“Bem-aventurados os pobres em
espírito, pois deles é o Reino dos Céus."
Mateus 5:3 - KJA
“16 Não te deleitas em sacrifícios
nem te comprazes em oferendas, pois se assim fosse, eu os ofereceria. 17
O verdadeiro e aceitável sacrifício ao Eterno é o coração contrito; um coração
quebrantado e arrependido jamais será desprezado por Deus!"
Salmos 51:16-17 - KJA
“1 Eis que o Espírito de Yahweh, o
Soberano, está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para anunciar a Boa Nova aos
pobres. Enviou-me para cuidar dos que estão com o coração quebrantado,
proclamar liberdade aos cativos e libertação do mundo das trevas aos prisioneiros
da escuridão; 2 para anunciar a todos o ano aceitável
de Yahweh, e o Dia da vingança do nosso Deus; para consolar todos os que andam
tristes,"
Salmos 61:1-2 - KJA
Aqui começamos a pensar cada uma das
bem-aventuranças ditas por Jesus no Sermão do Monte. E é muito relevante que
ele tenha começado exatamente pelo pobre,
que em sua condição, além de sofrer pelas circunstâncias de seu estado de
penúria, ainda era marginalizado socialmente, deixado à parte do convívio
social e do movimento econômico. Não havia nada de bom em ser pobre.
Entre os diversos sentidos pelos quais
uma pessoa poderia ser chamada pobre,
no entanto, Jesus complementa de espírito,
isolando total e completamente a possibilidade do cunho sócio-econômico em sua
afirmação. Os pobres de espírito, portanto, não são os mesmos que carecem do
auxílio e dos recursos de terceiros para viver. Não são os mendigos que
suplicam ajuda, para terem atendidas suas necessidades mais básica. Não são
esses os pobres de espírito, mas não
significa também que não o possam também ser. O que se pretende, contudo, é
dissociar uma condição da outra, pois não são determinantes entre si.
O conceito de pobre em espírito é mais
facilmente entendido para o judeu do que para o grego, o que talvez explique,
em certa medida, a diferente narrativa de Mateus e Lucas para o mesmo discurso,
pois esse último em Lucas 6:20, utiliza apenas a palavra pobre. O judeu acostumara-se com circunstâncias espirituais de aflição,
de angústia e de dependência do socorro divino. Tais circunstâncias o levaram a
perceber que esses estados lhes faziam pobres e fracos, pois extremamente
necessitados, senão de dinheiro ou recursos, do socorro de Deus.
“Todos os meus ossos dirão: Ó
Senhor, quem é como tu, que livras o fraco daquele que é mais forte do que ele?
sim, o pobre e o necessitado, daquele que o rouba."
Salmos 35:10 - KJA
Ao dissociar a condição econômica e
social do indivíduo de sua condição espiritual, Mateus universaliza a condição
de pobre a toda a humanidade, e
individualmente a todo aquele que se entende carente do socorro e do cuidado de
Deus, ainda que rico. E de novo em Lucas 18:13 essa idéia retorna, quando o publicano sequer
ousa levantar os olhos ao fazer sua oração com o coração contrito; sê propício a mim, pecador. Seu
quebrantamento e contrição eram flagrantes. Ele era um pobre em espírito.
“Então os que dentre vós
escaparem se lembrarão de mim entre as nações para onde forem levados em
cativeiro, quando eu lhes tiver quebrantado o coração corrompido, que se
desviou de mim, e cegado os seus olhos, que se vão corrompendo após os seus
ídolos; e terão nojo de si mesmos, por causa das maldades que fizeram em todas
as suas abominações"
Ezequiel 6:9 - KJA
É importante ressaltar que tal
pobreza, como dependência de Deus, reconhecida em meio a um estado de extrema
necessidade e dor, pode não se originar de mero reconhecimento de falência
espiritual, mas conseqüente da ação divina em lhe apresentar claramente a
própria condição de necessitado, em comparação ao sentimento equivocado de
segurança que qualquer circunstância favorável que a vida possa trazer. Como em
Apocalipse 3:16-17, onde a sensação de riqueza e aparente segurança, é
claramente confrontada; estou rico e
abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim,
miserável, pobre, cego e nu.
Assim, o paradoxo fica evidente. Se a
pobreza de espírito está ligada à piedade, a riqueza de espírito e sua
conseqüente arrogância, liga-se ao afastamento voluntário de Deus e de tudo que
possa lembrar-lhe a necessidade. O autoconfiante não enxerga, por sua condição,
qualquer carência que o leve a depender de Deus e de seu cuidado. Logo, o rico
é na verdade miserável, cego e nu,
enquanto o pobre, um rico, sendo sua
riqueza o socorro e a benevolência de Deus. Quem
é como o nosso Deus?
Portanto, seja por contrição
espontânea diante da grandeza reconhecida de Deus, seja pela flagrante falência
espiritual que lhe derrube da auto-suficiência, ou ainda porque viu-se apanhado
pela correção de Deus e o reconhece nesse propósito, um coração contrito e
quebrantado, um pobre em espírito,
terá sempre o amparo do Senhor. O pobre e necessitado de Deus receberá
invariavelmente o seu cuidado. O Senhor sempre virá em socorro àquele que
suplicante O reconhece como salvador único; socorro
bem presente na tribulação.
Dos pobres em espírito é o Reino dos céus, pois são eles que
preferencialmente pedem por Deus. São eles que confiam que o Senhor é seu único
socorro. Os pobres em espírito não trocam
o conforto de Deus por nada, tão mais sedutor possa parecer qualquer outro
conforto ou pretensa segurança. Dos que
esperam em Deus é o Reino dos céus.
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