segunda-feira, 27 de julho de 2015

Amor, um sentimento que valoriza pessoas


Por Jânsen Leiros Jr.


18 No amor não há medo antes o perfeito amor lança fora o medo; porque o medo envolve castigo; e quem tem medo não está aperfeiçoado no amor. 19 Nós amamos, porque ele nos amou primeiro. 20 Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a Deus, a quem não viu. 21 E dele temos este mandamento, que quem ama a Deus ame também a seu irmão."
1 João 4:18-21 - JFA

É impressionante como temos a facilidade de inverter a prioridade de tudo na vida. Ainda que racionalmente tenhamos muito bem estabelecido o que devemos realizar primeiro, buscar antes de tudo ou pensar na frente de qualquer outra coisa, quase sempre nos flagramos corrompendo a ordem do que nós mesmos planejamos ou pretendemos. Deixamos o que importa para depois de um sem número de distrações ou futilidades, que a rigor sequer mereceriam qualquer tempo ou atenção de nossa parte.

Os motivos para essas inversões são muitos e de variadas possibilidades, e por isso não nos deteremos neles nesse texto. Nosso objetivo aqui será apontar para a importância que é prioritário, daquilo que é essencial para a vida. A idéia é nos dedicarmos ao que efetivamente importa. E aqui já fazemos uma escolha; falarmos das prioridades e não das distrações. Mesmo que um dia falar das distrações seja prioridade, aqui, nesse momento, não é. E por isso escolhemos deixá-las de lado.

Entre os diversos fatores que constituem o cotidiano de nossas vidas, os relacionamentos se apresentam como aqueles que permeia toda a existência humana. Nascemos de uma relação, qualquer que seja sua profundidade ou pertinência. Vivemos relacionamentos desde que nascemos. E ao longo da vida, desenvolveremos relações diversas que se estenderão desde nossos coleguinhas de infância, até a última pessoa com quem você falou há poucos instantes, passando por professores, amigos adolescentes, paqueras, o porteiro do prédio, empregados e patrões.

Praticamente tudo o que fazemos na vida demanda, em maior ou menor grau, algum relacionamento com alguém. Também em maior ou menor grau haverá alguma troca, algum envolvimento, algum sentimento. Nenhum encontro é nulo, por mais indiferente que se possa encará-lo. Toda relação provocará uma sensação. E dessa sensação brotarão reações que poderão variar conforme nossas predisposições em sentir e agir.

O corriqueiro em nossos dias, porém, é definir a qualidade de atenção disponibilizada a uma determinada relação, pelo grau de retorno que essa mesma relação poderá nos proporcionar, conforme nossas necessidades ou conveniências. Assim, se me empenho em ser simpático com o porteiro do prédio em que trabalho, é porque volta e meia esqueço o crachá sobre a mesa e ele me deixa passar sem precisar portá-lo. Se você trata com cordialidade o manobrista do estacionamento, é porque ele sempre lhe arruma uma vaga, mesmo com o pátio lotado. O trato com o cliente é amistoso... Sim, mas afinal ele paga o meu salário.

Ou seja, a maneira com que nos relacionamos em nosso dia a dia sofre muito mais influência de nossos interesses, do que de nossa disposição de tratar todas as relações com cordialidade, boa vontade e amor. E por isso, desde que não haja qualquer utilidade prática, imediata ou futura, em qualquer que seja a relação, nos condicionamos a não despender tempo ou atenção a ela; agimos com implacável desprezo.

Acontece que, ao dizer que devemos amar o nosso próximo como a nós mesmos, Jesus transformou TODAS as pessoas em nós mesmos, e eu não conheço ninguém que se despreze ou seja indiferente a si mesmo, por mais que aparentemente possa parecer não se valorizar como deveria. Seja o próximo um próximo ou distante, de interesse iminente ou eventual, útil ou não, conveniente ou não, é preciso valorizar essa relação sempre que ela existir. Porque o amor é um sentimento transbordante, que não obedece a convenções de oportunidades e aplicações, sendo naturalmente, quando existente, oportuno e aplicável.

