Pessoa fingidor


O poeta é um volúvel
Sua sina
sua rima
O poeta é bem solúvel

Se sua vida

não se afirma
boemia é sua cama
Noite a dentro se confirma

O poeta é um falador

suas palavras se atropelam
e se atacam com ardor
ora frio
ora calor
Seja por ódio
ou amor
O poeta é um condutor

Se pastando se alimenta

se sofrendo se inspira
do acaso não duvida
do fracasso ressuscita

O poeta é um sofredor
que antecipa sua dor
velada
esperada
se não chega
é fabricada
O poeta é assustador

Se finge sentir um tanto

tanto quanto se deseja
tanto quanto se aguarda
mesmo enquanto se afasta

O poeta é um gozador

que ri com sabor
que chora a alegria
da morte
do horror
Pessoa diz ser fingidor

Tudo vive por um poema

tudo faz pelo seu tema
Pela música e pela cena
Com a voz de um narrador
De poeta a encantador


Dezembro 1991

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