terça-feira, 1 de novembro de 2016
sexta-feira, 28 de outubro de 2016
terça-feira, 25 de outubro de 2016
domingo, 2 de outubro de 2016
=> Deus não desiste de você. Será?
"Não precisamos ir longe na análise da Bíblia para entendermos que a ideia de que Deus não pode desistir de nós é uma verdadeira falácia. Facilmente podemos entender que o Senhor pode, sim, abandonar quem lhe despreza.
Quando passamos a acreditar que Deus não desiste de nós, nossa consciência pode, paulatinamente, ser induzida a acreditar que não corremos o risco de perder a salvação.
Sendo assim, abre-se, diante de nós, um leque abrangente de possibilidades de transgressão dos mandamentos divinos. "
Quando passamos a acreditar que Deus não desiste de nós, nossa consciência pode, paulatinamente, ser induzida a acreditar que não corremos o risco de perder a salvação.
Sendo assim, abre-se, diante de nós, um leque abrangente de possibilidades de transgressão dos mandamentos divinos. "
Por
Jânsen
Leiros Jr.
Me perdoem decepcionar vocês, amigos, mas
esse texto é uma tremenda demonstração de legalismo, e de um conveniente
pensamento pragmático, muito pouco reflexivo, e de uma assustadora miopia
quanto ao amor de Deus e sua contextualização bíblica. Ele se utiliza de um
texto ambientado na dispensação da lei, e supõe que a punição à rejeição a
Deus, limita o seu amor, ou impõe finitude à sua misericórdia. Além disso, tenta
introduzir legalismo em ambiente de graça citando um texto em 1 Coríntios[1].
Legalistas adoram uma lei e um rigor a que eles mesmos não dão conta de seguir;
judaizantes. Estou farto de gente se prestando ao papel de guardião da verdade, como se a conhecesse incondicionalmente
e a detivesse.
O Novo Testamento está repleto de
demonstrações de que Deus não desiste de ninguém. E é claro que Ele teria
liberdade soberana para isso, mas não o faz. As parábolas da dracma perdida, da
ovelha perdida e do filho pródigo, encerram plena e perfeitamente esse traço do
amor infinito e incansável de Deus; amor que não se impõe, mas está sempre de
braços abertos a receber todo e qualquer arrependido, seja lá o momento em que
tal arrependimento acontecer, ou depois de quantos arrependimentos ocorrer. Até
setenta vezes sete, lembram-se? Não há limites para o amor, perdão e
reconciliação.
Aqui alguém poderá me interpelar,
sacando como pretenso argumento incontestável, o fato de que muita gente se diz arrependido,
mas que tal arrependimento nem é genuíno, e assim vivem se "arrependendo" da boca para fora,
achando que podem brincar com Deus. É claro que isso acontece aos milhões. Mas
tal atitude humana não invalida a imutabilidade do amor de Deus. Se alguém
pensa enganar Deus com atuações teatrais, sinto muito, Ele não se
relaciona com personagens. Mas por outro lado, tal comportamento humano não
provocará a finitude do amor de Deus, e muito menos provocar o seu cansaço em esperar
por quem quer que seja. E é claro que, se mesmo esse contumaz mentiroso,
encenador de arrependimento arrepender-se genuinamente, Deus que sonda os
corações e enxerga até onde não podemos enxergar, poderá e irá perdoá-lo. Seu
amor não tem fim; não pode negar-se a si mesmo. Deus é amor.
Na contramão do que o autor tenta passar como verdade insofismável, de que se Deus não desistisse de nós, abriria brecha para uma vida de pecado contumaz, Paulo, em sua carta aos Romanos, afirma que uma vez livres do pecado, fomos feitos servos da justiça. Servos aqui não é escravo no sentido de subjugado, mas de serviçal, no sentido de quem vive a serviço da justiça de Deus. Ora, em sua primeira carta, o chamado apóstolo do amor, João, afirma que os filhos de Deus não vivem pecando. E a razão disso é simples; não temos prazer nisso, porque pelo poder do Espirito Santo que habita em nós, passamos a viver realizando, preferível e prazerosamente a vontade de Deus, perseguindo a santidade, e buscando sempre agradar o coração de Deus. E mais; nós temos a mente de Cristo.
