Por Jânsen Leiros Jr.
“9 Mas evita questões tolas, genealogias,
contendas e debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs. 10 Ao homem faccioso, depois da primeira e segunda
admoestação, evita-o, 11 sabendo que esse tal está pervertido, e vive
pecando, e já por si mesmo está condenado.
Tito
3:9-11 - JFA
“13 Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre
pelo seu bom procedimento as suas obras em mansidão de sabedoria. 14 Mas, se tendes amargo ciúme e sentimento
faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. 15 Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é
terrena, animal e diabólica. 16 Porque onde há ciúme e sentimento faccioso,
aí há confusão e toda obra má. 17 Mas a sabedoria que vem do alto é,
primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia
e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia. 18 Ora, o fruto da justiça semeia-se em paz para
aqueles que promovem a paz.
Tiago
3:13-18 - JFA
Seguindo nosso compromisso de comentarmos sobre os acontecimentos
da última quinzena, nesse texto falaremos do mais perigoso e letal motivador de
extremismo; o radicalismo religioso. É importante ressaltar que isso nada tem
com um rigor do devoto em seguir os preceitos de sua crença. A intolerância
religiosa não transita pelos corredores da pregação que pretende a uma
conversão, mas sim pelo submundo da imposição de conceitos e práticas, que
pretende estabelecer um só modelo de pensamento e conduta; uma unidade gerada à força, e uma concordância nascida na opressão.
Ao fiel o
céu, ao infiel a morte. Esse comportamento separatista e sectário,
não traduz senão o desejo de dominação de líderes que pretendem controle
absoluto dos atos, desejos e projetos de seus adeptos. Toda resistência a seus
costumes e ordenanças é, na prática, risco iminente ao seu domínio sobre a vida
de outros. Para essa gente, a liberdade é a mais repugnante das possibilidades
humanas, e a mais aviltante ambição. Se alguém se pretende livre ou se dá o
direito de pensar diferente, precisa necessariamente ser eliminado. E não só isso,
mas arrancado exemplarmente do mundo dos vivos. Suas mortes precisam ser, antes
de mais nada, a instauração do terror; a conveniente imposição da dominação
pelo medo. Foi assim nas Cruzadas e na inquisição, bem como o é hoje no Oriente
Médio e em diversas partes pelo mundo afora, onde a religião de uns, é
violentamente imposta a outros, eliminando-se os resistentes.
De qualquer forma, quando se chega a esse grau de extremismo,
é mais simples identificar o espírito faccioso. Ele se torna flagrante e
expresso de uma forma inconfundível. Todos sabem o que é um radical extremista.
Mas é importante lembrar que nenhum movimento extremista, por mais radical que
seja, se inicia terrivelmente violento ou flagrantemente exposto. Pelo
contrário, todo extremismo começa lento e subreptício, com atos simples de
sectarismo pseudo-piedoso, como uma louvável atitude de separação entre
coisas puras e impuras. Um ato aceitável de santidade aparente. Nós somos e eles são. Nós aqui e eles acolá. Nós pra cá, eles pra lá.
Depois vêm os rótulos, e em seguida a escalada ao radical e ao extremo.
Tudo e qualquer coisa é capaz de servir de mote
para um faccioso. A predileção esportiva, os ideais políticos, as opiniões
controversas, as doutrinas divergentes. E tanto isso é verdade, que Paulo
alerta Tito sobre o perigo de questões
tolas, genealogias, contendas e debates acerca da lei; porque são coisas
inúteis e vãs. Elas provocam amargo
ciúme e sentimento faccioso, dirá Tiago mais a frente. E por que é assim?
Simples, porque o motivo pouco importa. Há gente por aí sedenta, à caça de
motivos para dar vazão à sua sanha por contendas, disputas e guerras. Porque onde há ciúme e sentimento faccioso,
aí há confusão e toda obra má.
Ora, não há razão nem motivação, por mais nobre que
esta possa parecer, que justifique o radicalismo e a intolerância. Nem mesmo as
nobres pretensões religiosas, pretensiosamente puras e santas, pois o fruto da justiça semeia-se em paz para
aqueles que promovem a paz. Não há como justificar uma guerra santa. Não há
qualquer nobreza na intolerância e nem no radicalismo. Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois
pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem
parcialidade, e sem hipocrisia.
Por isso mesmo é muito importante manter atenta
vigilância às potenciais atitudes, ou discursos facciosos que surgem nos mais
improváveis e insuspeitos grupos, independente do que têm em comum ou que os
irmana. Separatismos e segregações brotam e forçam passagem todo o tempo. Nada
é mais primitivo que o surgimento de tribos.
Se é natural nos juntarmos por afinidades e projetos em comum, crer que nossos
códigos é o sumo bem e que os dos
outros é o mal a ser extirpado, é o
primeiro passo para sangrentas disputas religiosas, por mais inocentes e bem-intencionadas
possam ser em seus nascedouros.
É por isso que Paulo lança o discurso de que nossa luta não é contra carne nem contra o
sangue[1].
Não é contra pessoas que nos levantamos. Nossa luta é nas regiões celestiais. Ora, regiões celestiais são acessadas com
oração e devoção a Deus[2].
Como então se justifica a luta contra pessoas? Corremos o risco da incoerência,
mas é necessário ser intolerante com a
intolerância. O espírito faccioso se alimenta da omissão de quem o assiste
crescer, considerando ser impossível evitar sua proliferação. E como bem se
diz, para que o mal se instale, basta que
o bem se cale.
O que temos assistido acontecer ao redor do mundo,
não começou desse tamanho. Ninguém iniciou ontem o processo de intolerância que
culminou nas mortes de Paris. O espírito faccioso foi espalhando ideias,
implantando o ódio, formando opinião de que os outros devem ser convertidos ou
mortos. Eles nos querem vivos ou mortos. E sem qualquer predileção, desde que
não haja mais qualquer pessoa pensando diferente.
Portanto, nesses dois últimos textos falamos de
dois tipos de comportamento que precisam ser reconhecidos e apontados, além de
tratados. Eles são camufláveis e bem disfarçados. Se o descaso do espírito
sabotador pode causar mortes, o espírito faccioso causa matanças. Ambos
demandam nossa atenção, nosso cuidado. Porque sempre nos disporemos a
solucionar seus estragos. Mas tenho certeza de que sempre nos será muito mais
interessante e feliz, impedir seus estragos. Sejamos atentos, firmes e constantes, sempre abundantes no
Senhor[3].
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