“Não havendo sábia direção, toda
a nação é arruinada; o que a pode restaurar é o conselho de muitos sábios."
Provérbios 11:14 - KJA
“O caminho do insensato é reto aos seus olhos;
mas o que dá ouvidos ao conselho é sábio."
Provérbios 12:15 - JFA
“A arrogância só produz
contendas, mas a sabedoria está com aqueles que buscam conselho."
Provérbios 13:10 - KJA
“Onde não há conselho,
frustram-se os projetos; mas com a multidão de conselheiros se estabelecem."
Provérbios 15:22 - JFA
“quem parte para a guerra
necessita de orientação estratégica, pois com muitos conselhos se conquista a
vitória!"
Provérbios 24:6 - KJA
“Mais vale um jovem pobre e sábio
do que um rei ancião e insensato, que em sua arrogância já não aceita mais
conselhos."
Eclesiastes 4:13 - KJA
"Se conselho fosse bom ninguém dava; vendia." É o que diz a sabedoria popular. E interessante! esse
ditado é argumento tanto para quem quer aconselhar, mas teme a reação de seu
interlocutor, quanto para quem efetivamente não quer aceitar qualquer conselho
sobre um assunto qualquer, principalmente se esse conselho sugere não realizar
alguma coisa da qual se está muito interessado em fazer. Normalmente ouvimos de
bom grado os conselhos que nos atendem as próprias inclinações. Servem sempre e
convenientemente para justificar atitudes, ou para criar o "bode
expiatório" a quem culparemos pelo que quer que dê errado. - Tá vendo?! Fui ouvir você... Olha no que
deu!
Nesse cenário por onde caminha a
realidade da conduta humana e suas conveniências, parece até desaconselhável,
emitir conselhos sobre qualquer que seja o assunto, em quaisquer que sejam as
circunstâncias, sob pena de ser inoportuno diante da inflexibilidade do
aconselhado, ou de ser responsabilizado pela desventura daquele a quem se
pretendeu ajudar. Dura é a vida do conselheiro. Bem faz o consultor que cobra
pelo conselho que dá. Afinal, conselho bom se vende.
Mas nosso foco aqui não será o
conselheiro e nem mesmo o conselho em si, mas a atitude sábia de se aconselhar,
de se enriquecer com o máximo de informações e percepções sobre um determinado
assunto, antes de tomar uma decisão, ou firmar posição. Na multidão dos conselhos habita a sabedoria. Mas qual é a conexão
de tomar conselho, com o exercício filosófico a que se pretende a mania de
pensar no que cremos? Eu diria que total.
Uma das características mais marcantes
da filosofia é o seu método. No trabalho incessante de buscar respostas para
suas questões, chegar a alguma resposta é menos importante que o próprio
processo de se buscá-las. O exercício da investigação, é de fato, a chama
inextinguível do pulsar filosófico. E isso se dá em grande medida, não se
sabendo bem o que é causa e o que é efeito, porque a filosofia não trabalha com
verdades absolutas, ensimesmadas que são de particulares observações do mundo à
volta do filósofo, ainda que suas afirmações, oriundas de diferentes e variadas
contribuições de seu cotidiano, sempre se pretendam à universalidade.
Desse modo, não havendo por princípio
uma verdade absoluta a que alguém possa chegar por particular observação, a
investigação de certas questões sempre estarão a mercê de sucessivos exercícios
elucubrativos, que alternarão os assuntos em seus laboratórios, conforme
circunstâncias históricas e sociais, que demandem posicionamento ou orientação
do pensamento humano e de senso comum.
Esse perfil da atividade filosófica, é
milenar. Nas escolas filosóficas da antiguidade, os alunos eram sempre
estimulados por seus mestres a buscarem entendimentos divergentes de suas
observações. Em vez de lhes ensinar apenas a conclusão a que chegavam,
instruía-os no caminho que trilhavam até uma determinada idéia, incentivando-os
a autonomia de pensamento. Assim, eram estimulados a discordarem e a criticarem
seus mestres, trazendo novas concepções e possibilidades de entendimento das
questões sobre as quais se debruçavam.
Ora, no mundo das idéias o tempo
cronológico não limita e muito menos impede o debate entre os diversos
pensadores da história universal. Ora contradizendo, ora corroborando,
pensadores se sucedem na tarefa de trazer às suas ágoras contemporâneas,
questões que serão discutidas livremente por diversos filósofos, quer estejam
presentes fisicamente, quer se façam presentes por intermédio de suas obras,
registros, ou tradição oral a eles atribuídas. Uma verdadeira academia do
pensamento, onde o mundo pode se aconselhar com as idéias e contribuições
deixadas por cada um dos seus membros históricos.