Há, na verdade, um perigoso hábito legalista diluído nessas afirmações; a de que precisamos criar certos terrorismos em nossa pregação, de modo a provocar a sensação de que não se pode brincar com Deus. É claro que não se brinca com Deus. E não só isso, mas tenho a certeza de que Ele conhece tais brincalhões. Mas isso não nos habilita a distorcer os atributos de seu amor, em favor de um discurso que tenta dar uma mãozinha a Deus, em sua presumida tarefa de admoestar as pessoas quanto aos rigores de sua lei, ou "limites" de sua paciência. Alguém considera imperfeito ou mesmo insuficiente o trabalho realizado pelo Espírito de Deus no convencimento do pecado, da justiça e do juízo? Ou não dizia Paulo que nem por força e nem por violência, mas pelo Espírito de Deus. Convencimento algum será maior ou mais genuíno, se dermos, por nossa conta, uma pitada de medo e terror.
O amor de Deus não desiste de ninguém. "Aquele que vem a mim, de maneira nenhuma o lançarei fora". Novamente é preciso lembrar que Deus sonda os corações. Ele conhece a sinceridade de todos os nossos atos; não se deixaria enganar por quem quer que fosse.
- Ah! Mas e se alguém se utilizar do infinito amor de Deus, e achar então que pode pecar à vontade, que depois é só se arrepender que estará tudo certo, perguntaria alguém. Ora, se alguém acha que pode fazer isso, primeiro, nunca conheceu Deus, seu amor ou mesmo a sua graça. Pois quem, sinceramente constrangido pelo amor de Deus e salvo por sua graça, pensaria aproveitar-se da graça para sua própria recreação? Outra vez, os filhos de Deus não vivem pecando. Não têm prazer no pecado. E segundo, ainda que alguém se pretenda a isso, ainda assim o amor de Deus não se tornaria finito, apenas para impedir que seja usurpado por algum espertalhão. Nesse caso ele não terá perdão, não porque o amor de Deus tem limite, mas porque não se arrependeu genuinamente; mas a Deus pertence sondar e julgar tal coração, e então conceder ou não seu perdão.
O que mais me assusta nisso tudo, é a imaginação de que os imutáveis atributos de Deus podem ser manipulados em suas essências, amplitudes ou aplicações, conforme suposta necessidade de tornar mais contundente a pregação do evangelho, ou mais firme e segura a realidade de que sem fé é impossível agradar a Deus. Ora, ao fazermos isso não estamos alterando o conteúdo bíblico? Não estamos distorcendo a Palavra para atender nossas conveniências, por mais probas e bem-intencionadas pudessem parecer? Deus não muda o que é, para atender nossa necessidade de fazê-lo parecer com nossos impulsos humanos, ou para adequar-se a nossos pressupostos rigores muito mais adequados e firmes; há quem pense que Deus, na graça, ficou bonzinho demais com o pecador. - Ah! Se eu fosse Deus. Ou ainda. - Ah! Se Deus fosse como eu. A pregação do medo não opera o poder de Deus.
Por último, ainda se poderia perguntar: Mas não pode alguém achar que, já que temos a graça, podemos errar? Ora, para pensar isso é preciso achar que a graça compactua com o pecado. Pior. Quem assim entende, imagina que a lei é mais eficaz para colocar a humanidade na linha. E se alguém então pensa assim, faz-se igual aos judaizantes tão combatidos pelo apóstolo Paulo, e não entendeu até hoje o evangelho. Porque "ouviste o que foi dito... Eu porém vos digo". No conhecido Sermão da Montanha, Jesus desconstruiu a ideia da lei formal, que tinha ênfase na aparência, e implantou a ideia de que o essencial era muito mais importante, sendo tão mais condenador do que o aparente; a incompreensão de Nietzsche.
Portanto, mesmo que a graça seja ainda mais profunda e reveladora do coração humano, ela é a expressão do amor ilimitado de Deus, que acolherá e perdoará todo aquele que genuinamente se arrepender. E se alguém não se arrepender legitimamente, desse amor e dessa graça não se tornará participante. Simples assim. Aliás, simples como tudo no reino de Deus. Mas nós estamos sempre achando que podemos dar um toque pessoal e melhorar o que Deus já fez. Aliás, querer ser igual a Deus em possibilidades e julgamentos, sempre nos colocou em graves apuros.
domingo, 25 de setembro de 2016
Doação, sentido da vida
"16
Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e nós devemos
dar a vida pelos irmãos. 17 Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitando, lhe
fechar o seu coração, como permanece nele o amor de Deus? 18 Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obras e em
verdade.
