Exercício 031 - Fardos pesados e inveja assassina; um legado


Por Jânsen Leiros Jr


45 Disse-lhe, então, um dos doutores da lei: Mestre, quando dizes isso, também nos afrontas a nós. 46 Ele, porém, respondeu: Ai de vós também, doutores da lei! porque carregais os homens com fardos difíceis de suportar, e vós mesmos nem ainda com um dos vossos dedos tocais nesses fardos. 47 Ai de vós! porque edificais os túmulos dos profetas, e vossos pais os mataram. 48 Assim sois testemunhas e aprovais as obras de vossos pais; porquanto eles os mataram, e vós lhes edificais os túmulos. 49 Por isso diz também a sabedoria de Deus: Profetas e apóstolos lhes mandarei; e eles matarão uns, e perseguirão outros; 50 para que a esta geração se peçam contas do sangue de todos os profetas que, desde a fundação do mundo, foi derramado; 51 desde o sangue de Abel[1], até o sangue de Zacarias[2], que foi morto entre o altar e o santuário; sim, eu vos digo, a esta geração se pedirão contas. 52 Ai de vós, doutores da lei! porque tirastes a chave da ciência; vós mesmos não entrastes, e impedistes aos que entravam.  
53 Ao sair ele dali, começaram os escribas e os fariseus a apertá-lo fortemente, e a interrogá-lo acerca de muitas coisas, 54 armando-lhe ciladas, a fim de o apanharem em alguma coisa que dissesse."
Lucas 11:37-54 - JFA

Ainda no mesmo evento, e na seqüência do confronto entre Jesus e os fariseus devido às suas atitudes de fachada, os chamados doutores da lei, homens cheios de conhecimento das tradições e das leis judaicas, sentiram-se atingido pelos "ais" pronunciados pelo Mestre. Talvez imaginassem que, por serem mestres da lei, estariam livres do confronto, uma fez que chamando-os à discussão, Jesus estaria mexendo em casa de marimbondo. Mas isso não os livrou de seus "ais".

Tais doutores da lei tinham a fama de ensinar detalhadamente a lei e as tradições, e por isso muitos dos jovens eram-lhes confiados, para deles aprenderem todo o conteúdo da religião. Isso lhes rendia dinheiro e distinção social, que novamente lhes rendia dinheiro e distinções. E quanto mais tais doutores demonstravam rigor e exigências aparentemente piedosas, mais conceituados eles eram, e por isso mais procurados pelos pais que desejavam ensinar aos filhos os princípios da religião; os seus discípulos, ou talmidim.

Nesse movimento de se tornarem mais rigorosos e distintos por suas exigências, muitos eram os fardos difíceis de serem carregados; princípios difíceis de serem seguidos. Um jugo duro demais, que em vez de os inspirarem ao amor de Deus, os lançavam na dura realidade do cumprimento legalista e fantasioso de regras, que nem mesmos esses doutores cumpriam, ou ajudavam seus discípulos a cumprir. Uma variação proverbial de façam o que eu mando mas nem saibam o que eu faço[3].

Jesus continuou confrontando os doutores da lei, mostrando o quanto a aparente honraria de edificar túmulos aos profetas do passado, não passava de reedição de seus assassinatos, uma vez que suas vidas e posturas se assemelhavam às de seus antepassados, que matavam os profetas, sempre que esses discordavam de suas condutas e meios de manipular o povo, conforme suas conveniências. Para Jesus era flagrante o que estavam fazendo e o que planejavam fazer a seu respeito. A presente geração era, portanto, tão culpada dos assassinatos do passado quanto, aquelas que os realizaram efetivamente.

Não entram, nem deixam ninguém entrar. É a confrontação seguinte de Jesus aos doutores da lei. Eles que por profissão e posição social, deveriam ocupar-se em orientar o povo no conhecimento da lei de Deus, de sua justiça e de seu amor, com muitos usos e costumes e imersos em tradições, não só não entram no reino de Deus, como impedem os que por eles são orientados, de chegarem ao conhecimento da verdade. Precisam manter suas convenientes posições, custe o que custar; mesmo que seja sangue inocente.

Jesus havia mesmo mexido em vespeiro. Aqueles homens impolutos e inchados em suas soberbas, sentiram-se diminuídos e afrontados. Jesus claramente passava a ser uma ameaça às suas permanentes pretensões de controle e manipulação do povo. Assim, a urgência em eliminá-lo crescia, embora não pudesse ser tão flagrante. Precisariam confundi-lo ou armar-lhe ciladas em que, caindo, pudesse ser acusado de crime contra a lei de Moisés. Sabemos que jamais conseguiram. Irão matar mais um inocente.


Refletindo o Exercício

Não é de hoje que a atitude natural do ser humano é buscar eliminar o seu contrário, o seu diferente, ou aquele ou aquilo que expõe sua verdade mais vulnerável, ou suas intenções mais sórdidas. Em vez de identificar em si mesmo as razões de sua miséria, volta-se contra o "espelho". O inferno são os outros!




[1]  Gênesis 4:8
[2]  2 Crônicas 24:20-22
[3]  Mateus 23:1-3

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