“Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, paciência,
benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas
coisas não há lei.”
Gálatas 5:22 e 23
Desde
sempre a humanidade busca compreender seu propósito e significado de existência.
Entre as várias filosofias e sistemas de crenças, uma ideia persiste: fomos criados para a glória de Deus.
Esta concepção transcende culturas e épocas, sendo central para muitas
religiões, especialmente o cristianismo. Neste contexto, a formação do caráter
de Cristo no crente emerge como uma jornada de descobertas e transformações, onde
o indivíduo, dia a dia, se molda à imagem divina para cumprir seu propósito
máximo; o ser à semelhança de seu Filho[1].
A
formação do caráter de Cristo no crente é um tema central nas Escrituras,
refletindo o propósito divino para a humanidade desde os tempos antigos. No
Antigo Testamento, encontramos passagens como Gênesis 1:27, que declara que
fomos criados à imagem de Deus, e Deuteronômio 10:12, que nos instrui a temer o
Senhor, andar em todos os seus caminhos, amá-lo e servi-lo de todo o coração e
de toda a alma, enfatizando assim a busca pela semelhança com o caráter divino.
No
Novo Testamento, o apóstolo Paulo escreve em Romanos 8:29 sobre a predestinação
dos crentes para serem conformes à imagem de Cristo, destacando o processo de
transformação espiritual que ocorre na vida do cristão. Além disso, em Efésios
4:22-24, Paulo exorta os crentes a se despojarem do velho homem e a se
revestirem do novo homem, criado segundo Deus em verdadeira justiça e
santidade, evidenciando a necessidade de renovação interior para refletir o
caráter de Cristo.
O
cerne da formação do caráter de Cristo reside na imitação de seus atributos e
ensinamentos. Cristo é frequentemente retratado como a encarnação do amor, da
bondade, da misericórdia e da justiça divina. Assim, o crente é chamado a
refletir essas virtudes em sua própria vida. Este processo não é instantâneo,
mas gradual e contínuo, exigindo uma entrega total e uma colaboração ativa com
o Espírito Santo. Afinal, nenhuma árvore dá frutos desde o seu nascimento. Mas
se alimenta, fortalece, desenvolve e então frutifica.
Uma
das características centrais do caráter de Cristo é o amor incondicional. Jesus
ensinou-nos o amor, amando incondicionalmente não apenas aqueles que lhes eram
afáveis, mas também os seus inimigos atrozes[2].
Este amor transcende barreiras e preconceitos, alcançando a todos sem
distinção. Ao praticar o amor abnegado, o crente não apenas reflete a natureza
divina, mas também promove a reconciliação e a unidade na comunidade, sendo-lhe
promotor da paz.
Reforçando
nosso argumento, Calvino enfatiza que o amor de Deus é fonte do amor humano e
argumentou que os cristãos são capacitados pelo Espírito Santo a amar
incondicionalmente, a exemplo do que fez o Senhor. E não somente ele, pois N.
T. Wright, um dos principais estudiosos do Novo Testamento, explora profundamente
o tema do amor de Deus, destacando o amor sacrificial de Cristo como o modelo
supremo de amor incondicional. Ele argumenta que os cristãos devem imitar esse
amor cotidianamente.
Além
do amor, outro aspecto bastante relevante é a humildade; traço primordial do
caráter de Cristo. Ele, sendo o próprio Filho Unigênito de Deus[3],
escolheu se humilhar, servindo aos outros e submetendo-se à vontade do Pai[4].
Da mesma forma, o crente é chamado a renunciar ao orgulho e à arrogância,
adotando uma postura de humildade e serviço. Ao fazê-lo, ele segue o exemplo de
Cristo e testemunha a verdadeira grandeza que se encontra na simplicidade e na
entrega.
A
humildade é uma virtude que envolve reconhecer nossas limitações, defeitos e
dependência de Deus, bem como valorizar os outros e estar disposto a servi-los
sem esperar reconhecimento ou recompensa. Ela se manifesta em uma atitude de
submissão voluntária e respeito em relação a Deus e aos outros, e muitas vezes
está associada a características como modéstia, gentileza, simplicidade e
desprendimento. E embora a humildade possa se manifestar de maneiras diferentes
em diferentes contextos e situações de vida, ela é uma virtude que transcende a
condição econômica, social ou indisposição de se fazer evidente. É uma postura
do coração que independe de circunstâncias externas.
Outro
aspecto crucial na formação do caráter de Cristo é a paciência e a
perseverança. Jesus enfrentou inúmeras adversidades e contratempos durante seu
ministério terreno, mas jamais desistiu de sua missão. Da mesma forma, o crente
é chamado a manter a fé e a esperança mesmo diante das tribulações, confiando
que Deus está trabalhando todas as coisas para o bem daqueles que o amam[5].
Esta perseverança fortalece o caráter e a fé do crente, capacitando-o a
enfrentar os desafios da vida com confiança e determinação.
Além
dessas virtudes, a formação do caráter de Cristo também implica na renovação da
mente e na transformação dos padrões de pensamento e comportamento[6].
O apóstolo Paulo exorta os crentes a serem renovados em sua mente, deixando
para trás os velhos hábitos e assumindo uma nova identidade em Cristo. Esta
renovação interior é um processo contínuo, que ocorre através da meditação na
Palavra de Deus, da oração e do companheirismo cristão.
Jesus
Cristo é o exemplo máximo de amor, humildade, paciência e perseverança, como
visto em passagens como João 13:34-35, onde Ele ensina sobre o mandamento do
amor mútuo, e Mateus 20:28, onde Ele declara que veio para servir e não para
ser servido. A imitação de Cristo é fundamental para a formação do caráter do
crente, conforme destacado em 1 João 2:6, que nos instrui a andar como Ele
andou.
A
formação do caráter de Cristo no crente é uma jornada de crescimento espiritual
e pessoal, onde o indivíduo se torna cada vez mais semelhante ao seu Salvador. Tendo
o caráter de Cristo como sentido da vida, o crente reflete os atributos divinos
em sua própria existência, testemunhando ao mundo o poder transformador do
Evangelho. Que abracemos esta disposição com fé e determinação, confiando que
aquele que começou a boa obra em nós há de completá-la até o dia de Cristo
Jesus[7].