Exercício 039 - A lei se curva ao amor


Por Jânsen Leiros Jr


"10 Jesus estava ensinando numa das sinagogas no sábado. 11 E estava ali uma mulher que tinha um espírito de enfermidade havia já dezoito anos; e andava encurvada, e não podia de modo algum endireitar-se. 12 Vendo-a Jesus, chamou-a, e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade; 13 e impôs-lhe as mãos e imediatamente ela se endireitou, e glorificava a Deus. 14 Então o chefe da sinagoga, indignado porque Jesus curara no sábado, tomando a palavra disse à multidão: Seis dias há em que se deve trabalhar; vinde, pois, neles para serdes curados, e não no dia de sábado. 15 Respondeu-lhe, porém, o Senhor: Hipócritas, no sábado não desprende da manjedoura cada um de vós o seu boi, ou jumento, para o levar a beber? 16 E não devia ser solta desta prisão, no dia de sábado, esta que é filha de Abraão, a qual há dezoito anos Satanás tinha presa? 17 E dizendo ele essas coisas, todos os seus adversário ficavam envergonhados; e todo o povo se alegrava por todas as coisas gloriosas que eram feitas por ele.  

18 Ele, pois, dizia: A que é semelhante o reino de Deus, e a que o compararei? 19 É semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e lançou na sua horta; cresceu, e fez-se árvore, e em seus ramos se aninharam as aves do céu.  

20 E disse outra vez: A que compararei o reino de Deus? 21 É semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar toda ela levedada."
Lucas 13:10-21 - JFA

Este texto de Lucas reafirma o que já havíamos dito em outros exercícios anteriores, que Jesus tinha o hábito de frequentar a as sinagogas das aldeias e cidades por onde passava, seguindo a tradição de compartilhar o ensino da Palavra com as pessoas da comunidade onde se encontrava. E em que melhor lugar poderia estar para falar sobre o reino de Deus? Isso reforça o papel da reunião dos santos na igreja local, na instrução e edificação na Palavra. Mais tarde Paulo apresentará o mesmo hábito em suas viagens missionárias.

E aproveitando exatamente o ajuntamento, Jesus aplica mais uma lição nos líderes religiosos daquela sinagoga, demonstrando que suas tradições e legalismos não se sobrepõem ao amor e ao cuidado de Deus. E que melhor exemplo de tradição e legalismo no meio judeu, do que a inflexível guarda do sábado como conduta e regra a ser observada. Inflexível, é claro, conforme a conveniência e casuísmo de quem a argumentava e requeria aplicação.

Note-se que Jesus não se desfaz ou menospreza o mandamento da guarda do sábado[1], mas apenas superlativa o livramento de uma mulher judia, de um mal que há tanto sofria. A guarda do sábado, portanto, não pode ser mais importante do que o bem estar de quem quer que seja, assim como qualquer outra posição tradicional, que não tenha como fim último o bem e o amor[2].

Ao inverter a lógica do que importa para Deus, Jesus não só demonstra a superioridade da graça sobre a lei como pretensão divina, como expõe a hipocrisia e a dureza do coração daqueles religiosos. Sim, porque eles mesmos, por terem se envergonhado da própria advertência que proferiram, admitiram que segundo suas conveniências no trato de seus animais transgrediam o sábado, para garantir-lhes saúde e bem estar. Mas àquela mulher, tão filha de Abraão quanto eles, tão mais importante que qualquer animal[3], tanto quanto eles mesmos também o eram, aqueles religiosos queriam negar o direito da cura no sábado, ainda que tal significasse perder a oportunidade de se livrar de uma escravidão que já durava dezoito longos anos. Hipócritas!

Por fim Jesus faz dois questionamentos, aos quais ele mesmo dá uma resposta improvável, mas reveladora. Ainda que uma horta represente o pragmatismo do esforço essencial em se manter alimentado e vivo, portanto do que é útil e funcional, o reino de Deus pode proporcionar descanso oportuno e salvador, para quem vaga à procura de descanso para o corpo e para a alma. O reino de Deus é superior a qualquer fisiologismo e interesse humano.

Além disso, por maior que fosse a contrariedade dos líderes da sinagoga com os ensinamentos e o confronto de ideias a que Jesus os expunha, por mais que viessem a atentar contra sua vida, vindo a sepultá-lo e mantê-lo assim por três dias de medidas de farinha, o fermento de suas palavras já estavam promovendo a maior e mais consistente mudança de paradigmas a que a humanidade jamais se submetera. A retaliação dos religiosos já não teria qualquer efeito para conter o evangelho. A massa estava em crescimento.


Refletindo o Exercício

Não são poucas as vezes em que nos utilizamos de tradições e ordenanças legalistas, para justificar e impor nossas convicções pessoais, sem considerar a liberdade e o amor com que o Espírito de Deus age, através ou apesar de nós.



[1]  Êxodus 31:15; Deuteronômio 5:12
[2]  Mateus 12:1-8; Marcos 2:28; Lucas 6:5
[3]  Mateus 12:9-14

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