É claro que ninguém imagina que do nada alguém passe a amar o próximo, apenas por exigência ou por mandamento. O amor seja não fingido[1], de modo que não nasce de atitudes auto-impostas, ou de cheklists presos no espelho do banheiro. Mas também é verdade que o amor precisa ser exercitado. Assim como alguns músculos que existem em nossos corpos, podem por falta de uso atrofiarem, a falta de prática do amor pode nos tornar apáticos em nossas relações, permitindo que aquilo que é na verdade acidental ou colateral, tome o lugar do que é essencial e desejável.

Por que damos mais importância às nossas conveniências e aos nossos interesses, mesmo no âmbito de relações mais relevantes? Porque no fundo, damos muito mais valor a nós mesmos e ao que pretendemos com essa relação, do que à manutenção de relacionamentos saudáveis e amorosos. Farinha pouca meu pirão primeiro, diz o provérbio popular; seja com quem for. E assim alimentamos e desenvolvemos relações condicionadas ao pragmatismo do oportunismo e da utilidade.

Esse povo honra-me com lábios, mas seus coração está longe de mim[2]. Imagino o pesar no coração de Deus ao proferir essa frase, mais tarde repetida por Jesus aos fariseus. O povo tinha com ele uma relação de conveniência e oportunismo. Era evidente que o buscavam com outras intenções, que não a de terem uma relação de intimidade e amor. Estar próximo de Deus lhes era interessante e proveitoso. Esperavam algo em troca. O valor não estava na relação, mas na eventual recompensa.

Por outro lado, o Samaritano na estrada para Jericó não tinha qualquer outra intenção, senão tratar e cuidar daquele homem tão maltratado pelos salteadores. Ele não esperava qualquer retorno dele. Coberto de ferimentos e roubado de seus pertences, ele provavelmente não teria como realizar qualquer ressarcimento do que com ele foi gasto pelo Samaritano. Pleno de compaixão, e no exercício de profundo e incondicional amor, ele tratou daquele homem jogado à beira da estrada, o deixou em uma hospedaria, e ainda autorizou, sem medida, qualquer gasto que se fizesse necessário para que aquele homem fosse recuperado de seu estado físico. O que ele esperava em troca? Nada.

Portanto relações valorizadas têm seu valor nas pessoas e não naquilo que elas nos possam proporcionar. E por isso mesmo essas pessoas não nos podem ser indiferentes, simples passantes, que nenhuma influencia têm em nossas vidas. É preciso exercitar o amor e o cuidado. Devemos priorizar as pessoas e ter por elas paixão e compaixão, para que valorizadas, possam ser as verdadeiras jóias de todos os nossos relacionamentos. O amor precisa ser em nós natural, transbordante e irresistível.

Que Deus nos inspire a nutrir com amor e verdade, todas as nossas relações. Para que pessoas e não coisas, e o que elas são, e não o que podem dar ou proporcionar, sejam as reais motivações de nossos corações e mentes, no exercício excelente do amor.

Por Jânsen Leiros Jr


[1]  Romanos 12:9
[2]  Mateus 15:8

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Nosso amor resume todo o Amor


Por Jânsen Leiros Jr.

28 Aproximou-se dele um dos escribas que os ouvira discutir e, percebendo que lhes havia respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos? 29 Respondeu Jesus: O primeiro é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. 30 Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças. 31 E o segundo é este: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que esses. 32 Ao que lhe disse o escriba: Muito bem, Mestre; com verdade disseste que ele é um, e fora dele não há outro; 33 e que amá-lo de todo o coração, de todo o entendimento e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios. 34 E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do reino de Deus. E ninguém ousava mais interrogá-lo.   "
Marcos 12:28-34 - JFA
Ver também  Mt. 22:34-40

No contexto desse capítulo, Jesus responde a diversas perguntas capciosas que os fariseus e escribas lhe fazem, com o intuito de lhe provocar, pretendendo que caísse em alguma contradição com a lei mosaica, ou mesmo à lei de César, imperador romano e dominador de toda aquela região em que se desenvolve todo o seu ministério.

Ao longo dos quatro evangelhos podemos flagrar as tentativas sempre sorrateiras, de induzir Jesus a um erro qualquer, que lhes justificasse sua prisão ou morte. Jesus vinha chamando a atenção de muitos de seus líderes e também vinha arrastando uma multidão de seguidores. Isso se tornava cada vez mais perigoso aos interesses pessoais ou mesmo coletivos daqueles que se locupletavam da conduta piedosa e devotada do povo judeu. Aproveitadores, que acumulavam grande riquezas manipulando a fé e as carências espirituais daquela gente.

