sábado, 10 de setembro de 2016

Eu, Tio Patinhas e o dízimo


Por Jânsen Leiros Jr.


"8 Pode um ser humano roubar algo de Deus? No entanto estais me roubando! E ainda ousam questionar: ‘Como é que te roubamos?’ Ora, nos dízimos e nas ofertas! 9 Estais debaixo de grande maldição, porquanto me roubais; a nação toda está me roubando. 10 Trazei, portanto, todos os dízimos ao depósito do Templo, a fim de haja alimento em minha Casa, e provai-me nisto”, assegura o SENHOR dos Exércitos, “e comprovai com vossos próprios olhos se não abrirei as comportas do céu, e se não derramarei sobre vós tantas bênçãos, que nem conseguireis guardá-las todas. 11 Também impedirei que pragas devorem as vossas colheitas, e as videiras nos campos não perderão o seu fruto!”, promete Yahweh dos Exércitos. 12 “E todas as nações vos chamarão ‘âshar, bem-aventurados; porque a vossa terra será maravilhosa!”, promete o SENHOR dos Exércitos.
Malaquias 3:8-12 - KJA

Se tem um assunto polêmico e extremamente controverso em nosso meio, é o que trata de dinheiro. Toda vez que lideranças tocam no assunto, ou toda vez que pastores conclamam suas assistências a entregarem seus dízimos e suas ofertas, há em grande parte da plateia, ou mesmo entre os que assistem aos cultos pela TV ou pela internet, um enorme e incômodo desconforto.

Essa polêmica varia em grau conforme o perfil e origem da plateia, mas sempre é polêmica. Há muitos que encobrem suas posições contrárias, e outros que, por medo da avaliação de terceiros, agem conforme a maioria e seguem o fluxo da manada que vai para lá e para cá, muitas vezes sem qualquer sintoma genuíno de aceitação. Já que é para fazer, façamos.

Talvez, por essa razão, me chovam perguntas sobre dízimo e sua pertinência, sobre ofertas e sua necessidade no mundo pós Novo Testamento. Sempre me deparo com gente querendo legitimar sua vontade de reter consigo, o que se vê obrigado a dar. E por isso tentam encontrar, desesperadamente, alguém que lhes indique um caminho para a negação. Porém, mais do que um presumido contexto neotestamentário, o que mais provoca a inquietação com esse assunto está muito mais afeto à ligação que cada indivíduo desenvolve com o dinheiro em seu íntimo.

Num mundo em que tudo é relativo, obrigações e costumes seguem se alternando como legítimos e improcedente, atuais ou caducos, gerando sempre questionamentos sobre aplicabilidades e usos. E com o assunto dinheiro na igreja não poderia ser diferente. Afinal de contas, perguntou um leitor essa semana: o dízimo é ou não uma obrigação?

Por um momento, e para evitar o embate desde o primeiro parágrafo da resposta, vamos deixar temporariamente a palavra obrigação de lado e vamos tecer comentários sobre uma ótica alternativa; porém, bastante interessante, acredito. Sim, porque se tem uma coisa que no reino de Deus parece ter caído em desuso é a obrigação como ato aparente de cumprimento a um rito; esse povo honra-me com seus lábios, mas seu coração está longe de mim. No reino de Deus há um abandono ao que é aparente, e uma extrema valorização do que é essencial. O conhecido Sermão da Montanha traduz isso maravilhosamente bem.

Sendo assim, prefiro encarar o dízimo como um ato de adoração e desafio de fé, como desafiado foi o povo de Israel na passagem de Malaquias acima. Dízimo é adoração porque é desprendimento. Sou eu dizendo para mim mesmo que posso entregar o que recebi, porque por ação e cuidado de Deus haverá sustento, ainda que a princípio tal parcela pudesse fazer falta em meu orçamento doméstico. E o tamanho dessa entrega varia conforme o orçamento, porque muito ou pouco, a décima parte de alguma coisa será sempre a décima parte dessa mesma coisa. Assim, aquele que é fiel no que é pouco também o será no que for muito. Quando dizimista, ninguém o é mais ou menos do que ninguém. Deus não faz acepção de pessoas. Todo dizimista é igual.

A literatura infanto-juvenil nos empresta um personagem ideal para o debate sobre dinheiro: Tio Patinhas. Amante do dinheiro, ele é a imagem do avarento que só acredita no poder do dinheiro para a movimentação e validação de tudo na vida. E por pensar assim, ele se torna um acumulador contumaz, crendo que quanto mais dinheiro retiver, maiores serão suas chances e possibilidades de ter o que pretende. Dar ou doar, são palavras abomináveis para qualquer avarento acumulador.

Quando entregamos o dízimo, não cumprimos uma obrigação tão somente. Damos um passo de fé, crendo que nosso sustento e a nossa vida cotidiana não dependem da décima parte do que ganho, porque quem me supre a vida pode muito mais do que essa décima parte. Está aí implícito um belo e delicioso exercício de fé. Ora, se acreditamos em milagres e curas, se cremos em salvação pela graça, onde eu nada faço por merecê-la, como não creio que Deus me sustentará ainda que com dez por cento menos na minha renda? Será que por ser o bolso a parte mais sensível do corpo humano é que pensamos assim?

Dízimo, assim, é adoração. É honra a Deus em exercício de fé. É a superação íntima de se crer no que se tem, para crer em quem nos tem. Dízimo é entrega e rendição. Porque tudo com o que mais nos importa na vida, quase sempre está ligado àquilo com o que mais gastamos tempo e dinheiro. Por isso dízimo precisa ser prazer e alegria. Aliás, Deus ama o que dá com alegria. Deus ama um coração doador.

Quando colocamos o dízimo como obrigação, colocamos nele um peso de culpa e medo. E o medo não é perfeito em amor. Dízimo é privilégio de quem devolve a Deus por exercício de gratidão, parte de tudo aquilo que Deus já nos deu. Dízimo, portanto, não é barganha. Eu não dou para poder receber. Eu apenas devolvo por fé parte daquilo que já recebi. Dízimo é testemunho de bênção. Se Deus é doador, importa que seus adoradores o adorem doando e doando-se.
                     
Existe sim um mistério nesse processo de doação, de entrega, e de obediência em fé. Quanto mais me entrego e me doo, mais recebo para mais doar e me entregar. É como um canal de fluxo de enchente e vazante, que se alternam ao sabor da vontade daquele que é o dono de todas as coisas. Quanto mais doamos mais parecidos com Deus ficamos, porque Ele é o doador por excelência. Fez isso com a vida, repetiu doando-se na salvação, e seguirá doando vida na ressurreição e pela eternidade afora. Ele dá sem nada pedir em troca. Há, sim, quem não queira receber. Mas ninguém precisa fazer nada para receber o que já está dado. Com Deus não há barganha. Ele não vende nem troca; dá!

O dízimo é um prazer.


Um comentário:

  1. Excelente reflexão sobre o dízimo.
    Consegui através do que foi colocado aqui, ter uma nova percepção sobre a entrega real do dízimo.

    Obrigado!!!!

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