Por Jânsen Leiros Jr.
“28 Aproximou-se dele um dos
escribas que os ouvira discutir e, percebendo que lhes havia respondido bem,
perguntou-lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos? 29
Respondeu Jesus: O primeiro é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único
Senhor. 30
Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de
todo o teu entendimento e de todas as tuas forças. 31 E
o segundo é este: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não há outro
mandamento maior do que esses. 32 Ao que lhe disse o escriba:
Muito bem, Mestre; com verdade disseste que ele é um, e fora dele não há outro;
33
e que amá-lo de todo o coração, de todo o entendimento e de todas as forças, e
amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e
sacrifícios. 34 E Jesus, vendo que havia
respondido sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do reino de Deus. E ninguém
ousava mais interrogá-lo. "
Marcos 12:28-34 - JFA
Ver
também Mt. 22:34-40
No contexto desse capítulo, Jesus responde
a diversas perguntas capciosas que os fariseus e escribas lhe fazem, com o
intuito de lhe provocar, pretendendo que caísse em alguma contradição com a lei
mosaica, ou mesmo à lei de César, imperador romano e dominador de toda aquela
região em que se desenvolve todo o seu ministério.
Ao longo dos quatro evangelhos podemos
flagrar as tentativas sempre sorrateiras, de induzir Jesus a um erro qualquer,
que lhes justificasse sua prisão ou morte. Jesus vinha chamando a atenção de
muitos de seus líderes e também vinha arrastando uma multidão de seguidores.
Isso se tornava cada vez mais perigoso aos interesses pessoais ou mesmo coletivos
daqueles que se locupletavam da conduta piedosa e devotada do povo judeu.
Aproveitadores, que acumulavam grande riquezas manipulando a fé e as carências
espirituais daquela gente.
Sem se abalar Jesus se posicionou em
todas as questões, sem jamais se acovardar. Além disso, respondeu com
equilíbrio e com uma precisão que impressionou até mesmo os seus inquiridores.
Ele respondeu a questões de tributo, a questões religiosas e começou o capítulo
revelando-lhes a dureza do coração; a rejeição a quem é a pedra de sustentação
do edifício de Deus
Após entrarem em conselho para
definirem suas estratégias, conforme narra Mateus, os fariseus passaram a
responsabilidade de tentar confundir Jesus, àquele que entendiam ser o mais
preparado para o "pegar" em alguma afirmação blasfema ou contraditória
à lei. A astúcia era, desde sempre, colocar o Mestre em uma "sinuca"
de difícil solução.
Antes da tentativa narrada no texto
acima, tentam apanhá-lo em desobediência civil, na questões dos tributos. A lei
imposta pelo imperador e dominador César exigia o pagamento de impostos. Mas os
judeus liderados por seus religiosos proeminentes, discordavam disso,
considerando que não haveria de existir qualquer obrigação com o governo de
Roma. Então Jesus dá a famosa resposta, em que alguém terá sempre direito
àquilo que lhe pertence; a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.
Ainda antes, no caso da hipotética
história de casamentos seguidos em que a mulher era tomada pelo irmão do morto,
seu marido anterior, de quem ela seria mulher? Pretendiam com isso gerar uma
celeuma interminável e sem solução. Jesus responde com o impensável para eles;
uma descontinuidade da vida como a conhecemos, em seus usos e costumes
temporais. Havia ainda implícita nessa questão, a disputa com aqueles que não
acreditavam na ressurreição, pois saduceus e fariseus discordavam nesses ponto
doutrinário.
Vem então a pergunta sobre qual dos
mandamentos seria o mais importante. Imediatamente pensamos que o escriba
falava dos Dez Mandamentos, que é a nossa idéia de mandamento. Porém os judeus
haviam desdobrados os mandamentos em mais de 600 outros mandamentos variados,
chegando a por menores tão ínfimos, que chegavam a "legislar" sobre o
dízimo da hortelã[1].
Era portanto natural até, que uma pergunta como essa fosse aceitável em um
contexto de extremo preciosismo, ainda que o próprio Jesus considerasse tal
extremo cuidado e precisão, como uma incoerência entre o formal e o essencial[2].
Coam o mosquito mas engolem o mosquito.
Jesus então resume todos esses
mandamentos em dois. O primeiro diz ser o amor
a Deus a principal razão existencial do ser humano, citando a versão desse
mandamento do Antigo Testamento[3].
Ele fala de um amor tão pleno e tão profundo, que sua totalidade é requerida;
não pode haver qualquer proporção excluída.
