O livro de Gênesis é um dos mais lidos
e mais comentados da Bíblia. Não só por ser o seu primeiro livro, mas também e principalmente
por trazer a história das origens do universo e da humanidade. E as razões do fascínio
exercido por Gênesis não param por aí. Sua linguagem, seu ritmo narrativo e sua
exposição simples e direta de fatos, fazem da leitura desse livro uma aventura
reveladora, repleta de mensagens fáceis de serem compreendidas.
Em nenhum lugar do livro, porém,
poderá ser encontrada qualquer explicação para os acontecimentos, escolhas e
atitudes dos personagens de sua história. Em contraste com outros textos onde
há um discurso apologético paralelo sustentando todas as cenas, em Gênesis a
narrativa corre como afluentes que desembocam em rios cada vez mais caudalosos
e rápidos.
Há outros aspectos relevantes na
narrativa de Gênesis, que o distinguem das demais cosmogonias existentes à
época, bem como das tradições especulativas sobre as origens:
• Ação x Argumentação – Os fatos e
não abstrações conduzem o leitor através do livro. Não há qualquer
argumentação. Certas ou erradas, coerentes ou não, as atitudes são em si mesmas
a mensagem. A narrativa revela ação de Deus e dos personagens envolvidos em
cada trama sequenciada. Talvez o autor tenha em mente que determinados
conceitos implícitos em suas histórias sejam irrefutáveis, ou que o
questionamento sobre suas pertinências seja irrelevante para o seu propósito.
• Propósito x Acaso – Por falar em
propósito, o conteúdo de Gênesis se isola do lugar comum, ao apresentar um Deus
que quis criar. Comumente aceitas, as
cosmogonias contemporâneas ao autor, relatam a criação como consequência acidental
ou efeito colateral de um ou mais acontecimentos diversos. Nunca como uma ação
planejada e pretendida.
Tanto as ações objetivas de Deus
quanto o seu propósito criador, serão relembrados em diversos trechos da
Bíblia. Isso demonstra que a narrativa de Gênesis é fundamental para o
conhecimento de Deus. O livro nos apresenta um Criador que se relaciona com sua
criatura. Ele não é um deus imaginado ou uma energia cósmica. Ele fala, ouve,
sente e interage com o universo e com a humanidade. Seu envolvimento com sua
criação é tão intensa, que Ele cria, sustenta, adverte, protege e salva. Sendo
o primeiro dos livros de uma biblioteca cujo tema central é a história da
salvação da humanidade, Gênesis sustenta e lança as bases sobre as quais todo o
conjunto da Bíblia se apoiará. Nele, Deus dá início à salvação da humanidade
desde a sua criação.
Relativamente a sua composição
literária, é amplamente aceita a tradição de que Moisés é o autor do livro.
Algumas teorias, porém, sugerem que o texto de Gênesis é predominantemente
formado de lendas nacionais de Israel. Tal sugestão se baseia em outra teoria
analítica, que aponta para diferentes e distintos documentos na formação do
livro de Gênesis como o conhecemos. Segundo esses críticos, o livro seria um
harmonioso conjunto desses textos, estruturados para terem sentido narrativo e
sequência cronológica.
Seja como for, tais teorias não
inviabilizariam, nem a pertinência do conteúdo e da mensagem do livro, nem a
crença tradicional de que Moisés seja seu autor, ou ainda seu redator. A
harmonia narrativa sugere uma só regência, e o texto se desenvolve como uma
sinfonia cadenciada do início ao fim. Ainda que o texto se baseie em diversos
textos ou em tradições orais, houve flagrante composição para que todo o
material se tornasse um único e coerente volume.
A crença na autoria de Moisés conta ainda
com o testemunho de alguns textos ao longo de toda a Bíblia. No Antigo Testamento
(Josué 1:7-8; 23:6; 1 Reis 2:3; 2 Reis 14:6; Esdras 3:2; 6:18; Neemias 8:1 e
Daniel 9:11-13) e no Novo Testamento (Atos 13:39; Hebreus 10:28). Além disso, o
próprio Jesus fez citações utilizando Moises como fonte autoral da lei, como
era conhecido o conjunto dos cinco primeiros livros do Antigo Testamento
(Mateus 8:4; 19:8; Marcos 7:10; Lucas 16:31; 24:27,44; João 5:46).
Além de todas essas indicações de que
o Pentateuco tenha sido escrito por Moisés, as circunstâncias históricas também
corroboram para essa aceitação. Ele era o líder nacional de Israel e comandava
um povo recém resgatado do cativeiro, acostumados com a cultura e a religião
egípcia. Ele, e principalmente ele, precisou estabelecer um registro memorial e
orientador dos costumes e crenças de seu povo.
Já no próximo post, iniciaremos com os
comentários sobre os primeiros onze capítulos do livro.
Um forte abraço a todos.
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