1 João 3:16-18
Por Jânsen
Leiros Jr.
Não há como negar. Volta
e meia ao longo de nossa vida, por diversos motivos, somos levados a fazer-nos
uma íntima e inquietante pergunta: pra quê tudo isso? Seja diante de dificuldades
nos relacionamentos, seja diante das perdas materiais ou afetivas, ou ainda por
conta de insucessos profissionais ou financeiros, a busca por um sentido
que seja transcendente a todas as oscilações circunstanciais da vida, segue
como a meta mais legítima e ao mesmo tempo mais desafiadora para a alma humana.
Nesse encapelado mar de
ideias, impulsos e reações, um propósito para a vida funciona como uma âncora
que pode firmar-nos em conceitos e princípios inegociáveis, que nos impeçam de
vagar à deriva, jogados por tempestades de emoções imprevisíveis. Um sentido
para a vida define a rota, permitindo que saibamos o caminho, não obstante
qualquer desventura.
Quando falamos de sentido
para a vida, não falamos de objetivos, alvos ou metas. Essas coisas, obviamente
importantes, não são o sentido da vida. Todos queremos ser felizes. Todos
queremos vivenciar relacionamentos afetivos bem-sucedidos, ou ainda ter uma
vida tranquila. Esses alvos ou objetivos, como queiram chamar, são obviamente importantes
e louváveis, mas não são o propósito.
Analisando tais metas de
vida, quem pode dizer que estejam errados? Certamente qualquer um apreciará
quem elencar esses alvos como objetivos de vida, e como sendo o lugar
onde pretende chegar em sua caminhada. E isso é extremamente bem-vindo. Aliás,
o fato de possuirmos em quase a totalidade na humanidade os mesmos objetivos de
vida, por si só já os legitima como aceitáveis, probos e preferíveis.
Acontece que ter alvos
definidos diante dos olhos, não garante ao arqueiro que os irá atingir. É
preciso ter um sentido, um propósito. É preciso definir a estratégia, o modo de
ir até o seu destino. Ao arqueiro será necessário definir a trajetória da
flecha, assim como ao navegante ajustar a rota até o ponto de chegada. O
sentido da vida é o que determina como eu vou até onde eu quero chegar.
"
12
tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério,
para edificação do corpo de Cristo; 13 até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho
de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo;
14 para que não mais sejamos meninos,
inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência
dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro; 15 antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça,
Cristo,
Efésios 4:12-15
Como cristãos que somos,
nossa meta primordial na vida é nos tornarmos iguais a Cristo; nosso alvo por
excelência. Mas é preciso ressaltar que para atingirmos esse objetivo, precisaremos
de propósitos firmes e transformações convincentes, que se farão o caminho que
nos levará ao destino tão pretendido; a imagem de Cristo em nós.
Ora, se Deus é amor,
logo o amor é sua forma de existir. Amar é a vida de Deus. E se a doação é a
forma invariável como realiza seu amor para com a humanidade[1],
a doação é a maneira com que a essência amorosa de Deus melhor se revela para nós.
Deus é um doador por excelência e a doação é o seu amor em ação. Deus
doa desde o princípio. Dando de si criou os céus, a terra e tudo o que neles há.
Doando de si mesmo formou tudo o que trouxe à existência.
Ao doar-nos tudo e
tantas coisas, o próprio Deus nos doou o próprio sentido da vida, elaborando um
propósito que se sustenta sobre tudo o que Ele mesmo nos deu. Foi assim que
ganhamos vida plena e vida em abundância[2].
A vida plena é aquela capaz de desenvolver todas as suas possibilidades em
todos as abrangências em que tal vida atua. A vida plena é uma vida que se
realiza. E essa realização é tanta, que sobeja, sobra, transborda. É uma vida
abundante porque não se cabe. E por não se caber se doa. Por isso doamos vida. Porque
a temos além do que podemos viver.