Todo o coração, toda tua alma, todo o teu entendimento e todas
as tuas forças, não aceita parte, qualquer que seja ela. Isso significa que
o amor a Deus requer dedicação total dos sentimentos, dos pensamentos, e da
vontade, manifestados em uma alma plenamente dedicada e disponível.
Na narrativa de Mateus, Jesus diz que
desses dois mandamentos, depende toda a
Lei e os Profetas[4],
numa clara menção ao que hoje chamamos de Antigo Testamento. Isso porque o amor
é a máxima tradução de tudo o que se registrou na Bíblia. Deus é amor, e por
esse amor realizou, realiza e realizará tudo o mais. Por amor Jesus se entregou
por nós, ocupando o lugar que seria nosso. Pelo Amor que em nós produz o amor,
vivemos em comunhão cuidando uns dos outros, em compaixão e graça, levando as cargas uns dos outros[5].
O escriba inquiridor de Jesus se
demonstrou impressionado com a resposta dada pelo Mestre. Tanto que ele mesmo a
completa fazendo menção a outro texto em Oséias[6].
Mais ainda. Ele pareceu balançado por
Jesus. O seu coração percebeu algo diferente. E isso ficou tão claro, tão
notório, que o próprio Jesus diz perceber que ele não estava longe do Reino de Deus.
Portanto, Sempre que passamos a chamar
atenção por nosso testemunho, "armadilhas" nos serão colocadas à
frente, no intuito de nos provocar e nos induzir ao erro. Perguntas capciosas,
propostas indecentes, ocasiões suspeitas. É com equilíbrio e retidão, e um bom
conhecimento da Palavra, que poderemos dar as respostas eloqüentes aos nossos
inquiridores, dando ainda mais excelente testemunho da salvação e da graça de
Deus.
O amor será sempre a via de conduta
perfeita para tudo e em todas as circunstâncias da vida. Porque o amor é a
essência de tudo em Deus, porque Deus é amor[7].
Aquele que está verdadeiramente em Deus, está profundamente mergulhado em amor.
E quem ama age sempre em busca daquilo que agrade o amado. Quem ama cuida de
agradar aquele a quem ama. Quem ama a Deus, busca a santidade e aborrece o
pecado. Como diz João, quem ama a Deus não
vive pecando[8].
Amar ao próximo como a si mesmo, é um paradigma perfeito. Porque ninguém maltrata a
si mesmo; antes cuida de si com atenção e interesse, em todos os seguimentos e
possibilidades da vida. Por nos amarmos a nós mesmos, sempre buscamos o melhor
para nós, procurando satisfazer nossas necessidade e desejos. Amar o próximo
como a nós mesmos, fará com que tudo o que buscamos para nós, e todo o cuidado
que temos com nossas próprias vidas, sejam estendidos ao nosso próximo[9].
Aquele que ama a Deus, ame também a seu
irmão.
Ao responder o escriba, Jesus o fez não
só com segurança e autoridade de quem sabia o que respondia, mas teve sobretudo
a legitimidade que nasce da coerência de quem fala aquilo que vive. Suas
respostas eram insofismáveis, inquestionáveis, porque se provavam eficazes, a
começar por ele mesmo, pois as tornava possíveis já que ele mesmo as cumpria em
sua vida. E o amor de Jesus legitimou sua resposta ao escriba, calando seu
inquiridor, de tal modo que ele mesmo se sentiu atraído pela mensagem do Reino
de Deus.
Quanta gente vive testando Jesus?
Quanta gente vive às margens do Reino, olhando por sua porta e por suas janelas,
curioso, mas sem coragem de entrar. Quanta gente percebe que dentro desse Reino
há tudo aquilo que sempre sonhou para sua vida, mas teme dar um passo para
dentro de suas portas. Teme compromissos, teme mudanças, embora esteja cansado
de tudo aquilo que vem vivendo. O escriba do texto que lemos, pretendia apanhar
Jesus em uma "pegadinha", mas foi ele quem acabou tendo o coração
fisgado pelo amor de Jesus. Amor presente em sua resposta, e flagrado em sua
vida.
Se você entende que não estás longe do Reino de Deus. Se você
está ouvindo isso, não fique parado na porta. Entre. Deus o receberá por seu
amor e graça. Esteja como estiver, seja quem for. Uma coisa é certa: Ninguém
lhe empurrará para dentro. Esse passo de fé precisa ser seu. Legitima e exclusivamente
seu. Tão somente seu. Porque quem faz por obrigação, não é perfeito em amor.
Precisamos seguir esse mansamente de amar o próximo pois assim estaremos amando a Deus também... Muito bom o seu blog..
ResponderExcluirObrigado pelo incentivo Rafael. É verdade. O amor é a mais essencial expressão de nossa salvação... Um forte abraço!!
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