Tendo
descansado da primeira parte de nossa viagem pelo livro de Gênesis, e mais
pontualmente da história da criação, precisamos relembrar alguns pontos relevantes
dessa narrativa, que serão extremamente úteis no entendimento, não só dos
próprios acontecimentos a seguir, bem como para todo o restante do texto
bíblico, embora escrito em épocas e circunstâncias bastante diferentes.
"Todo
o universo é criação de Deus e tudo tem início em sua vontade. Nada existia antes,
sendo tudo trazido à existência por sua palavra."
O
poder criador de Deus é o aspecto primordial da narrativa. Se Ele é poderoso
para criar, tudo o mais que será anunciado como feito seu pode naturalmente ser
aceito. Mesmo as promessas podem ser cridas por fé, tendo como referência esse
mesmo poder criador. Ser o criador de “os céus e a terra”, dá a Deus a
prerrogativa da condução da história de sua criação, bem como o caracteriza
como incomparavelmente capaz de realizar até mesmo o inimaginável e o
impossível.
"Deus
traz ordem ao caos."
É
a afirmação mais relevante para um povo recém saído do cativeiro no Egito. Por
mais assustador que seja o caos, Deus
está presente e ativo, trabalhando para o estabelecimento da ordem; daí “o
Espírito de Deus pairava sobre a face das águas”. Nenhum caos existirá para sempre. Nossa
esperança se sustenta na fé de que Deus pode mudar a dureza de nossa infeliz
circunstância, seja ela qual for.
"A
luz é um elemento primordial para a ordem. A luz repele as trevas e revela a seqüência
do que precisa ser feito, para redimir o caos em ordem."
Essa luz não vem do sol, criado apenas
no quarto dia. Não desmerecendo qualquer interpretação divergente ou
conflitante, o que importa aqui é que a luz vem antes de qualquer ação que se
pretenda a um feito positivo e pertinente. Para que o caos seja redimido é
necessário trazer a circunstância para a luz, chamada dia; “a noite vem, quando
ninguém pode trabalhar.” (Jo. 9:4). Nada que se pretenda ao sucesso pode ser
realizado nas trevas.
"Ordenar
o caos requer seqüência."
A narrativa da criação demonstra que
um dia prepara as condições para o que ocorrerá no dia seguinte. Se
brincássemos de embaralhar os dias da criação, alterando a seqüência desses
dias, inviabilizaríamos a criação, pois a narrativa apresenta uma sustentação
condicionada de um dia pelo outro. O cuidado de Deus que se revela nesse
princípio se traduz em sua providência. O que Deus faz hoje está, de alguma
forma, relacionado condicionalmente com o que acontecerá ou por ele será
realizado mais adiante. Nisso se sustenta o que Paulo afirmaria mais tarde, que
“todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm
8:28). Os propósitos de Deus não se utilizam de atalhos, pois não se estabelece
a ordem promovendo o caos.
"Os
astros celestes não são deuses."
Contrariando
crendices populares contemporâneas a elaboração do texto de Gênesis, sol, lua e
estrelas são astros criados por Deus e, portanto, coadjuvantes na narrativa da
criação. Não são deuses nem tampouco responsáveis por quaisquer fatos ou
circunstâncias da vida cotidiana do ser humano. A relação do querer-ser e a do planejar-agir está ligada a Deus, afirma o autor de Gênesis. A
criação é, portanto, um evento pessoal que se inicia na vontade, descartando
assim o acaso como mote criador.
"Todos
os seres vivos da terra foram criados."
O autor de Gênesis mais uma vez rebate
tendências contemporâneas entre o povo de Israel. Semelhante os astros, os
animais não são deuses. Foram todos igualmente criados, sem qualquer aspecto de
divindade, nem capacidade de subjugar a humanidade. Tanto os astros quanto
os animais e todos os demais seres viventes na terra, possuem utilidades e
cumprem propósitos em vez de estabelecê-los ou conduzi-los.
"E
viu Deus que isso era bom."
Todo o cenário, portanto, foi
preparado para o surgimento do ser humano. Tudo que até então foi criado estava
adequado à sua finalidade. A seqüência estabelece a meta. A humanidade foi o
objetivo da criação. Tudo foi criado para que existisse o ambiente e as
condições apropriadas para o relacionamento entre Criador e criatura, Deus-Homem.
Concluindo as observações da criação
do universo segundo a narrativa bíblica, se em uma frase tivéssemos que resumir
todo o texto, poderíamos afirmar que o amor de Deus é realizador. Não
sucumbe em palavras, mas age em benefício de seu objeto. Planeja, realiza,
executa, cuida e provê tudo em favor do amado. Inclusive trazer à existência tudo
o que lhe for necessário. Não é Ele mesmo “poderoso para fazer infinitamente
mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos”? (Ef. 3:20).
Nossa
segunda etapa da viagem será a criação da humanidade e sua relação primordial
com Deus até a expulsão do Paraíso. Caminharemos pelo Jardim do Éden e conversaremos
com Adão e Eva, sem deixarmos de entrevistar a Serpente. A imagem e semelhança,
o pecado e o mal serão alguns dos temas abordados nessa segunda etapa. Não
deixe de tomar o trem em nossa próxima partida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Detesto falar sozinho. Dê sua opinião. Puxe uma cadeira, fale o que pensa e vamos conversar...