Sem se abalar Jesus se posicionou em todas as questões, sem jamais se acovardar. Além disso, respondeu com equilíbrio e com uma precisão que impressionou até mesmo os seus inquiridores. Ele respondeu a questões de tributo, a questões religiosas e começou o capítulo revelando-lhes a dureza do coração; a rejeição a quem é a pedra de sustentação do edifício de Deus

Após entrarem em conselho para definirem suas estratégias, conforme narra Mateus, os fariseus passaram a responsabilidade de tentar confundir Jesus, àquele que entendiam ser o mais preparado para o "pegar" em alguma afirmação blasfema ou contraditória à lei. A astúcia era, desde sempre, colocar o Mestre em uma "sinuca" de difícil solução.

Antes da tentativa narrada no texto acima, tentam apanhá-lo em desobediência civil, na questões dos tributos. A lei imposta pelo imperador e dominador César exigia o pagamento de impostos. Mas os judeus liderados por seus religiosos proeminentes, discordavam disso, considerando que não haveria de existir qualquer obrigação com o governo de Roma. Então Jesus dá a famosa resposta, em que alguém terá sempre direito àquilo que lhe pertence; a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.

Ainda antes, no caso da hipotética história de casamentos seguidos em que a mulher era tomada pelo irmão do morto, seu marido anterior, de quem ela seria mulher? Pretendiam com isso gerar uma celeuma interminável e sem solução. Jesus responde com o impensável para eles; uma descontinuidade da vida como a conhecemos, em seus usos e costumes temporais. Havia ainda implícita nessa questão, a disputa com aqueles que não acreditavam na ressurreição, pois saduceus e fariseus discordavam nesses ponto doutrinário.

Vem então a pergunta sobre qual dos mandamentos seria o mais importante. Imediatamente pensamos que o escriba falava dos Dez Mandamentos, que é a nossa idéia de mandamento. Porém os judeus haviam desdobrados os mandamentos em mais de 600 outros mandamentos variados, chegando a por menores tão ínfimos, que chegavam a "legislar" sobre o dízimo da hortelã[1]. Era portanto natural até, que uma pergunta como essa fosse aceitável em um contexto de extremo preciosismo, ainda que o próprio Jesus considerasse tal extremo cuidado e precisão, como uma incoerência entre o formal e o essencial[2]. Coam o mosquito mas engolem o mosquito.

Jesus então resume todos esses mandamentos em dois. O primeiro diz ser o amor a Deus a principal razão existencial do ser humano, citando a versão desse mandamento do Antigo Testamento[3]. Ele fala de um amor tão pleno e tão profundo, que sua totalidade é requerida; não pode haver qualquer proporção excluída. Todo o coração, toda tua alma, todo o teu entendimento e todas as tuas forças, não aceita parte, qualquer que seja ela. Isso significa que o amor a Deus requer dedicação total dos sentimentos, dos pensamentos, e da vontade, manifestados em uma alma plenamente dedicada e disponível.


O segundo mandamento, que Jesus diz ser tão importante quanto o primeiro, diz respeito ao amor que devemos ter pelo nosso próximo. Mas há uma importante mudança de paradigma aqui. Se antes a totalidade era o critério para amar a Deus, o amor ao próximo deve usar como modelo e inspiração, o amor que temos por nós mesmos. Ou seja, o que desejamos para nós, e a maneira como cuidamos de nós mesmos, deve ser o parâmetro de nosso empenho no cuidado e satisfação do nosso próximo. E isso estabelece um princípio novo, pois em vez de se utilizar da célebre frase não faça aos outros o que não gostaria que fizessem a você, ele diz cuide e satisfaça o próximo como se estivesse fazendo isso a você mesmo. Esse mandamento revela o amor como uma atitude realizadora da bondade, um sentimento que se expressa por ações em favor de, e não apenas com palavras inertes.

