Por Jânsen Leiros Jr
"49 Vim lançar fogo à terra;
e que mais quero, se já está aceso? 50 Há um batismo em que hei de ser batizado; e como me
angustio até que venha a cumprir-se! 51 Cuidais vós que vim trazer paz à terra? Não, eu vos digo,
mas antes dissensão: 52 pois daqui em diante estarão cinco pessoas numa casa
divididas, três contra duas, e duas contra três; 53 estarão divididos: pai
contra filho, e filho contra pai; mãe contra filha, e filha contra mãe; sogra
contra nora, e nora contra sogra.
54 Dizia também às
multidões: Quando vedes subir uma nuvem do ocidente, logo dizeis: Lá vem chuva;
e assim sucede; 55 e quando vedes soprar o vento sul dizeis; Haverá calor; e
assim sucede. 56 Hipócritas, sabeis discernir a face da terra e do céu; como
não sabeis então discernir este tempo?
57 E por que não julgais
também por vós mesmos o que é justo? 58 Quando, pois, vais com o teu adversário ao magistrado,
procura fazer as pazes com ele no caminho; para que não suceda que ele te
arraste ao juiz, e o juiz te entregue ao meirinho, e o meirinho te lance na
prisão 59 Digo-te que não sairás dali enquanto não pagares o derradeiro lepto."
Lucas 12:49-59 - JFA
Chegamos a um trecho de grande controvérsia
a respeito de sua interpretação. E confesso que levei dias meditando se não
seria mais fácil seguir os comentaristas renomados e suas abordagens comumente
aceitas. Até porque não há qualquer equivoco em suas argumentações, sendo-lhes
a coerência fiel colaboradora. Não podemos, contudo, seguir o trabalho dos
mestres, sem antes entender o que nos toca o coração e nos enriquece a alma a
cada trecho do texto sagrado. Não são esses os nossos Exercícios Diários? Não posso negar-me a esse labor.
Por essa razão, e divergindo da
maioria dos excelentes teólogos, penso que ao dizer Vim lançar fogo à terra, Jesus se refere ao fogo que queimará a palha[1],
referindo-se claramente à separação do joio
(palha) e do trigo, do juízo que
separa um do outro, e que conduzirá uns para o reino, mas a outros ajuntará
para ser consumido no fogo. Não se
refere ao fogo do juízo final, pois este não estaria condicionado a ocorrer na
sequência de sua morte, batismo a que
se refere adiante, e pelo qual se angustia.
E
que mais quero, se já está aceso? Essa é uma tradução
possível, que coloca o fogo como já acesso.
Essa tradução sugere que tal separação iniciou-se desde o princípio do ministério
de Jesus, e se alimentava e se alimenta até hoje, da escolha que cada indivíduo
faz diante da pregação do evangelho, e da morte e ressurreição de Jesus.
E
como gostaria que já estivesse em chamas? Já essa
segunda possibilidade de tradução, supõe que a separação se iniciará tão logo
ocorra o batismo pelo qual Jesus haveria
necessariamente de passar, ainda que doesse e o angustiasse, como ele mesmo declarou
na sequência do texto.
Seja uma ou outra a tradução mais
correta, o mais importante é que Jesus, se utiliza de uma declaração
desconcertante para dizer que ele não trará a paz decorrente da convergência de
interesses, pensamentos e sensações. Muito pelo contrário, a partir das
escolhas individuais que cada ser humano viesse a fazer a seu respeito, as relações
mais íntimas sofreriam abalos representativos, a ponto de pais estarem contra
filho, assim como os filhos estariam contra seus pais. A separação do juízo jaz à porta.
Ora, o povo de Israel habitava uma
região altamente influenciada pelas condições geográficas. Os judeus sabiam
facilmente prever o clima a partir de suas manifestações. Como então estariam cegos às circunstâncias e ambientações
que se avizinhavam, senão pela conveniência e dureza de seus corações? Afinal, hipócritas sabem o que fingem não saber.
Por isso Jesus faz uma última advertência
para que haja reconciliação a caminho do juízo. Porque depois de chegado diante
do juiz não haverá mais qualquer possibilidade de reconciliação. Ninguém se
livrará do castigo. Mas enquanto se encaminha para o fim, e todos estamos a
caminho dele, há tempo para se reconciliar. Ou será que alguém prefira ser
palha ao fogo, do que trigo recolhido ao celeiro do Senhor?
Refletindo o Exercício
Há muitos que acreditam ser o evangelho uma filosofia de
vida para o bem, e se escondem atrás de uma capa de "bondade" e
"caridade", não se reconciliando verdadeiramente com Deus, a quem
ninguém, por mais artista que seja, conseguirá jamais enganar ou esconder o
coração. Que o tempo se torne aliado à redenção, e não um algoz à perdição.
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