Por Jânsen Leiros Jr.
Cerca de 1 milhão de pessoas confirmaram presença em uma
manifestação contra a presidente Dilma Rousseff, no domingo (15). Organizada
principalmente por três grupos, Vem Pra Rua, Movimento Brasil Livre e
Revoltados ON LINE, a passeata está marcada para às 14h, em frente do Masp, na
Avenida Paulista. Entre as reivindicações, está o pedido de impeachment da presidente.
O protesto remete, assim, ao movimento Caras-pintadas, de
1992, que foi às ruas de todo o país exigindo a saída do então presidente
Fernando Collor de Melo, o primeiro e único a sofrer impeachment. “Existem
algumas semelhanças entre os atos”, afirma Hilton Fernandes, cientista político
e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. “Em sua
maioria, apresentam-se como apartidários e estão incomodados com a situação do
país.”
Há, entretanto, uma diferença bastante significativa.
"Não há nenhuma investigação contra a presidente Dilma, diferentemente de
Collor, cujo envolvimento com um esquema de corrupção estava comprovado”,
explica Fernandes.
Fonte: http://vejasp.abril.com.br/materia/manifestacoes-impeachment-caras-pintada-dilma-collor/
Que estamos vivendo circunstâncias
inusitadas em nosso país, me parece que é um sentimento comum à grande maioria
da população. O que eu não tenho percebido nessa mesma maioria, contudo, é a
disposição de discutir com coragem o que está efetivamente se passando diante
de nossos olhos, muitas vezes distraídos com cortinas de fumaça, ora estendida
pela mídia comprometida, ora pelos políticos, mestres na arte de dissimular o
que realmente importa, trazendo a discussão para patamares menores e de nenhuma
ou quase nenhuma importância.
Desde o anúncio de que o presidente da
câmara, Deputado Federal Eduardo Cunha havia acatado o processo de impeachment contra
a Presidente Dilma Rousseff, uma verdadeira batalha pelo apoio popular
instaurou-se nos corredores da política, da mídia e nas próprias ruas, tentando,
cada lado, gerar indignação e revolta contra as manobras e as argumentações
defendidas pelo movimento opositor. Situação e oposição lutam pela alma
insegura e atônita dos populares, que parecem não saber exatamente para que
lado olhar ou a quem escutar. É, mas pelo visto, só parece.
De certa forma, o que se pode chamar
de fracasso das manifestações marcadas
para esse último domingo, treze de dezembro, traduz o sentimento da população
brasileira com relação a esse processo. Em vez de manifestações de massa com
adesão de diversos seguimentos da sociedade, o que se viu nesse domingo de sol
forte e dia lindo na maioria do território nacional, foram famílias passeando e
gente bonita aproveitando para pedalar em suas bicicletas pelas vias
interditadas.
E por que isso? Porque não era dessa
forma que a população queria que o processo fosse instaurado. Ou pelo menos não
por essas razões e não com essas conduções. Sim, porque que outra explicação poderia
traduzir a inapetência das ruas, logo quando acontece o que mais a população a
uma só voz vinha manifestando desejo?
Dissimuladores de ambos os lados se
apresaram a, com o cinismo que lhes é peculiar, distorcerem a realidade do
recado da população. Não é verdade que a falta de adesão às manifestações
demonstraram apoio da população à presidente Dilma e ao seu governo. Isso é
querer fingir e dissimular que não há uma grossa e ameaçadora corda no pescoço.
Mas por outro lado, também não é verdade que a população apenas está ensaiando para manifestações futuras de
maior relevância, ou que o lindo dia de sol esvaziou as passeatas. Dissimulação
de ambos os lados, com vistas a nublar os olhos atentos ou interessados do
povo.
Sim, o governo Dilma tem astronômica
rejeição por parte da população, e isso graças a incompetência demonstrada na
condução da economia e de gestão da máquina pública, claramente exposta e
flagrada aos borbotões. Nem vale a pena aqui repassar tais questões. E não foi
por apoia-la ou não concordar com seu impeachment que a população não foi para
a rua. O que a população não conseguiu vislumbrar, foi legitimidade nesse
processo, e isso sim, lhes incomoda e não lhes estimula ao engajamento por uma
causa que, ainda que lhe interesse, não traduz na forma, sua indignação.
O processo carece de fundamento moral.
Pedaladas fiscais, no país do jeitinho,
não soa como crime hediondo, mas como manobra de quem quer achar pelo em ovo para atingir um objetivo que, pela manobra descarada, acaba
por cheirar a interesse incerto e suspeito. E sabendo que por suspeito e
inconsistente, tal processo correrá muito mais por conta e na onda dos ajustes
e conchavos políticos, a população retira sua chancela, e se coloca como mera
expectadora de um processo que, se não se caracterizar por uma grande manipulação
jurídica para se efetivar um impeachment, será mais uma festa política a
terminar em pizza.
Há legitimidade em um processo de
impeachment? Sim. A constituição prevê tal instrumento para defender o país de
aproveitadores e usurpadores da coisa pública. Utilizá-lo é golpe, como defende
o discurso petista? De modo algum, pois o próprio PT aderiu e patrocinou o Fora Collor como guerreiro de primeira
hora. O que não é legítimo, é utilizar tal processo para coagir o governo
petista a defender o presidente da Câmara dos Deputados de um processo de cassação
pelo Conselho de Ética da Câmara. Porque não se enganem. Nenhum processo seria
instaurado caso esse senhor não estivesse em maus lençóis. Conveniência e casuísmo.
A população está cansada de ser manipulada por isso.
Portanto, aos oportunistas de ambos os
lados fica o recado. Não acreditem que o povo apoia o governo Dilma. Seu índice
de rejeição e as conversas de corredor, por todos os corredores, demonstram que
a população está cansada de sua incompetência e falta de gestão. Mas também não
pensem que levantando bandeiras piratas, vão provocar adesão das massas como no
Fora Collor. Ali tínhamos um presidente
da república a expulsar. Mas o que
temos hoje é um presidente da câmara tentando se safar. Não vai colar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Detesto falar sozinho. Dê sua opinião. Puxe uma cadeira, fale o que pensa e vamos conversar...