O Deus doador doou-nos também
o seu Espírito, e isso é extremamente revelador de sua vontade, e esta em relação
a um propósito de vida. Sim, porque Aquele que vivia nos céus e visitava
a humanidade conforme relatos do Antigo Testamento, e que durante o ministério
de Jesus esteve habitando entre nós, segundo os evangelhos, por seu Espírito
fez de nós sua morada, vivendo em nós. Ora, isso não pode significar outra
coisa senão que Deus vive através de nós. Não dissemos nós que ser pai é ter o
coração batendo fora do corpo, em outros corpos, nos corpos de nossos filhos? A
exemplo de Deus, doar de nós mesmos ao próximo é viver nele nossa vida
transbordante.
Entre outras tantas
coisas doadas por Deus à humanidade, está a sua Palavra, escrita e encarnada,
ensinando e instruindo, admoestando e provocando cada indivíduo a uma vida de
santidade e devoção por gratidão; Ele nos amou primeiro[3].
E por isso deu-nos sua Palavra encarnada, resgatadora e salvadora de todo
aquele que nela crê[4].
Não a compramos. Não demos nada em troca. Foi-nos tudo doado por amor; vida,
Palavra, salvação. Não vem de vós, diz o texto de Efésios, é dom de
Deus. Não vem dos homens para que ninguém se glorie[5].
Em Deus podemos viver
vida santa e reta, em total dedicação ao seu reino e devoção à sua glória. Nesse
propósito de vida encontramos satisfação e contentamento, pois n’Ele podemos
todas as coisas, inclusive passarmos pelas piores condições de existência[6].
Quando o sentido da vida descansa em tudo aquilo que Deus doou, vivemos
contentes porque não olhamos circunstâncias nem situações fugazes. Mesmo que vantajosas;
não me guio por vista dizia a canção. Grato a Deus pelas promessas que nos
orientam a uma relação íntima com Ele, sabemos que podemos dar sem medo; seu cuidado
nos sustenta e seu amor não falha. Fiel é Deus, em quem não há sombra de variação[7].
Nosso trabalho não é vão no Senhor[8].
Portanto, a doação é a
forma mais contundente e inegável de nos assemelharmos a Deus. Ao doarmos
replicamos a atitude divina de constante doação em amor. E se o propósito da
vida é chegar à sua imagem e semelhança, a doação é o grande sentido de nossas
vidas. Deus é doador, e importa que os verdadeiros adoradores vivam em espírito
de doação.
Veja também o artigo A vida pode ter sentido;
sábado, 10 de setembro de 2016
Eu, Tio Patinhas e o dízimo
Por
Jânsen
Leiros Jr.
"8 Pode um ser humano
roubar algo de Deus? No entanto estais me roubando! E ainda ousam questionar:
‘Como é que te roubamos?’ Ora, nos dízimos e nas ofertas! 9 Estais debaixo de grande
maldição, porquanto me roubais; a nação toda está me roubando. 10 Trazei, portanto, todos
os dízimos ao depósito do Templo, a fim de haja alimento em minha Casa, e
provai-me nisto”, assegura o SENHOR dos Exércitos, “e comprovai com vossos
próprios olhos se não abrirei as comportas do céu, e se não derramarei sobre
vós tantas bênçãos, que nem conseguireis guardá-las todas. 11 Também impedirei que
pragas devorem as vossas colheitas, e as videiras nos campos não perderão o seu
fruto!”, promete Yahweh dos Exércitos. 12 “E todas as nações vos chamarão ‘âshar, bem-aventurados;
porque a vossa terra será maravilhosa!”, promete o SENHOR dos Exércitos.
Malaquias 3:8-12 - KJA
Se tem um assunto polêmico e
extremamente controverso em nosso meio, é o que trata de dinheiro. Toda vez que
lideranças tocam no assunto, ou toda vez que pastores conclamam suas assistências
a entregarem seus dízimos e suas ofertas, há em grande parte da plateia, ou
mesmo entre os que assistem aos cultos pela TV ou pela internet, um enorme e
incômodo desconforto.
Essa polêmica varia em grau conforme o perfil
e origem da plateia, mas sempre é polêmica. Há muitos que encobrem suas posições
contrárias, e outros que, por medo da avaliação de terceiros, agem conforme a
maioria e seguem o fluxo da manada
que vai para lá e para cá, muitas vezes sem qualquer sintoma genuíno de aceitação.
