“Então Deus os abençoou e lhes
disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a;"
Gênesis 1:28a - RA
Sujeitai-a...
Com essa ordem Deus inaugurou um dos conceitos mais interessantes que a
humanidade conhecerá. O conceito da mordomia. Sim, porque se sujeitar tem o sentido de dominar, submeter, subjugar (ou
ainda mais adequadamente ao nosso propósito aqui de obrigar à obediência, atender
a interesse ou necessidade), mordomo
é aquele que administra, ou fica encarregado de cuidar daquilo que outro lhe confiou.
Em outras palavras, foi-nos dada total
possibilidade de manejar e utilizar algo que não nos pertence. Temos o uso mas não a propriedade, o que
significa em termos conceituais, que podemos utilizar, podemos usufruir, mas
deveremos dar contas do que nos foi concedido. Isso vos será para mantimento. Ou seja, todos os recursos necessários
para a subsistência da humanidade pode e deve ser extraído do manejo dos
recursos existentes no planeta, não havendo qualquer problema com esse uso. Mas o problema está é no abuso.
A tão sonhada e perseguida
sustentabilidade, nada mais é do que o uso
e não o abuso desses recursos.
Precisamos e devemos utilizar toda nossa capacidade criativa e de gestão, para
que os mesmos recursos estejam disponíveis às gerações futuras. E isso é muito
mais do que uma postura militante de um grupo ecológico qualquer. É nossa
responsabilidade desde a criação da humanidade. O que significa que a assim
chamada sustentabilidade não é só uma questão ecológica, mas também e primordialmente
uma questão antropológica, uma vez que diz respeito a uma tarefa definida e
confiada à humanidade.
Mas podemos ir além na análise no conceito
de mordomia. Ela não encerra apenas a idéia de cuidado e manutenção do que nos é
confiado. Antes abrange também e preferivelmente como objeto último, o princípio
do desenvolvimento e ampliação dos recursos disponíveis, criando a partir da
natureza a nós confiada, tudo o que nos for possível e necessário criar para o
bem-estar social. É importante explorar e promover as potencialidades
funcionais e produtivas dos recursos oferecidos pela natureza. A humanidade
pode e deve interferir criativamente, no uso de suas capacidades, adicionando a
esses recursos tudo o que puder ser traduzido como melhoria das condições
existenciais humanas.
Portanto, a eventual demonização das conquistas
tecnológicas e do avanço das ciências, é incoerente tanto com a potencialidade
criativa do ser humano, criado à imagem de Deus, como também diminui a
amplitude da tarefa dada pelo próprio Criador; sujeitai-a. Nossa capacidade criativa é divina. Nosso poder
imaginativo e realizador é divino. Avançar no conhecimento, basear um invento
em outro anterior, organizar o caos primordial entre o que é necessário e sua
existência, é vivenciar, como humanidade, o trabalho compassado e crescente do
Criador, nos narrados dias da criação. Criar,
fazer, moldar e desenvolver, são
capacidades intrínsecas ao caráter realizador de Deus, que habita em nós por
sua imagem e semelhança.
“Ao contrário da opinião popular,
o judaísmo não se opõe à modernidade, principalmente se ela promove a honra do
Eterno... O desafio não está em rejeitar as invenções, mas sim, em como refiná-las;
não está em censurar a modernidade, mas sim, em como santificá-la"
Rabino Shlomo Riskin - em Luzes da Torá;
pg. 33
Como nos alerta o Rabino Shlomo Riskin,
não há problema intrínseco no avanço do conhecimento humano e em suas
conquistas modernas. O problema está em o que é feito delas e/ou a partir
delas. Portanto essa é uma questão moral e ética, e não de origem - Isso é coisa do diabo! E o que não
faltam são exemplos, que vão desde a invenção do avião e sua utilização bélica,
subvertendo seu objetivo primordial, até a descoberta do átomo e o desenvolvimento
de armas genocidas. Seria o poder dualista do fruto do bem e do mal?
Arar
a terra, torná-la fecunda e produtiva, sempre esteve no
propósito criador de Deus. Mesmo antes do pecado, dar funcionalidade ao planeta
e utilizar-se dele, foi uma tarefa dada pelo próprio criador. O homem a realizou,
participando ativamente do desenvolvimento pretendido, integrando-se no
contexto de tudo aquilo que era bom[1].
Não fomos criados para uma existência contemplativa, mas sim realizadora. E é
nosso dever, como cristãos e mordomos responsáveis, influenciar decisivamente o
comportamento humano, para que nossas conquistas científicas e tecnológicas ganhem
utilidades beneficiadoras, e não sejam utilizadas para o mal e o horror.
Que Deus, que nos outorgou mordomia capaz
e criativa, nos inspire ao cuidado e ao desenvolvimento sustentável, e a
descobertas e usos adequados, para que a incoerência dos abusos, do desequilíbrio
e das desigualdades sejam reduzidos. De modo a devolvermos um mundo melhor do
que recebemos, Àquele que nos destinou tão espetacular tarefa.
Um forte abraço a todos...
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