Por Jânsen Leiros Jr.
"35 Estejam cingidos os
vossos lombos e acesas as vossas candeias; 36 e sede semelhantes a homens que esperam o seu senhor,
quando houver de voltar das bodas, para que, quando vier e bater, logo possam
abrir-lhe. 37 Bem-aventurados aqueles servos, aos quais o senhor, quando
vier, achar vigiando! Em verdade vos digo que se cingirá, e os fará reclinar-se
à mesa e, chegando-se, os servirá. 38 Quer venha na segunda vigília, quer na terceira,
bem-aventurados serão eles, se assim os achar.
39 Sabei, porém, isto: se o
dono da casa soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria
minar a sua casa. 40 Estai vós também apercebidos; porque, numa hora em que não
penseis, virá o Filho do homem.
41 Então Pedro perguntou:
Senhor, dizes essa parábola a nós, ou também a todos? 42 Respondeu o Senhor: Qual
é, pois, o mordomo fiel e prudente, que o Senhor porá sobre os seus servos, para
lhes dar a tempo a ração? 43 Bem-aventurado aquele servo a quem o seu senhor, quando
vier, achar fazendo assim. 44 Em verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens. 45 Mas, se aquele servo
disser em teu coração: O meu senhor tarda em vir; e começar a espancar os
criados e as criadas, e a comer, a beber e a embriagar-se, 46 virá o senhor desse
servo num dia em que não o espera, e numa hora de que não sabe, e cortá-lo-á
pelo meio, e lhe dará a sua parte com os infiéis. 47 O servo que soube a
vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será
castigado com muitos açoites; 48 mas o que não a soube, e fez coisas que mereciam castigo,
com poucos açoites será castigado. Daquele a quem muito é dado, muito se lhe
requererá; e a quem muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá."
Lucas 12:35-48 - JFA
"O Rei está voltando, o Rei está voltando. A trombeta está soando; o meu
nome a chamar!... Aleluias Ele vem me buscar!". Essa é parte da letra
de um dos hinos mais cantados nos cultos cristãos, nas mais diversas e variadas
denominações em todo o Brasil, na década de 70 e 80. Naquela época, lembro-me
bem, a agenda de proclamação da igreja tinha como máxima a volta iminente de
Jesus. Maranata! Ora vem Senhor Jesus!
Nessa época, o texto acima e seus
paralelos tanto em Mateus quanto em Marcos eram lidos muitas vezes, e sustentavam
pregações que proclamavam, desde os púlpitos até praças e cultos nos lares, a
volta iminente de Jesus. Jesus está
voltando, Gritávamos aos quatro cantos. Vivíamos ainda os últimos ares da
chamada Guerra Fria, e a possibilidade de uma guerra nuclear que acabasse com o
planeta, dava o pano de fundo dessa pregação.
Com o fim da Cortina de Ferro, esse discurso foi considerado, na prática, impopular
e pouco convidativo. Beirava ao desagradável, entenderam, pois vivíamos tempos
de reconstrução e recuperação de diversas economias internas. E assim, quase
que no mesmo tempo, perceberam que o discurso insuflado da teologia da prosperidade
se fazia mais atraente, e conseguia arrebatar uma multidão infinitamente maior de
fiéis ou interessados, às suas igrejas e ajuntamentos.
Hoje vemos muito pouco dessa mensagem
nas literaturas ou agendas de púlpito. Jesus
agora está ocupado em atender à multidão de pedidos que lhe devem chegar em
profusão, interessados quase sempre em bem estar e satisfação pessoal, ou realização
de sonhos e conveniências individuais. O
Rei até pode voltar, mas primeiro Ele tem muita coisa que fazer para me agradar.
Lógico que essa frase jamais é proferida por alguém; mas ela determina a
atitude de um sem número de pessoas espalhadas por todo o mundo evangélico.
A verdade é que a lógica se inverteu,
e em vez de sermos servos vigilantes, ávidos e aptos ao serviço do reino de
Deus, colocamos Jesus a nosso
serviço, providenciando tudo o que queremos e pretendemos ter. Aquele a quem
deveríamos servir, foi colocado por nosso hedonismo desenfreado e já não tão
camuflado, como nosso fiel e sobrenatural serviçal.
Bem-aventurados
aqueles servos, aos quais o senhor, quando vier, achar vigiando!
Vigiar é estar acordado, de prontidão para servir ao senhor que chegará a
qualquer momento. É manter-se em serviço de prontidão, preparado e
preparando-se para servir ainda mais, pois tudo e todos nos são confiados. Não
podemos dormir o sono de quem se perde em sonhos e devaneios de uma vida fugaz
e sem propósito. O sentido da vida não está em nos realizarmos, mas em
realizarmos a vontade de nosso Pai celestial. Ou não somos peregrinos em terra
estranha?
Daquele
a quem muito é dado, muito se lhe requererá; e a quem muito é confiado, mais
ainda se lhe pedirá. A pregação do evangelho nos foi
confiada. A vontade de Deus de que sejamos suas testemunhas da graça e da
salvação em Cristo, desde sempre nos é conhecida. Por isso a responsabilidade
desse serviço nos foi requerida. Estamos vigiando prontos para o serviço, ou
nos gastamos diariamente naquilo que não
pode servir a Deus?
Vivemos mergulhados numa preocupação
medíocre com a própria vida. Pedimos bênçãos o tempo todo, mas pouco nos
disponibilizamos a ser benção na vida de alguém. Vivemos evangelhos de
resultados, onde a "fé" e a "dedicação" se medem por conquistas
materiais. Eis que cedo venho. Quem tiver
ouvidos para ver que fale.