Na narrativa de Mateus, Jesus diz que desses dois mandamentos, depende toda a Lei e os Profetas[4], numa clara menção ao que hoje chamamos de Antigo Testamento. Isso porque o amor é a máxima tradução de tudo o que se registrou na Bíblia. Deus é amor, e por esse amor realizou, realiza e realizará tudo o mais. Por amor Jesus se entregou por nós, ocupando o lugar que seria nosso. Pelo Amor que em nós produz o amor, vivemos em comunhão cuidando uns dos outros, em compaixão e graça, levando as cargas uns dos outros[5].

O escriba inquiridor de Jesus se demonstrou impressionado com a resposta dada pelo Mestre. Tanto que ele mesmo a completa fazendo menção a outro texto em Oséias[6]. Mais ainda. Ele pareceu balançado por Jesus. O seu coração percebeu algo diferente. E isso ficou tão claro, tão notório, que o próprio Jesus diz perceber que ele não estava longe do Reino de Deus.

Portanto, Sempre que passamos a chamar atenção por nosso testemunho, "armadilhas" nos serão colocadas à frente, no intuito de nos provocar e nos induzir ao erro. Perguntas capciosas, propostas indecentes, ocasiões suspeitas. É com equilíbrio e retidão, e um bom conhecimento da Palavra, que poderemos dar as respostas eloqüentes aos nossos inquiridores, dando ainda mais excelente testemunho da salvação e da graça de Deus.

O amor será sempre a via de conduta perfeita para tudo e em todas as circunstâncias da vida. Porque o amor é a essência de tudo em Deus, porque Deus é amor[7]. Aquele que está verdadeiramente em Deus, está profundamente mergulhado em amor. E quem ama age sempre em busca daquilo que agrade o amado. Quem ama cuida de agradar aquele a quem ama. Quem ama a Deus, busca a santidade e aborrece o pecado. Como diz João, quem ama a Deus não vive pecando[8].

Amar ao próximo como a si mesmo, é um paradigma perfeito. Porque ninguém maltrata a si mesmo; antes cuida de si com atenção e interesse, em todos os seguimentos e possibilidades da vida. Por nos amarmos a nós mesmos, sempre buscamos o melhor para nós, procurando satisfazer nossas necessidade e desejos. Amar o próximo como a nós mesmos, fará com que tudo o que buscamos para nós, e todo o cuidado que temos com nossas próprias vidas, sejam estendidos ao nosso próximo[9]. Aquele que ama a Deus, ame também a seu irmão.

Ao responder o escriba, Jesus o fez não só com segurança e autoridade de quem sabia o que respondia, mas teve sobretudo a legitimidade que nasce da coerência de quem fala aquilo que vive. Suas respostas eram insofismáveis, inquestionáveis, porque se provavam eficazes, a começar por ele mesmo, pois as tornava possíveis já que ele mesmo as cumpria em sua vida. E o amor de Jesus legitimou sua resposta ao escriba, calando seu inquiridor, de tal modo que ele mesmo se sentiu atraído pela mensagem do Reino de Deus.

Quanta gente vive testando Jesus? Quanta gente vive às margens do Reino, olhando por sua porta e por suas janelas, curioso, mas sem coragem de entrar. Quanta gente percebe que dentro desse Reino há tudo aquilo que sempre sonhou para sua vida, mas teme dar um passo para dentro de suas portas. Teme compromissos, teme mudanças, embora esteja cansado de tudo aquilo que vem vivendo. O escriba do texto que lemos, pretendia apanhar Jesus em uma "pegadinha", mas foi ele quem acabou tendo o coração fisgado pelo amor de Jesus. Amor presente em sua resposta, e flagrado em sua vida.

Se você entende que não estás longe do Reino de Deus. Se você está ouvindo isso, não fique parado na porta. Entre. Deus o receberá por seu amor e graça. Esteja como estiver, seja quem for. Uma coisa é certa: Ninguém lhe empurrará para dentro. Esse passo de fé precisa ser seu. Legitima e exclusivamente seu. Tão somente seu. Porque quem faz por obrigação, não é perfeito em amor.


Por Jânsen Leiros Jr


[1]  Mateus 23: 23
[2]  Mateus 23:24
[3]  Deuteronômio 6:4-5
[4]  Mateus 22:40
[5]  Gálatas 6:2
[6]  Oséias 6:6
[7]  1 João 4:7-8
[8]  1 João 3:6; 5:2
[9]  1 João 4:20-21
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