Já que é para fazer, façamos.
Talvez, por essa razão, me chovam
perguntas sobre dízimo e sua pertinência, sobre ofertas e sua necessidade no
mundo pós Novo Testamento. Sempre me deparo com gente querendo legitimar sua
vontade de reter consigo, o que se vê obrigado a dar. E por isso tentam
encontrar, desesperadamente, alguém que lhes indique um caminho para a negação.
Porém, mais do que um presumido contexto neotestamentário, o que mais provoca a
inquietação com esse assunto está muito mais afeto à ligação que cada indivíduo
desenvolve com o dinheiro em seu íntimo.
Num mundo em que tudo é relativo,
obrigações e costumes seguem se alternando como legítimos e improcedente,
atuais ou caducos, gerando sempre questionamentos sobre aplicabilidades e usos.
E com o assunto dinheiro na igreja não poderia ser diferente. Afinal de contas,
perguntou um leitor essa semana: o dízimo é ou não uma obrigação?
Por um momento, e para evitar o embate
desde o primeiro parágrafo da resposta, vamos deixar temporariamente a palavra
obrigação de lado e vamos tecer comentários sobre uma ótica alternativa; porém,
bastante interessante, acredito. Sim, porque se tem uma coisa que no reino de
Deus parece ter caído em desuso é a obrigação
como ato aparente de cumprimento a um rito; esse
povo honra-me com seus lábios, mas seu coração está longe de mim. No reino
de Deus há um abandono ao que é aparente, e uma extrema valorização do que é
essencial. O conhecido Sermão da Montanha traduz isso maravilhosamente bem.
Sendo assim, prefiro encarar o dízimo
como um ato de adoração e desafio de fé, como desafiado foi o povo de Israel na
passagem de Malaquias acima. Dízimo é adoração porque é desprendimento. Sou eu
dizendo para mim mesmo que posso entregar o que recebi, porque por ação e
cuidado de Deus haverá sustento, ainda que a princípio tal parcela pudesse
fazer falta em meu orçamento doméstico. E o tamanho dessa entrega varia
conforme o orçamento, porque muito ou
pouco, a décima parte de alguma coisa
será sempre a décima parte dessa mesma coisa. Assim, aquele que é fiel no que é
pouco também o será no que for muito. Quando dizimista, ninguém o é
mais ou menos do que ninguém. Deus não
faz acepção de pessoas. Todo dizimista é igual.
A literatura infanto-juvenil nos
empresta um personagem ideal para o debate sobre dinheiro: Tio Patinhas. Amante
do dinheiro, ele é a imagem do avarento que só acredita no poder do dinheiro
para a movimentação e validação de tudo na vida. E por pensar assim, ele se
torna um acumulador contumaz, crendo que quanto mais dinheiro retiver, maiores
serão suas chances e possibilidades de ter o que pretende. Dar ou doar, são
palavras abomináveis para qualquer avarento acumulador.
Quando entregamos o dízimo, não
cumprimos uma obrigação tão somente. Damos um passo de fé, crendo que nosso
sustento e a nossa vida cotidiana não dependem da décima parte do que ganho,
porque quem me supre a vida pode muito mais do que essa décima parte. Está aí
implícito um belo e delicioso exercício de fé. Ora, se acreditamos em milagres
e curas, se cremos em salvação pela graça, onde eu nada faço por merecê-la,
como não creio que Deus me sustentará ainda que com dez por cento menos na
minha renda? Será que por ser o bolso a parte mais sensível do corpo humano é
que pensamos assim?
Dízimo, assim, é adoração. É honra a
Deus em exercício de fé. É a superação íntima de se crer no que se tem, para
crer em quem nos tem. Dízimo é entrega e rendição. Porque tudo com o que mais nos
importa na vida, quase sempre está ligado àquilo com o que mais gastamos tempo
e dinheiro. Por isso dízimo precisa ser prazer e alegria. Aliás, Deus ama o que
dá com alegria. Deus ama um coração doador.
