Por
Jânsen
Leiros Jr.
"22 Sendo assim, Paulo
levantou-se no meio da reunião do Areópago e discursou: “Caros atenienses!
Percebo que sob todos os aspectos sois muitíssimo religiosos, 23 pois, caminhando pela
cidade, observei cautelosamente seus objetos de adoração e encontrei até um altar
com a seguinte inscrição: AO DEUS DESCONHECIDO. Ora, pois é exatamente este a
quem cultuais em vossa ignorância, que eu passo a vos apresentar. 24 O Deus que criou o Universo e tudo o que nele existe é o Senhor dos
céus e da terra, e não habita em santuários produzidos por mãos humanas. 25 Ele também não é servido
pelas mãos dos homens, como se precisasse de algo, porquanto Ele mesmo concede
a todos a vida, o fôlego e supre todas as nossas demais necessidades. 26 De um só homem fez Deus
todas as raças humanas, a fim de que povoassem a terra, havendo determinado
previamente as épocas e os lugares exatos onde deveriam habitar. 27 Deus assim procedeu para
que a humanidade o buscasse e provavelmente, como que tateando, o pudesse
encontrar, ainda que, de fato, não esteja distante de cada um de nós: 28 ‘Pois nele vivemos, nos
movimentamos e existimos’, como declararam alguns de vossos poetas: ‘Porquanto
dele também somos descendentes’. 29 Portanto, considerando que somos geração de Deus, não
devemos acreditar que a Divindade possa ser semelhante a uma imagem de ouro,
prata ou pedra, esculpida pela arte e idealização humana. 30 Em épocas passadas, Deus
não levou em conta essa falta de sabedoria, mas agora ordena que todas as
pessoas, em todos os lugares, cheguem ao arrependimento. 31 Porque determinou um dia
em que julgará o mundo com o rigor de sua justiça, por meio do homem que para
isso estabeleceu. E, quanto a isso, Ele deu provas a todos, ao ressuscitá-lo
dentre os mortos!"
Atos 17:22-31 - KJA
Seguimos com enorme prazer respondendo
aos amigos e leitores que nos encaminham as mais variadas perguntas. Temos
respondido a todas, mas algumas selecionamos para dividir com todos os que nos
acompanham, crendo que pode ajudar a mais gente. E é nesse propósito que hoje
falaremos sobre o texto sublinhado acima, baseado no qual recebemos a seguinte
pergunta: Se Deus não habita em templo
feito por mão humanas, então não temos necessidade de construirmos templos e
igrejas, certo?
Como já afirmamos anteriormente e
nunca é demais reafirmar, não podemos fazer afirmações sobre textos, sem
considerar seus contextos, sob pena de refletirmos sobre apenas uma parte da ideia
do autor, ou mesmo não considerarmos o sentido em que ele estabelece esse ou
aquele conceito. E esse é um exemplo clássico disso. Senão vejamos.
Lendo isoladamente o versículo 24, podemos
ser levados a concluir que Paulo está dizendo não haver necessidade de
construirmos templos para servir de santuário às igrejas, pois Deus não mora neles. Junta-se a isso a fala de alguns argumentadores
de plantão de que a igreja primitiva não tinha templos, mas se reunia nas
casas, e está montado o castelo de cartas.
Por isso sempre digo que texto sem
contexto vira pretexto.
Retornando então ao contexto que
transcrevemos acima, notamos que Paulo está discursando aos atenienses, em
pleno Areópago[1],
uma espécie de tribunal onde se reunia o conselho local, e onde ideias eram
debatidas entre os notáveis
atenienses. nesse discurso ele está explicando os fundamentos de sua doutrina,
e encaminha brilhantemente o assunto, ao reconhecer o comportamento religioso e
devotado daquela gente. Isso o torna simpático aos ouvidos, uma vez que ele
demonstra se agradar de um traço pertinente àquela sociedade, do qual ela mesma
se orgulha.