Esses conselhos a que me refiro, são
contrapostos, criticados, discutidos e comentados. Quer aceitos na íntegra ou
em partes, quer rejeitados por completo, todos inexoravelmente servirão de
parâmetros que tangerão o pensamento humano pela história, em suas demandas por
conhecimento e direcionamento existencial. A cada fase da nossa história, novos
membros vão compondo essa academia do pensamento, enriquecendo todo e qualquer
debate, e contribuindo para visões cada vez mais adequadas à contemporaneidade
do debate mais recente. Na multidão dos conselhos habita a sabedoria. Não é
erro de digitação. Estou repetindo essa frase propositalmente.
Não obstante a costumeira demonização
da atividade pensante no que se refere a investigação das razões de nossa fé,
penso que na multidão dos conselhos habita a sabedoria. Ou seja, quanto mais
rodeado de conselhos, quanto mais enriquecido pela atividade do pensamento
humano, quer para confirmá-lo, quer para rejeitá-lo, tanto mais consistente
serão minhas posições, uma vez que frutos de uma conclusão robusta, não oriunda
de uma mímica conveniente e oportunista qualquer, mas nascida de uma atividade
responsável e prazerosa; a renovação do nosso entendimento, para entendemos a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus.[1]
A essa altura muitos já devem ter
torcido o nariz. Mas haverá quem rasgue as próprias vestes[2].
Porque o questionamento bem como a confrontação de idéias e visões de mundo,
são, em tese, os melhores e mais bem-sucedidos métodos de aprofundamento do
conhecimento, qualquer que seja a disciplina ou ciência na qual esteja
inserido. Inclusive na teologia. Ou não foi assim que avançou a revelação de
Deus ao longo da história da humanidade, mais particularmente na história de
Israel?
O questionamento das tradições
judaicas, bem como a confrontação dos costumes religiosos dos escribas e
fariseus, estão espalhados por todo o relato dos evangelhos. As idéias
convenientemente estabelecidas sobre o que era religiosidade, davam à elite
religiosa uma confortável condição de destaque, concedendo prestígios e acumulando-lhes
vantagens oportunas. Mas Jesus lhes questionava a pertinência dos hábitos e a
natureza das intenções. Ele confrontava repetidamente a superficialidade de
seus ritos, como a realidade maldosa de suas pretensões. Não foi sem motivo que
esses profissionais da religião e aproveitadores da boa fé do povo, foram
chamados, sem hesitação, de hipócritas e de sepulcros caiados, dado o
fingimento com que se apresentavam como piedosos e probos religiosos.
Paulo não agiu muito diferente. Toda
sua teologia, em visível construção ao longo de suas cartas, é fruto do
questionamento e confrontação do que se acreditava, com aquilo que se
descortinava diante de seus olhos, a medida que a experiência da vida
transformada lhe propiciava novas percepções sobre a relação da humanidade com
Deus. Confrontando idéias e questionando a si mesmo, aquele zeloso judeu que
consentiu com a morte de Estevão e empreendeu viagem para prender e julgar os
seguidores de Jesus, tornou-se o principal expoente do cristianismo, sendo o
principal evangelizador entre os gentios.
Ora, é preciso sair do casulo. Abrir
os olhos. Tomar conselho com a vida e suas possibilidades. Rasgar as receitas
de existências pré-moldadas, e se lançar às experiências enriquecedoras que a
relação com Deus e as pessoas que nos cercam são capazes de produzir.
Precisamos correr o risco do inédito em nosso cotidiano. Prestar um culto
racional pela transformação da nossa mente. É na mente que são produzidas as
idéias. É na mente que se armazena o entendimento. Se não cremos porque entendemos,
é por entendermos que sustentamos e enriquecemos nossa relação com Deus, e
somos renovados em nossas inclinações e conduta.
“Um homem sábio é poderoso, e
quem possui entendimento potencializa sua força;"
Provérbios 24:5 - KJA
Portanto reitero o convite. Leia,
ouça, assista, debata, pergunte e questione. Leia incessantemente sua Bíblia e
abra espaço para outras literaturas. Ouça louvores e adore a Deus com inteireza
de coração, mas não deixe ouvir poesia e cantar a vida em verso e prosa.
Assista na TV seus programas prediletos e não perca a oportunidade de analisá-los
comentá-los; a ficção ajuda a debater o mundo real. Do que entende e conhece,
ensine; o que não sabe, pergunte. O que não compreende questione. Mente vazia, dizia minha avó, é oficina do diabo. Afinal de contas, é na
multidão dos conselhos que habita a sabedoria.
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