Quando colocamos o dízimo como obrigação,
colocamos nele um peso de culpa e medo. E o medo não é perfeito em amor. Dízimo
é privilégio de quem devolve a Deus por exercício de gratidão, parte de tudo
aquilo que Deus já nos deu. Dízimo, portanto, não é barganha. Eu não dou para poder
receber. Eu apenas devolvo por fé parte daquilo que já recebi. Dízimo é
testemunho de bênção. Se Deus é doador, importa
que seus adoradores o adorem doando e doando-se.
Existe sim um mistério nesse processo de
doação, de entrega, e de obediência em fé. Quanto mais me entrego e me doo, mais
recebo para mais doar e me entregar. É como um canal de fluxo de enchente e
vazante, que se alternam ao sabor da vontade daquele que é o dono de todas as
coisas. Quanto mais doamos mais parecidos com Deus ficamos, porque Ele é o
doador por excelência. Fez isso com a vida, repetiu doando-se na salvação, e
seguirá doando vida na ressurreição e pela eternidade afora. Ele dá sem nada
pedir em troca. Há, sim, quem não queira receber. Mas ninguém precisa fazer
nada para receber o que já está dado. Com Deus não há barganha. Ele não vende
nem troca; dá!
O dízimo é um prazer.
Leia também: Quando suas posses expressam amor - http://teologandoso.blogspot.com.br/2015/09/quando-suas-posses-expressam-amor.html
segunda-feira, 15 de agosto de 2016
Quem tem medo de ser rico?
Por
Jânsen
Leiros Jr.
"Jansen não precisa responder agora, quando puder.
Na tua concepção, diante de tudo que já viu e ouviu, a
palavra de Deus diz: "Que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma
fechadura do que um rico entrar no reino dos céus.
Analisando esta palavra, você acha que muitas pessoas não
ficam ricas em virtude de Deus não permitir, pois Deus sabe que perderia esta
pessoa para a riqueza?
Qual a tua opinião sobre este assunto?”
Pergunta encaminhada por Whatsapp
"16 E eis que se
aproximou dele um jovem, e lhe disse: Mestre, que bem farei para conseguir a
vida eterna? 17 Respondeu-lhe ele: Por que me perguntas sobre o que é bom?
Um só é bom; mas se é que queres entrar na vida, guarda os mandamentos. 18 Perguntou-lhe ele:
Quais? Respondeu Jesus: Não matarás; não adulterarás; não furtarás; não dirás
falso testemunho; 19 honra a teu pai e a tua mãe; e amarás o teu próximo como a
ti mesmo. 20 Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado; que me falta
ainda? 21 Disse-lhe Jesus: Se
queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um
tesouro no céu; e vem, segue- me. 22 Mas o jovem, ouvindo essa palavra, retirou-se triste;
porque possuía muitos bens. 23 Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo
que um rico dificilmente entrará no reino dos céus. 24 E outra vez vos digo que
é mais fácil um camelo passar pelo fundo duma agulha, do que entrar um rico no
reino de Deus. 25 Quando os seus discípulos ouviram isso, ficaram grandemente
maravilhados, e perguntaram: Quem pode, então, ser salvo? 26 Jesus, fixando neles o
olhar, respondeu: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível.”
Mateus 19:16-24
Antes de seguir com qualquer resposta, é
muito importante entendermos o que Jesus está falando exatamente, ao afirmar
ser mais fácil um camelo passar pelo
buraco de uma agulha, do que um rico entrar no reino dos céus. É muito
comum e natural que, ao ouvirmos essa expressão, nossa imaginação nos remeta à
cena de um camelo tentando, sem sucesso, passar pelo buraco de uma agulha de
costura, como aquelas que nossas avós usavam para fazer bainha, pregar botão, e
outros ajustes diversos. Mas não, não é dessa agulha que Jesus está falando.
Antes de falarmos da agulha propriamente
dita, é importante atentar para um princípio lógico na colocação de Jesus. Ele
não disse ser impossível um rico
entrar no reino dos céus. Apenas demonstrou ser mais difícil do que o camelo passar. Ou seja, se ele se referisse a
uma agulha de costura, estaria falando no impossível
e não do mais difícil. Logo, ainda
que não se conheça exatamente de qual agulha fala Jesus nessa passagem,
obviamente não poderia ser da agulha que conhecemos comumente.