Mas Paulo não está ali para adula-los,
mas sim para anunciar as boas novas de salvação. E assim ele aponta para um
altar onde está escrito "Ao Deus desconhecido". Inspirado, Paulo diz
que é exatamente sobre esse Deus que eles não conhecem que vem falar-lhes, pois
sendo o criador de todas as coisas, provavelmente não está ali como todos os
demais deuses de sua mitologia, representado por suas imagens e esculturas,
porque sendo o autor do universo, não
habita em templos feitos por mãos humanas.
Ao dizer isso, Paulo está diferençando
Deus de todos os demais deuses mitológicos, demonstrando ser pertinente e
assertiva a inexistência de uma escultura qualquer naquele altar ao Deus Desconhecido
reservado, já que não pode ser representado por qualquer imagem, ainda que
esculpida em ouro ou qualquer outro material. E Paulo vai além, dizendo que também
não seria semelhante aos outros deuses, pois não necessita ser servido ou agradado
com ofertas, como se alguma necessidade tivesse em que pudesse o homem
supri-lo.
Portanto ao dizer que Deus não habita em templos feitos por mãos humanas,
Paulo não está dizendo profeticamente que nossos templos atuais são desnecessários
e ineficazes para servir de moradia de Deus, porque tal ineficácia nos é, não só
conhecida como crida. Tal crença em contrário nos seria herética, pois como poderíamos
pensarmos que Deus faria habitação em
qualquer prédio ou lugar que fosse[2].
Paulo está se dirigindo a uma sociedade que acredita aprisionar seus deuses em
templos e representa-los com imagens e esculturas. O Deus Desconhecido não habita em prédios!
Por outro lado, a pergunta do nosso
leitor não é de toda infundada, pois há mesmo quem acredite que templos guardam
a presença de Deus em suas paredes, como se de tais habitação fizesse uso. Ora,
nos dias atuais, dado o avanço da revelação universal de alguns atributos de
Deus, tais crenças chegam a ser absurdas mesmo aos olhos dos ímpios, que
entendem naturalmente que Deus não pode ser guardado
a sete chaves.
Portanto é claro que templos são
desnecessários e ineficazes se tiverem como objetivo servirem de morada para
Deus. Mas são extremamente úteis para o serviço da adoração e da comunhão dos
santos que, sim, no passado se reuniam em casas, mas que hoje possuem a
liberdade de se reunirem em templos construídos com a contribuição de seus
adeptos, como um bem comum, e uma referência local para onde se pode afluir a
congregação de adoradores.
É óbvio que a presença de Deus não se
faz exclusiva nesses lugares. Por seu Espírito Deus habita o homem. O seu Espírito
foi derramado sobre toda a carne[3].
Somos nós os seus templos. De modo que os templos que construímos em si nada é,
mas nos são extremamente úteis e precisam ser adequados e preparados para o
propósito que lhes conferimos; servir de lugar de adoração, comunhão e
aprendizado da Palavra.
Ora, não podemos fazer isso em nossas
casas? Claro que podemos. E Deus estará presente? Claro que estará. Mas não teríamos condição de reunir tanta gente. mas
há lugares onde proibido o cristianismo e ajuntamentos religiosos, bem se faz
uso de casas, lojas e até porões. Graças a Deus não precisamos disso no Brasil.
Pelo menos não nos dias de hoje.
Portanto a pergunta se repete: Os
templos são necessários? Sim, são.
Para encontrarmos Deus que habita ali? Claro
que não. Mas podemos ter o privilegio de os utilizarmos para o conforto da
reunião dos que o adoram em espírito e em
verdade.
[1]
Areópago (em grego antigo: Ἄρειος
Πάγος areios pagos, "Colinas de Ares") era a parte nordeste da Acrópole
em Atenas e também o nome do próprio conselho que ali se reunia. Além de
supremo tribunal, o conselho também cuidou de assuntos como educação e ciência
por algum tempo.
[2] João 4:15-26
[3] Atos 2:17