados por ele também. Ficará
obrigado a isso. Uma conversa que expõe a lógica do fazer para que nos seja retribuído. É para essa atitude que Jesus
aponta; uma conveniência que pretenda uma vantagem futura relevante.
Agir em favor de quem pode retribuir o
bem recebido, é pretender-se à recompensa, à retribuição. É naturalmente contar
com o cumprimento de um protocolo que garante um retorno, um equilíbrio que não
nos deixará no papel de quem só dá,
sem nada receber. Não há qualquer
altruísmo em oferecer banquete a quem nos pode pagar com a mesma moeda.
Pobres,
aleijados, coxos e cegos, não eram exatamente o tipo de
pessoa que pudessem retribuir qualquer convite que lhes fosse feito. Alijados
co convívio social, marginalizados por suas presumida inutilidades, essa gente
jamais seria capaz de oferecer de voltar o que quer que fosse, pois tudo lhes
era negado socialmente, a exceção de uma vida isolada e distante, sem qualquer
envolvimento, cuidado ou olhar da sociedade. Quem lhes auxilia e socorre, não
tem como esperar nada em troca.
Ao sugerir um convite aos desfavorecidos, Jesus dá ênfase às
atitudes altruístas, de amor doador. Fazer o bem a quem não nos pode
recompensar. É um bem que vai sem volta. É um dar sem nada receber. É
doar-se a si mesmo. Aliás, doação é via de uma só mão. Não se pretende à
retribuição.
Isso
mesmo! Poderia alguém concluir brilhantemente. Afinal, quem
dá aos pobres empresta a Deus! Não! Eu replicaria, pois assim sendo, teríamos
a lógica da retribuição mantida. Pior, estaríamos instituindo uma barganha com
Deus. Darei aos pobres, pois receberei de Deus. Que provérbio popular
infeliz...
E
serás bem-aventurado; porque eles não têm com que te retribuir; pois retribuído
te será na ressurreição dos justos. Essa frase não
sustenta uma barganha com Deus. De modo algum. Não diz que dando aos pobres
receberemos recompensa de Deus. Diz antes que não precisamos agir com vistas a
qualquer retribuição, de quem quer que seja, pois a nossa recompensa já está garantida na ressurreição dos justos, não por
termos dado algo ou feito qualquer bem aos pobres, mas por termos sido salvos para toda boa obra[1].
Devemos considerar a salvação como toda recompensa
a receber, à qual, inclusive, sequer fazemos justiça.
Refletindo o Exercício
Não é difícil incorrer no erro velado da barganha. Estamos
quase sempre medindo atitudes e avaliando consequências que nos possam ser
convenientes e proveitosas. Esperamos dar e receber, plantar e colher, agir e
conseguir. Quase nunca fazemos por gratidão, ou esquecemos o que fizemos, por
devoção.
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