As agulhas, como podemos ver na
ilustração, eram espaços apertados e baixos, que serviam de entrada alternativa
na cidade murada. Para passar por essas passagens conhecida como agulhas, era
necessário retirar do camelo toda a carga que ele trazia. Além disso o animal
precisava ser conduzido com cuidado, abaixando-o pela estreita a baixa
abertura. Mas há controvérsias a esse respeito[1].
Na verdade, a teoria certa pouco importa,
porque analisando o contexto em que a afirmação é proferida, fica muito claro
que Jesus está se referindo às dificuldades que a pessoa rica tem em se
despojar de tudo isso para se entregar ao domínio-reino de Deus, acostumada que
está ao conforto e ao acesso a bens e serviços que o dinheiro pode
proporcionar. O homem rico precisaria desfazer-se das garantias que acreditava
ter por conta de suas posses, para aprender a viver apenas da fé no sacrifício
do Cordeiro. Afinal, onde estiver o seu
tesouro, ali estará também o seu coração[2].
De modo que a preocupação de Jesus não é
com o ter, mas sim com o ser. Não há nada de errado em ter dinheiro e poder usufruir do que ele
pode proporcionar, mas há tudo de errado em ser
dependente das condições e garantias que tal pode dar, como falsa sensação de
segurança e bem-estar. Louco, hoje te
pedirão a sua alma[3].
Isso posto, voltemos à sua questão, onde
Deus poderia impedir algumas pessoas de ficarem ricas, para não perdê-las para
o dinheiro, uma vez que por sua onisciência sabe se esse ou aquele indivíduo o
trocará pelo dinheiro e suas benesses. Essa me parece uma conjectura estranha,
porque se Deus é capaz de impedir a riqueza para manter a lisura espiritual de
uma pessoa, não seria também possível a Deus impedir que houvesse qualquer
variação de devoção dessa mesma pessoa ao se tornar rica? Ou ainda, considerando
que uma maioria esmagadora dos cristãos não possui riqueza alguma, estaria Deus
segurando a riqueza de uma tão grande quantidade de gente, que não pode
enriquecer porque senão se perderiam na fé?
Me parece curioso que Deus assim fizesse,
sendo essa a sua lógica. Porque se para impedir o pecado do homem, ele
impedisse uma ou outra condição ou circunstância que pudesse representar tal
perigo, ele não teria posto a árvore do conhecimento do bem e do mal no Jardim
do Éden. Ora, assim procedendo, o homem, em tese, não pecaria e estaríamos
vivendo até hoje no Jardim do Éden.
A lógica que você imagina poder
utilizar, é uma armadilha maniqueísta, que tenta encontrar respostas
sustentáveis e nobres, para circunstâncias causadas por atitudes nem sempre tão
probas assim. Há diversas causas para a não
riqueza. Muito mais inclusive do que para a riqueza. Origem familiar, condições
de estudos, oportunidades, capacidade profissional individual, empenho,
determinação, inteligência, equilíbrio emocional, entre outras. Muitas são as
causas possíveis de alguém não atingir a riqueza.
Mas note, não estou querendo dizer com
isso que o Senhor não possa realizar em nossas vidas como bem entender.
Evidente que sim. Mas me parece pouco provável que sua lógica fosse a sugerida
por você, pois ela feriria um princípio básico da relação do homem com Ele
mesmo; a liberdade de escolha. Pois que relação se legitimaria sem qualquer
opção de não relação? Se Deus
impedisse a riqueza para evitar perder o indivíduo para ela, ele igualmente
impediria toda sorte de circunstâncias que nos cercam e nos seduzem, nos
induzindo ao pecado e a nos afastarmos de Deus. Seríamos por assim dizer, como
robôs ou fantoches.
A verdade é que as circunstâncias pouco
importam para a relação com Deus. Seja riqueza ou pobreza, seja tranquilidade
ou angústia, toda e qualquer condição humana precisa ser entendida como finita
e temporal, produzindo no indivíduo a certeza de sua pequenez diante da
grandeza do amor de Deus e do seu cuidado. Qualquer que seja sua condição, o
indivíduo precisa caminhar na direção da dependência de Deus, seja por saber
que tudo o que tem não o pode garantir, seja para saber que o Senhor poderá
sempre lhe suprir, por maior e mais profunda seja sua pobreza.
Quer tenhamos dinheiro quer não, sejamos
sempre dependentes de Deus
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